Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
18/12/2005 - 09h25

Dívida com FMI une e separa Kirchner e Lula

Publicidade

FLÁVIA MARREIRO
da Folha de S.Paulo, em Buenos Aires

Brasil e Argentina decidiram o mesmo nesta semana: pagar o total de suas dívidas ao FMI (Fundo Monetário Internacional). A coincidência acaba aí. O mercado aplaudiu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva -- enquanto o petista amarga o pior resultado nas pesquisas sobre a eleição de 2006.

Já no país vizinho, aumentou a incerteza sobre a economia, mas Néstor Kirchner, que vem de uma vitória eleitoral, capitaliza politicamente o quanto pode.

No caso do mercado, o humor distinto tem razões objetivas. Os chamados fundamentos da economia brasileira são mais sólidos do que os argentinos. Para quitar todo o débito, o Brasil vai dispor de um quarto de suas reservas.

Ainda vão sobrar US$ 51 bilhões nas reservas e um ministro da Fazenda (Antonio Palocci) que, embora sob acusações de corrupção, tem a simpatia dos analistas e segue as indicações do Fundo.

O pagamento ao FMI custará à Argentina a redução de quase um terço de suas reservas (hoje em U$$ 26,7 bilhões) e maior vulnerabilidade externa. O país tem ainda um "imprevisível" Kirchner, que controla, ele próprio, a economia, depois que demitiu do ministério o popular e benquisto no mercado Roberto Lavagna.

"Kirchner se encontra hoje como estava Lula há um ano, depois de um bom resultado eleitoral e sem que previsse a crise de corrupção deste ano", compara Rosendo Fraga, diretor do Centro de Estudos União para a Nova Maioria, que faz análises políticas para o mercado argentino.

No caso de Kirchner, o cálculo para pagar o FMI foi essencialmente interno. Ele chamou uma cerimônia "surpresa" e apareceu em todas as TVs repudiando o FMI na quinta, dois dias depois que o Brasil tomou sua decisão. "Kirchner não quis ficar atrás de Lula nesse tipo de política", diz Fraga. "Não fizemos nenhum barulho, rompemos o acordo porque não precisávamos", disse Lula sobre a decisão de pagar ao FMI, antes do anúncio argentino.

Se o "barulho" da Argentina não agradou aos investidores (a Bolsa caiu e o risco-país subiu na sexta-feira), parece ter funcionado com o público. Em pesquisa feita pelo instituto OPSM com 800 pessoas na quinta e na sexta-feira, 73,7% dos argentinos disseram apoiar o pagamento.

O presidente do instituto, Enrique Zuleta Puceiro, lembra que o presidente argentino tem hoje 74% de apoio da população e viu a derrota de seus adversários na eleição legislativa de outubro.

"Cerca de 32% dos votos foram para Kirchner em outubro, o que não é muito. A diferença é que, ao contrário do que acontece com Lula, todos os seus adversários, à esquerda e à direita, desapareceram eleitoralmente", afirma.

No caso brasileiro, segundo o Datafolha, se as eleições presidenciais fossem hoje, Lula teria 29%, contra 36% do prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB). Num eventual segundo turno, o tucano venceria com 50% dos votos, contra 36% de Lula.

Mas não é o recuo de 1,2% do PIB (Produto Interno Bruto) no terceiro semestre que prejudica Lula, mas a crise política. Na Argentina, que cresceu 9,2% no mesmo período, é a própria economia que pode derrubar Kirchner, se a inflação, que fechará o ano em mais de 11%, não der sinais de estancamento.

Eleição presidencial na Argentina só em 2007, mas a campanha de Kirchner já está na rua. Na sexta, Kirchner voltou a atacar o FMI e falar do crescimento econômico para uma multidão na entrega de casas populares na Grande Buenos Aires.

Embora Rosendo Fraga avalie que o mau humor do mercado com a Argentina terá vida curta, o principal problema ainda pode vir: os credores que continuam sem receber do país vizinho. Há US$ 20 bilhões nas mãos de investidores que não aceitaram a proposta argentina para sair da moratória em fevereiro.

O país de Kirchner também continua sem pagar a outros organismos internacionais, como o Clube de Paris, a quem deve US$ 6 bilhões. "Agora eles podem exigir do país condições mais favoráveis, que, na verdade, o governo não está em condições de dar. Com o pagamento, a Argentina deu ao FMI a condição de credor preferencial", aponta Fraga.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre o FMI
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página