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04/06/2006 - 09h35

Cai a produção exportada pela indústria

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MARCELO BILLI
da Folha de S.Paulo

A indústria já perdeu fôlego exportador, apesar de os números da balança comercial ainda mostrarem cifras recordes para as vendas externas. No primeiro trimestre deste ano, 24,8% da produção industrial foi exportada. Houve ligeiro recuo em relação a 2005, quando 25% da produção era destinada ao mercado externo. Porém, o mais relevante: em todos os anos desde 2000 a proporção vem aumentando, algo que, segundo sugere o resultado do primeiro trimestre, não ocorrerá este ano.

A Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) apura o Índice de Produção Exportada, que mostra o quanto do produto industrial brasileiro é destinado ao mercado externo. Os resultados do primeiro trimestre deste ano mostram que a tendência de crescimento observada desde o ano de 2000, quando a indústria exportava 15,2% do que produzia, foi estancada agora em 2006, quando o índice chegou a 24,8%. "A acomodação das exportações, no mínimo, acende uma luz amarela", diz Luciana de Sá, da Firjan.

Mais: em alguns setores em que a proporção de exportações em relação à produção total subiu entre janeiro e março, isso ocorreu por conta do aumento da exportação de produtos mais simples, com pouco valor agregado, à custa de exportação de manufaturados.

Este é o caso dos produtos têxteis. O setor exportou, no primeiro trimestre, 30% da produção nacional, contra 28,5% no ano passado. O ganho, no entanto, ocorreu principalmente na exportação de produtos como algodão e sisal. "O aumento é explicado fundamentalmente pela exportação de fibras", diz Fernando Pimental, diretor-superindente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção).

Pimental lembra, por exemplo, que a exportação de vestuário caiu 29% em quantidade. A queda em receita só não foi maior por conta do aumento de preços no mercado externo, que fez com que as vendas externas em valor recuassem um pouco menos, cerca de 19%. No caso do setor, que sofre a concorrência chinesa e perde competitividade com o real forte, o diagnóstico é claro: as exportações recuam por conta de perda de competitividade. "O que nós lamentamos é que isso não é fruto de nossa incompetência", diz Pimental, sugerindo que isoladamente as empresas tem pouco a fazer para enfrentar o cenário adverso.

No setor de couro e calçados, o cenário é parecido. Houve aumento da produção exportada de 59% do total produzido para quase 63%. O detalhe: o que aumentou foi a exportação de couros e peles.

No setor de alimentos, o quadro é distinto. Sem contar com a exportação, minada pelo câmbio desfavorável, foram as vendas internas que tiveram que absorver parte da produção local. De qualquer modo, o mercado interno não trouxe muito alento: a produção do setor, mostram os números da Firjan, cresceu apenas 0,2% no período. As exportações caíram cerca de 3%.

Ainda assim, diz Dênis Pimentel, coordenador da área de economia da Abia, que agrega empresas do setor alimentício, nem sempre é possível deslocar produção para o mercado interno. "O mercado interno tem a dinâmica dele. O setor tem problemas de estocagem. Se não exporta, não significa que pode produzir para vender por aqui", diz ele.

Nem sempre é fácil identificar os motivos para a queda do percentual destinado à exportação. Luciana de Sá, da Firjan, lembra que, em alguns casos, o aquecimento da economia interna pode desviar parte da produção antes exportada. Algo, por exemplo, que ocorreu no setor de máquinas para escritórios e equipamentos de informática. As vendas internas cresceram 12%, enquanto as exportações tiveram crescimentos muito modesto, de 0,8%, o que levou à queda do índice de produção exportada para 7,3% do total, contra 8,1% no ano passado. "Às vezes, a queda da parcela exportada não representa uma queda das exportações, mas aumento da produção para o mercado interno", diz a economista da Firjan.

A tendência, no mínimo, mostra que será mais difícil para manter o crescimento das exportações. Além das barreiras impostas pelo câmbio valorizado --que, a depender do que ocorra no mercado financeiro, pode ser suavizada--, pela concorrência chinesa e pela lentidão das negociações comerciais, os exportadores passarão a enfrentar outro problema: aumentar a capacidade produtiva para atender tanto o mercado externo quanto o interno.

Se a economia brasileira passar a crescer 4% como prevêem governo e analistas, os investimentos para crescer internamente e seguir aumentando exportações serão mais vultuosos do que até agora.

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