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05/04/2006
-
09h42
MARCELO BILLI
da Folha de S.Paulo, enviado especial a Belo Horizonte
Investidores do mundo todo estão subestimando os riscos de investir nos mercados emergentes, alerta William Rhodes, presidente do Citibank e vice-presidente do IIF (sigla em inglês para Instituto Internacional de Finanças), a instituição que agrega os grandes bancos internacionais.
A banca se reuniu em Belo Horizonte, no último final de semana, em encontro paralelo à reunião do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Rhodes diz que, em geral, os países emergentes estão hoje em melhor forma do que nos anos 1990 --com contas públicas e externas mais ordenadas e inflação em queda--, mas que essa melhora não explica a empolgação.
"O fluxo robusto de capital não é apenas resultado de bons desempenhos econômicos na América Latina, mas também da alta liquidez global. Taxas de juros crescentes nas economias desenvolvidas vão acabar com essa liquidez", diz.
Japão, Europa e EUA pela primeira vez aumentam os juros simultaneamente.
Ele diz considerar que, com o volume imenso de dinheiro no mercado internacional em busca de investimentos com retornos altos, os prêmios atribuídos a cada papel, título ou país não refletem os verdadeiros riscos que oferecem.
"Pode-se questionar até que ponto esses "spreads" genuinamente refletem os riscos que investidores e credores estão assumindo em países que não estão perseguindo reformas econômicas de médio prazo, capazes de produzir crescimento sustentado e um ambiente de estabilidade", alerta o presidente do Citigroup.
Um dos indícios de que há algo de arriscado na forma como investidores têm colocado dinheiro nos emergentes, sugere ele, é o fato de o risco ter caído de forma muito homogênea: todos os países viram queda muito similar em seus riscos, apesar de alguns terem melhorado mais que outros.
"Estamos estimulando nossos membros a serem extremamente cautelosos", diz.
Não custa lembrar que os membros do IIF são grandes bancos internacionais, os mesmos cujas tesourarias e corretoras fazem os investimentos que Rhodes diz serem arriscados.
"Em alguns aspectos, estamos em situação parecida com a da primavera de 1997. Existiam perigos, mas muitos não os reconheciam", insiste ele, fazendo alusão ao período imediatamente anterior à crise das economias asiáticos, quando a maioria dos países que sucumbiram tinham avaliação de crédito muito boa.
Na América Latina, os banqueiros se preocupam com o que alguns analistas têm chamado de "novo populismo", com a eleição de presidentes não alinhados com o que a comunidade financeira considera as melhores políticas econômicas. Rhodes não citou nenhum país.
"À medida que nós entramos no ciclo eleitoral, começa um período de teste. Se vermos políticas econômicas sólidas, e se começa um novo ciclo de reformas após a eleições, então os prognósticos podem ser encorajadores", acrescenta Charles Dallara, diretor-gerente do IIF.
"Nós vivemos em um mundo de ciclos. Nada vai para cima eternamente, temos correções", insinuou o presidente do Citigroup, apesar de reconhecer que aparentemente os emergentes, latino-americanos inclusos, estão mais preparados para enfrentar um ciclo de aperto.
Setubal
Roberto Setubal, presidente do Banco Itaú, compartilha das preocupações de seus pares. Vice-presidente do IIF, ele diz que a diferença entre política econômica de direita e esquerda na América Latina é muito pequena, apesar de fazer a ressalva de que há o risco da volta do "populismo".
"Na América Latina em especial, as diferenças entre esquerda e direita se tornaram menores do que no passado. São basicamente as mesmas políticas econômicas", diz Setubal.
Ele também se refere, ainda que indiretamente, ao fato de que não haverá mudança de políticas no Brasil mesmo com a troca de ministro na Fazenda.
"O exemplo é que você muda governos, mas não muda as políticas econômicas. Não só quando mudam governos mas também quando mudam ministros. Eu acho que isso se aplica a toda a região", disse.
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da Folha de S.Paulo, enviado especial a Belo Horizonte
Investidores do mundo todo estão subestimando os riscos de investir nos mercados emergentes, alerta William Rhodes, presidente do Citibank e vice-presidente do IIF (sigla em inglês para Instituto Internacional de Finanças), a instituição que agrega os grandes bancos internacionais.
A banca se reuniu em Belo Horizonte, no último final de semana, em encontro paralelo à reunião do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Rhodes diz que, em geral, os países emergentes estão hoje em melhor forma do que nos anos 1990 --com contas públicas e externas mais ordenadas e inflação em queda--, mas que essa melhora não explica a empolgação.
"O fluxo robusto de capital não é apenas resultado de bons desempenhos econômicos na América Latina, mas também da alta liquidez global. Taxas de juros crescentes nas economias desenvolvidas vão acabar com essa liquidez", diz.
Japão, Europa e EUA pela primeira vez aumentam os juros simultaneamente.
Ele diz considerar que, com o volume imenso de dinheiro no mercado internacional em busca de investimentos com retornos altos, os prêmios atribuídos a cada papel, título ou país não refletem os verdadeiros riscos que oferecem.
"Pode-se questionar até que ponto esses "spreads" genuinamente refletem os riscos que investidores e credores estão assumindo em países que não estão perseguindo reformas econômicas de médio prazo, capazes de produzir crescimento sustentado e um ambiente de estabilidade", alerta o presidente do Citigroup.
Um dos indícios de que há algo de arriscado na forma como investidores têm colocado dinheiro nos emergentes, sugere ele, é o fato de o risco ter caído de forma muito homogênea: todos os países viram queda muito similar em seus riscos, apesar de alguns terem melhorado mais que outros.
"Estamos estimulando nossos membros a serem extremamente cautelosos", diz.
Não custa lembrar que os membros do IIF são grandes bancos internacionais, os mesmos cujas tesourarias e corretoras fazem os investimentos que Rhodes diz serem arriscados.
"Em alguns aspectos, estamos em situação parecida com a da primavera de 1997. Existiam perigos, mas muitos não os reconheciam", insiste ele, fazendo alusão ao período imediatamente anterior à crise das economias asiáticos, quando a maioria dos países que sucumbiram tinham avaliação de crédito muito boa.
Na América Latina, os banqueiros se preocupam com o que alguns analistas têm chamado de "novo populismo", com a eleição de presidentes não alinhados com o que a comunidade financeira considera as melhores políticas econômicas. Rhodes não citou nenhum país.
"À medida que nós entramos no ciclo eleitoral, começa um período de teste. Se vermos políticas econômicas sólidas, e se começa um novo ciclo de reformas após a eleições, então os prognósticos podem ser encorajadores", acrescenta Charles Dallara, diretor-gerente do IIF.
"Nós vivemos em um mundo de ciclos. Nada vai para cima eternamente, temos correções", insinuou o presidente do Citigroup, apesar de reconhecer que aparentemente os emergentes, latino-americanos inclusos, estão mais preparados para enfrentar um ciclo de aperto.
Setubal
Roberto Setubal, presidente do Banco Itaú, compartilha das preocupações de seus pares. Vice-presidente do IIF, ele diz que a diferença entre política econômica de direita e esquerda na América Latina é muito pequena, apesar de fazer a ressalva de que há o risco da volta do "populismo".
"Na América Latina em especial, as diferenças entre esquerda e direita se tornaram menores do que no passado. São basicamente as mesmas políticas econômicas", diz Setubal.
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