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26/02/2006 - 09h19

País patina, mas empresas batem recordes

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ADRIANA MATTOS
da Folha de S.Paulo

A despeito do resultado medíocre do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil em 2005, as empresas abertas do país bateram novos recordes e se expandiram em velocidade elevada. Os números estão nos balanços financeiros anuais dos grupos privados e foram coletados a pedido da Folha pela consultoria Economática.

Beneficiadas por um quadro de exportações ainda fortalecido em certos setores, dívidas em dólar domadas pelo real valorizado, custos e despesas controlados e demanda interna ligeiramente mais aquecida, as companhias com ações em Bolsa de Valores registraram uma alta de 7,7% na receita operacional líquida em 2005 --o volume totalizou mais de R$ 240 bilhões em 64 empresas que apresentaram os balanços até as 21h de sexta-feira. Em cinco anos, a conta dessas companhias engordou quase R$ 100 bilhões.

Por outro lado, no ano passado, segundo dados divulgados pelo IBGE dois dias atrás, a soma total de riquezas produzidas pelo país cresceu 2,3%. Nesse caso, a conta inclui o setor da indústria (alta de 2,5% no ano), de serviços (2%) --inclui comércio-- e o de agropecuária (0,8%).

Ao analisar o período do governo Lula, de 2003 a 2005, quando a chiadeira da indústria fez barulho, a expansão média anual do PIB foi de 2,6%. Quanto ao desempenho das companhias, a receita operacional líquida deu um bom salto, de 12,3%, em média, por ano. Na tentativa de evitar que o desempenho excepcional de algumas poucas empresas acabasse turbinando a conta, a Economática desconsiderou os dados da Petrobras e de instituições financeiras.

É importante ressaltar que nessa análise de resultados está contabilizado o desempenho de uma minoria de companhias brasileiras. Há pouco mais de 260 empresas com papéis no mercado, e fora desse grupo há milhares de pequenas, médias e grandes empresas no país. Dados de 2002 do IBGE apontam para a existência de 4,9 milhões de empresas (de todos os portes) operando em diversos setores da economia.

Na avaliação de Alberto Borges Matias, sócio-diretor da ABM Consulting, é importante esclarecer que boa parte dessas empresas negociadas em Bolsa opera em São Paulo, Rio de Janeiro e Estados do Sul. "Nesses locais, o PIB regional é superior à média e pode andar mais em linha com o desempenho das empresas", diz ele.

O IBGE não publicou ainda o desempenho regional do PIB. "De qualquer forma, esse grupo seleto de grandes companhias tende a ter bons desempenhos. Elas têm fácil acesso a capital para investimentos, logo, sofrem menos com os juros internos altos", explica.

"Ainda possuem parte da receita atrelada à moeda estrangeira, por conta das exportações. Mesmo com a queda do dólar, conseguem até praticar preços finais mais altos para compensar a desvalorização do câmbio", completa o economista.

No ano passado, a moeda norte-americana perdeu 12,4% de seu valor. Quem vende para fora recebe em dólar e, na hora da conversão, acaba embolsando menos reais. "Isso não quer dizer, porém, que elas estão numa situação difícil. O resultado das empresas em 2005 foi ótimo", diz Einar Rivero, coordenador da Economática para a América Latina.

Análise dos balanços

Uma leitura dos dados já publicados por 64 empresas abertas mostra que aumentou a capacidade de pagamento da dívida das companhias em 2005 e que o lucro por ação subiu, mas a margem sofreu redução.

Segundo Rivero, esse resultado ainda pode sofrer alterações. "Há companhias de peso que ainda não apresentaram os números." A data final para entrega dos balanços à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) é 31 de março.

Análise parcial mostra que o lucro líquido total das empresas somou R$ 21,5 bilhões, valor 10,8% superior a 2004 --ano que já tinha registrado desempenho recorde. Portanto, 2005 passa a ter o maior lucro da história.

Quanto à margem operacional do setor (margem Ebitda), ela caiu de cerca de 19% para 18% --a mesma registrada em 2002. Essa taxa é a mediana, e não a média. Isso porque, na variação média, se alguma empresa tem uma taxa muito elevada, pode "engordar" artificialmente o dado final.

Um dos efeitos positivos que as companhias já começam a sentir em suas contas é uma queda na relação entre dívida e caixa. Isso ocorre por conta da maior geração de caixa das empresas e da redução no valor da dívida com os bancos.

Os débitos fecharam 2005 em baixa porque calcula-se hoje que 70% das dívidas de empresas brasileiras estejam atreladas ao dólar. Como a moeda ficou mais barata no ano passado, o valor final da dívida cai. Esse é o lado positivo do tropeço do dólar.

É claro que ninguém paga toda a dívida que tem agora --os prazos de pagamentos são longos.

Mas (como já foi dito), se por um lado a companhia poderá sentir a queda na receita com exportações --pela moeda desvalorizada--, por outro contabilizará nas linhas de seu balanço dívidas menores.

Na lista dos melhores resultados entre empresas privadas aparecem novamente metalúrgicas, siderúrgicas e empresas de bens não duráveis. Na ordem estão: 1º) Gerdau, 2º) Telesp Operacional, 3º) Arcelor, 4º) AmBev, 5º) Aracruz. O ranking acaba sendo um retrato do desempenho da economia em 2005. Foram as companhias de aço que, com o aumento na demanda de países asiáticos, tiveram bons desempenhos no ano. Ao mesmo tempo, com a leve melhora no mercado interno, grupos privados na área de consumo despontaram. Nesse caso, está a AmBev, que vendeu mais cerveja e refrigerantes em 2005 e, assim, registrou o maior lucro de sua história: R$ 1,5 bilhão.

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