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12/01/2006
-
09h45
SANDRA BALBI
da Folha de S.Paulo
Desde novembro passado, os grandes produtores de frango do país estão segregando a produção e o abate de aves dentro de um mesmo Estado, como forma de prevenção à gripe aviária.
As empresas decidiram agir diante da demora do governo em implementar um plano de prevenção à doença que só hoje --com quase um mês de atraso-- deverá ser aprovado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Sadia e Perdigão, as maiores do setor, suspenderam o trânsito de aves criadas pelos produtores integrados (terceirizados) em um Estado e que eram abatidos nas suas unidades industriais em outro. Agora, o alojamento de pintinhos, a criação e o abate só ocorrem num mesmo Estado.
Dessa forma elas já estão pondo em prática a regionalização da avicultura, cuja espinha dorsal é limitar o trânsito de aves, proposta pelo setor ao Mapa, e que encontrou resistências do quarto escalão do ministério.
"Até 2005 tínhamos incubadoras em Santa Catarina e levávamos os pintinhos para criar no Paraná. Hoje, quase 100% das 6.500 granjas integradas não transitam mais com as aves", diz Osório Dalbello, gerente de tecnologia agropecuária da Sadia.
Os produtores e exportadores de frango estão preocupados com a disseminação da gripe aviária na Ásia, nos EUA e sua chegada na Europa. Na semana passada, cinco pessoas de uma mesma família da Turquia foram contaminadas pela gripe aviária e três crianças morreram.
Ontem, a OMS (Organização Mundial de Saúde) registrou mais duas mortes na China. "A ocorrência de novos casos sempre gera insegurança nos compradores. Quanto mais surtos de gripe aviária ocorrem, mais afeta o nosso risco", diz Ariel Mendes, vice-presidente técnico da UBA (União Brasileira de Avicultores).
Dos grandes produtores mundiais, apenas o Brasil ainda não registrou nenhum surto da doença. O país é o maior exportador de carne de frango, com 2,762 milhões de toneladas em 2005, seguido pelos EUA --que registrou surtos da gripe aviária nos dois últimos anos. As exportações de frango renderam à balança comercial brasileira US$ 3,5 bilhões no ano passado.
Mas, segundo Mendes, o Brasil tem uma grande vulnerabilidade, que é o fato de exportar apenas frango cru --só 1% dos embarques são de carne processada. "Se ocorrer um surto, nossas exportações serão suspensas", diz. Embora a doença não seja transmitida pela ingestão da ave contaminada, os compradores rejeitariam o produto temendo a introdução da doença nos seus países.
Mendes lembra que, quando ocorreu a crise aviária na Tailândia, em 2003, aquele país seguiu exportando carne de frango processada, pois o vírus não sobrevive ao cozimento da carne. Mas no caso brasileiro tal opção não existe. "As grandes empresas do setor estão entrando no mercado de carne processada, mas essa é uma solução de médio prazo para o setor. Nosso grande mercado é o de frango "in natura'", observa.
No curto prazo, os produtores dizem que a regionalização da avicultura, com a proibição do trânsito de aves de um Estado para outro, é a melhor forma de prevenir a doença. "Cada Estado seria considerado um país, se houver um surto o Estado é isolado", diz Mendes.
Burocracia
Tal medida, entretanto, é considerada inviável pelo Ministério da Agricultura na forma proposta pela UBA. "Não temos base legal para impedir o trânsito das aves. Poderíamos ter problemas com a Organização Mundial de Saúde Animal e despertar a suspeita de que existem focos da doença no país", diz Luiz Cláudio Coelho, fiscal da Coordenadoria Sanitária Avícola do Mapa.
Para o presidente da Abef (Associação Brasileira dos Exportadores de Frangos), Ricardo Gonçalves, a resistência dos técnicos foi uma ducha de água fria no setor. "Eles estão reabrindo a discussão sobre a regionalização que já havia sido encerrada em dezembro", observa.
Segundo Coelho, o plano de prevenção contemplará outras medidas como o cadastramento de todas as granjas, que passarão a ser monitoradas por satélite, e o levantamento soroepidemiológico dos frangos em todo país.
