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28/02/2006 - 09h58

Lotérica teme colapso com troca de sistema

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JANAÍNA LEITE
da Folha de S.Paulo

Donos de casas lotéricas de todo o Brasil estão preocupados com a hipótese de problemas, nos próximos dois meses, no pagamento de benefícios assistenciais do governo e com o envio das apostas à CEF (Caixa Econômica Federal).

Eles temem ser insuficiente o prazo final estipulado pela Caixa, 15 de maio, para substituir o atual sistema tecnológico das lotéricas.
"Tenho 30 anos de Caixa, me aposentei como superintendente de loterias. Isso me dá autoridade para dizer que haverá falhas sérias na transmissão dos dados", afirma o presidente da Febralot (Federação Brasileira de Empresas Lotéricas), Paulo Michelon. "O prazo teria de ser estendido, no mínimo até o final do ano."

A Caixa refuta tal possibilidade. Diz que o cronograma está sendo executado e que, até a data limite, acontecerá a troca completa das máquinas --sem maiores transtornos.

Michelon contesta essa versão. Segundo ele, dificilmente mais que 50% do sistema terá migrado até 15 de maio. "Dos 25 mil terminais a serem implementados, não há mais que 1,2 mil colocados. Só no Rio Grande do Sul, por exemplo, existem 1.800 máquinas antigas. Até agora foram substituídas 50 dessas máquinas", diz.

O presidente da Febralot não arrisca dizer quanto os lotéricos perderão se a comunicação tecnológica com a Caixa ficar truncada. Adiantou, todavia, que haverá demissões para cobrir prejuízos.

"As loterias empregam, em média, quatro funcionários. Caso minha previsão seja confirmada, é provável que o número seja reduzido à metade e 20, 25 mil pessoas percam seus empregos", pondera Michelon.

Ele prevê ainda a superlotação das agências da Caixa e, no caso de cidades distantes, onde não há agência bancária, o aumento da dificuldade enfrentada pelos cidadãos que recebem benefícios assistenciais na hora de receber o que lhes é de direito. "É gente que terá de andar quilômetros de barco ou a pé", observa.

Disputa política

O pano de fundo do estremecimento entre lotéricos e a Caixa é o caso Gtech, a multinacional americana vendida a italianos que atuava como única integradora dos sistemas tecnológicos das casas de apostas.
As atuais máquinas das lotéricas foram fornecidas pela Gtech. A empresa é responsável, por documento que expira em 15 de maio, também pela manutenção dos equipamentos.

Contratos firmados entre a CEF e a Gtech têm sido alvo de várias instâncias de investigação desde 2004, quando veio à luz um escândalo envolvendo o petista Waldomiro Diniz. Um vídeo flagrado por uma câmera oculta mostrava o então assessor da Casa Civil pedia propina e contribuições a campanhas eleitorais ao empresário Carlinhos Cachoeira, que mantinha negócios com a Gtech por meio de loterias estaduais.

O último lance decorrente do episódio aconteceu no dia 1º deste mês, quando a CPI dos Bingos aprovou relatório afirmando que a parceria com a Gtech causou um prejuízo de R$ 556 milhões à Caixa entre 1997 e 2004.

O texto aprovado também diz que os contratos entre as duas foram aditados à custa de suposto pagamento de propinas da Gtech a funcionários da CEF.

Ambas, instituição e Gtech, refutam as acusações. À época, a Caixa observou que o último aditamento vigora há quase três anos e, desde lá, nada foi comprovado que colocasse em dúvida a lisura dos procedimentos adotados.

A GTech, por sua vez, observou que a CPI dos Bingos não apresentou provas da denúncias. Classificou o relatório como "superficial" e "contraditório".

"A Caixa sabe que o tempo para terminar a migração dos sistemas é insuficiente, mas o governo não quer arcar com o desgaste político de estender o contrato", diz o presidente da Febralot. "O problema é que, se houver problema no repasse dos benefícios sociais, também haverá arranhão na imagem governamental."

Costume

Funcionários da Caixa ouvidos pela Folha têm outra versão para a resistência dos lotéricos. Eles estariam reclamando porque estão acostumados à parceria com a Gtech, aos atuais equipamentos e porque não querem gastar com treinamento de seus funcionários. Outro motivo, defendeu a fonte, é o descontentamento com a margem de lucro que obtém em cada aposta, considerada baixa pelos empresários, que estariam, assim, aproveitando a ocasião para "fazer barulho".

A despeito do costume em lidar com a Gtech, parece haver uma parcela de lotéricos insatisfeita com o atual modelo tecnológico. Pesquisa feita pelo Sincoesp (Sindicato dos Empresários Lotéricos de São Paulo), junto a 202 associados, registrou que 57% dos entrevistados considerava os produtos ofertados pela multinacional "ruins". Outros 15% classificaram as máquinas como "boas", enquanto 28% disseram "regular".

Os equipamentos da Gtech serão substituído por outros produzidos pelo consórcio Bradesco/ Procomp.

A Vicom cuidará dos serviços de telecomunicações e transmissão dos dados; a ECT (Correios) será responsável pela guarda, transporte e distribuição dos suprimentos e a Wintech do Brasil fornecerá volantes e bobinas térmicas. Todas foram contratadas por meio de licitação ocorrida em março do ano passado.

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