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12/02/2006
-
10h05
FABÍOLA SALANI
da Folha de S.Paulo
Se depender do diretor-presidente da recém-criada Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), Milton Zuanazzi, 49, as aéreas estrangeiras vão, sim, poder operar trechos nacionais --nas rotas em que a demanda estiver acima da oferta e que as companhias brasileiras não consigam ampliar os assentos disponíveis.
"Essa pode ser uma concessão precária, não precisa ser definitiva, até que as brasileiras consigam ampliar a malha para aquele trecho específico", disse Zuanazzi, aprovado pelo Senado na semana passada e que deve tomar posse em cerca de 20 dias.
À Anac caberão, entre outras funções, conceder, permitir ou autorizar a exploração de serviços aéreos, aeroclubes e aeroportos, fiscalizar segurança de vôo, certificar aeronaves --enfim, tudo o que toca ao setor aéreo, à exceção do espaço aéreo, considerado de segurança nacional. A agência será independente, como o são hoje Anatel, Aneel e outras, mas estará ligada ao Ministério da Defesa.
Atualmente secretário de Políticas de Turismo do Ministério do Turismo, Zuanazzi disse, logo que teve seu nome aprovado, que sua missão seria fazer os aviões voarem cheios. Como faria isso? Com a união do setor e a implementação de políticas de turismo.
Leia a seguir trechos da entrevista concedida na última sexta.
Folha - Quando seu nome foi aprovado para a Anac, o sr. disse que a meta da agência será lotar os aviões. O sr. já tem uma visão de como isso pode ser feito?
Milton Zuanazzi - Acho que o ano de 2005 já mostrou o quanto isso é possível. Tradicionalmente, com o real forte, os brasileiros viajavam muito para fora, mas os estrangeiros não vinham. Neste ano, os brasileiros foram sim muito para fora, mas tivemos um aumento de 16% no receptivo internacional e ainda registramos um acréscimo no interno.
Hoje temos oferta. Temos que articular a busca da demanda. Isso deve ser uma tarefa nova na aviação brasileira comercial. Historicamente, o público das aéreas é essencialmente o corporativo. Mas já vemos exemplos de empresas cá crescendo com um público diferente do viajante de negócios, que não está tirando público de outros, mas trazendo para o mercado novos passageiros. O Brasil tem 190 milhões de habitantes, mas apenas 9 milhões viajam de avião. Há condições de haver mais demanda para o aéreo.
Folha - No ano passado, o DAC barrou a tarifa promocional da Gol. Pouco tempo depois, o Cade julgou e aprovou a promoção. Qual a posição da Anac a esse respeito?
Zuanazzi - Posso falar por mim. Acho que a decisão do Cade foi correta, porque ele não ficou preso no valor de um único bilhete, mas sim quanto do total foi oferecido naquela tarifa. Como eram 2% dos assentos, não podia haver dumping. A agência tem que se preocupar em não permitir concorrência predatória, mas fora isso concorrência é bom.
Folha - Existe algum estudo para liberar às estrangeiras a operação de rotas nacionais? Para que rotas que elas operam hoje, por conta de escalas, possam receber passageiros dentro do país?
Zuanazzi - O ideal é sempre que a sua bandeira opere. Mas, se para determinados destinos não se consegue que nenhuma nacional opere, você pode abrir esse destino a outras bandeiras. Essa é a lógica que me parece que temos que seguir. Sempre em primeiro lugar o interesse nacional. E a autorização pode ser precária, não precisa ser necessariamente definitiva.
Folha - No ano passado, o Brasil cresceu mais do que a média mundial no setor de turismo, mas ainda tem participação ínfima no mercado mundial. Qual o potencial do país e como fazer para alcançá-lo?
Zuanazzi -Primeiramente continuar investindo em promoção. Neste ano devem ser aplicados US$ 100 milhões, equivalente à verba usada pela Espanha para isso. Outro nó está no setor aéreo. Não tem como aumentar o número de estrangeiros vindo para o Brasil sem haver mais assentos em vôos. O grande crescimento vai ter que ser no aéreo. Tem que planejar todas as entradas do Brasil. Aumentar o acesso a mercado norte-americano, que tem crescido pouco no Brasil, especialmente devido à questão do visto e da taxa de US$ 100 que se cobra deles, por causa da reciprocidade, que é uma questão que estamos tentando resolver pela legislação.
Folha - Mas há indicativos de que é um mercado que pode crescer se facilitada a entrada dos turistas?
Zuanazzi - No ano passado, por exemplo, vieram 5 milhões de americanos para a América do Sul, dos quais só 700 mil para o Brasil. É um sinal de que essa questão está criando um impeditivo. O americano que vem hoje ao país é o homem de negócios. A ampla maioria não vem ao Brasil a lazer.
Quanto à outra questão, acho que o Brasil é um país que tem condições de chegar a 20 milhões de estrangeiros. Hoje estamos com 0,8% do fluxo mundial, quando assumimos tínhamos 0,5%. Quando o turismo mundial chegar a 1 bilhão de passageiros, esse número vai representar 2%. Acho que é uma fatia bem plausível para conquistarmos.