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da Folha de S.Paulo
Desde novembro passado, os grandes produtores de frango do país estão segregando a produção e o abate de aves dentro de um mesmo Estado, como forma de prevenção à gripe aviária.
As empresas decidiram agir diante da demora do governo em implementar um plano de prevenção à doença que só hoje --com quase um mês de atraso-- deverá ser aprovado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Sadia e Perdigão, as maiores do setor, suspenderam o trânsito de aves criadas pelos produtores integrados (terceirizados) em um Estado e que eram abatidos nas suas unidades industriais em outro. Agora, o alojamento de pintinhos, a criação e o abate só ocorrem num mesmo Estado.
Dessa forma elas já estão pondo em prática a regionalização da avicultura, cuja espinha dorsal é limitar o trânsito de aves, proposta pelo setor ao Mapa, e que encontrou resistências do quarto escalão do ministério.
"Até 2005 tínhamos incubadoras em Santa Catarina e levávamos os pintinhos para criar no Paraná. Hoje, quase 100% das 6.500 granjas integradas não transitam mais com as aves", diz Osório Dalbello, gerente de tecnologia agropecuária da Sadia.
Os produtores e exportadores de frango estão preocupados com a disseminação da gripe aviária na Ásia, nos EUA e sua chegada na Europa. Na semana passada, cinco pessoas de uma mesma família da Turquia foram contaminadas pela gripe aviária e três crianças morreram.
Ontem, a OMS (Organização Mundial de Saúde) registrou mais duas mortes na China. "A ocorrência de novos casos sempre gera insegurança nos compradores. Quanto mais surtos de gripe aviária ocorrem, mais afeta o nosso risco", diz Ariel Mendes, vice-presidente técnico da UBA (União Brasileira de Avicultores).
Dos grandes produtores mundiais, apenas o Brasil ainda não registrou nenhum surto da doença. O país é o maior exportador de carne de frango, com 2,762 milhões de toneladas em 2005, seguido pelos EUA --que registrou surtos da gripe aviária nos dois últimos anos. As exportações de frango renderam à balança comercial brasileira US$ 3,5 bilhões no ano passado.
Mas, segundo Mendes, o Brasil tem uma grande vulnerabilidade, que é o fato de exportar apenas frango cru --só 1% dos embarques são de carne processada. "Se ocorrer um surto, nossas exportações serão suspensas", diz. Embora a doença não seja transmitida pela ingestão da ave contaminada, os compradores rejeitariam o produto temendo a introdução da doença nos seus países.
Mendes lembra que, quando ocorreu a crise aviária na Tailândia, em 2003, aquele país seguiu exportando carne de frango processada, pois o vírus não sobrevive ao cozimento da carne. Mas no caso brasileiro tal opção não existe. "As grandes empresas do setor estão entrando no mercado de carne processada, mas essa é uma solução de médio prazo para o setor. Nosso grande mercado é o de frango "in natura'", observa.
No curto prazo, os produtores dizem que a regionalização da avicultura, com a proibição do trânsito de aves de um Estado para outro, é a melhor forma de prevenir a doença. "Cada Estado seria considerado um país, se houver um surto o Estado é isolado", diz Mendes.
Burocracia
Tal medida, entretanto, é considerada inviável pelo Ministério da Agricultura na forma proposta pela UBA. "Não temos base legal para impedir o trânsito das aves. Poderíamos ter problemas com a Organização Mundial de Saúde Animal e despertar a suspeita de que existem focos da doença no país", diz Luiz Cláudio Coelho, fiscal da Coordenadoria Sanitária Avícola do Mapa.
Para o presidente da Abef (Associação Brasileira dos Exportadores de Frangos), Ricardo Gonçalves, a resistência dos técnicos foi uma ducha de água fria no setor. "Eles estão reabrindo a discussão sobre a regionalização que já havia sido encerrada em dezembro", observa.
Segundo Coelho, o plano de prevenção contemplará outras medidas como o cadastramento de todas as granjas, que passarão a ser monitoradas por satélite, e o levantamento soroepidemiológico dos frangos em todo país.
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