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da Folha de S.Paulo
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"Essa pode ser uma concessão precária, não precisa ser definitiva, até que as brasileiras consigam ampliar a malha para aquele trecho específico", disse Zuanazzi, aprovado pelo Senado na semana passada e que deve tomar posse em cerca de 20 dias.
À Anac caberão, entre outras funções, conceder, permitir ou autorizar a exploração de serviços aéreos, aeroclubes e aeroportos, fiscalizar segurança de vôo, certificar aeronaves --enfim, tudo o que toca ao setor aéreo, à exceção do espaço aéreo, considerado de segurança nacional. A agência será independente, como o são hoje Anatel, Aneel e outras, mas estará ligada ao Ministério da Defesa.
Atualmente secretário de Políticas de Turismo do Ministério do Turismo, Zuanazzi disse, logo que teve seu nome aprovado, que sua missão seria fazer os aviões voarem cheios. Como faria isso? Com a união do setor e a implementação de políticas de turismo.
Leia a seguir trechos da entrevista concedida na última sexta.
Folha - Quando seu nome foi aprovado para a Anac, o sr. disse que a meta da agência será lotar os aviões. O sr. já tem uma visão de como isso pode ser feito?
Milton Zuanazzi - Acho que o ano de 2005 já mostrou o quanto isso é possível. Tradicionalmente, com o real forte, os brasileiros viajavam muito para fora, mas os estrangeiros não vinham. Neste ano, os brasileiros foram sim muito para fora, mas tivemos um aumento de 16% no receptivo internacional e ainda registramos um acréscimo no interno.
Hoje temos oferta. Temos que articular a busca da demanda. Isso deve ser uma tarefa nova na aviação brasileira comercial. Historicamente, o público das aéreas é essencialmente o corporativo. Mas já vemos exemplos de empresas cá crescendo com um público diferente do viajante de negócios, que não está tirando público de outros, mas trazendo para o mercado novos passageiros. O Brasil tem 190 milhões de habitantes, mas apenas 9 milhões viajam de avião. Há condições de haver mais demanda para o aéreo.
Folha - No ano passado, o DAC barrou a tarifa promocional da Gol. Pouco tempo depois, o Cade julgou e aprovou a promoção. Qual a posição da Anac a esse respeito?
Zuanazzi - Posso falar por mim. Acho que a decisão do Cade foi correta, porque ele não ficou preso no valor de um único bilhete, mas sim quanto do total foi oferecido naquela tarifa. Como eram 2% dos assentos, não podia haver dumping. A agência tem que se preocupar em não permitir concorrência predatória, mas fora isso concorrência é bom.
Folha - Existe algum estudo para liberar às estrangeiras a operação de rotas nacionais? Para que rotas que elas operam hoje, por conta de escalas, possam receber passageiros dentro do país?
Zuanazzi - O ideal é sempre que a sua bandeira opere. Mas, se para determinados destinos não se consegue que nenhuma nacional opere, você pode abrir esse destino a outras bandeiras. Essa é a lógica que me parece que temos que seguir. Sempre em primeiro lugar o interesse nacional. E a autorização pode ser precária, não precisa ser necessariamente definitiva.
Folha - No ano passado, o Brasil cresceu mais do que a média mundial no setor de turismo, mas ainda tem participação ínfima no mercado mundial. Qual o potencial do país e como fazer para alcançá-lo?
Zuanazzi -Primeiramente continuar investindo em promoção. Neste ano devem ser aplicados US$ 100 milhões, equivalente à verba usada pela Espanha para isso. Outro nó está no setor aéreo. Não tem como aumentar o número de estrangeiros vindo para o Brasil sem haver mais assentos em vôos. O grande crescimento vai ter que ser no aéreo. Tem que planejar todas as entradas do Brasil. Aumentar o acesso a mercado norte-americano, que tem crescido pouco no Brasil, especialmente devido à questão do visto e da taxa de US$ 100 que se cobra deles, por causa da reciprocidade, que é uma questão que estamos tentando resolver pela legislação.
Folha - Mas há indicativos de que é um mercado que pode crescer se facilitada a entrada dos turistas?
Zuanazzi - No ano passado, por exemplo, vieram 5 milhões de americanos para a América do Sul, dos quais só 700 mil para o Brasil. É um sinal de que essa questão está criando um impeditivo. O americano que vem hoje ao país é o homem de negócios. A ampla maioria não vem ao Brasil a lazer.
Quanto à outra questão, acho que o Brasil é um país que tem condições de chegar a 20 milhões de estrangeiros. Hoje estamos com 0,8% do fluxo mundial, quando assumimos tínhamos 0,5%. Quando o turismo mundial chegar a 1 bilhão de passageiros, esse número vai representar 2%. Acho que é uma fatia bem plausível para conquistarmos.
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