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29/06/2006
-
09h33
MAURO ZAFALON
da Folha de S.Paulo
Roberto Rodrigues entrou no Ministério da Agricultura para ser o melhor ministro do setor até então. Do ramo e sem laços políticos, Rodrigues sabia exatamente onde estavam os maiores gargalos da agropecuária devido à vivência de quatro décadas no setor.
Apesar de um início de governo promissor, o ministro sairá do cargo frustrado e muito longe de conseguir o que esperava. Bateu de frente com outras áreas do governo, principalmente com a Fazenda, mas não conseguiu convencer a tempo o governo da gravidade por que passava a agricultura.
Esse pode ter sido um dos principais problemas de sua administração, já que os responsáveis pela liberação de dinheiro no governo --Fazenda e Tesouro-- não mostraram conhecimento dos períodos rígidos da agricultura. Se o crédito de custeio não chegar no momento apropriado para o plantio, a estocagem e a comercialização, pode ser desnecessário.
Defensor dos transgênicos e da ampliação do agronegócio, o ministro esbarrou também nos defensores da proibição dos produtos geneticamente modificados e da agricultura familiar. Venceu, parcialmente, em ambos. Mesmo aprovada, a legislação dos transgênicos esbarra na lentidão da CNTBio.
Do lado positivo, pode ser atribuída ao ministro uma nova visão da agricultura como fonte de energia e o início de reorganização do ministério, processo de longo prazo.
O primeiro ano de governo de Rodrigues foi fácil. A safra colhida em 2003, parte plantada ainda no governo do ministro anterior, Pratini de Moraes, atingiu o recorde de 123 milhões de toneladas.
Para os anos seguintes, apesar das previsões de 132 milhões de toneladas, o cenário não seria tão favorável, tanto por motivos internos como externos. Externamente, começou a recomposição de estoques mundiais de grãos, e os preços voltaram a patamares normais. O volume da safra não retornou ao patamar de 2003.
Internamente, dois carros-chefes do agronegócio tiveram problemas: soja e carnes. Por representar quase metade das exportações do agronegócio, os dois setores seriam os de maior dor de cabeça para o governo.
No caso da soja, a valorização do dólar e o aumento dos custos --ferrugem, diesel e outros insumos-- retiraram renda dos produtores. No caso da carne, o retorno da febre aftosa retirou o produto brasileiro de vários mercados externos.
Em ambos os casos, os produtores atribuíram a culpa à política econômica de Lula, que manteve o real forte e cortou crédito e investimentos.
Mesmo à frente do ministério, Rodrigues foi poupado por parte das lideranças agrícolas, que voltaram suas baterias de críticas para o presidente. A maioria dos carros do interior traz a inscrição: "Lulla, a praga da agricultura".
Rodrigues, que ameaçou tantas vezes deixar o governo, sairá em momento de grande descontentamento dos agricultores. De poucas palavras quando se refere às disputas internas do governo, mas que sempre reclamou das dificuldades em se chegar a soluções simples no ministério, Rodrigues deixa o barco com a impressão de que tem muito a falar.
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da Folha de S.Paulo
Roberto Rodrigues entrou no Ministério da Agricultura para ser o melhor ministro do setor até então. Do ramo e sem laços políticos, Rodrigues sabia exatamente onde estavam os maiores gargalos da agropecuária devido à vivência de quatro décadas no setor.
Apesar de um início de governo promissor, o ministro sairá do cargo frustrado e muito longe de conseguir o que esperava. Bateu de frente com outras áreas do governo, principalmente com a Fazenda, mas não conseguiu convencer a tempo o governo da gravidade por que passava a agricultura.
Esse pode ter sido um dos principais problemas de sua administração, já que os responsáveis pela liberação de dinheiro no governo --Fazenda e Tesouro-- não mostraram conhecimento dos períodos rígidos da agricultura. Se o crédito de custeio não chegar no momento apropriado para o plantio, a estocagem e a comercialização, pode ser desnecessário.
Defensor dos transgênicos e da ampliação do agronegócio, o ministro esbarrou também nos defensores da proibição dos produtos geneticamente modificados e da agricultura familiar. Venceu, parcialmente, em ambos. Mesmo aprovada, a legislação dos transgênicos esbarra na lentidão da CNTBio.
Do lado positivo, pode ser atribuída ao ministro uma nova visão da agricultura como fonte de energia e o início de reorganização do ministério, processo de longo prazo.
O primeiro ano de governo de Rodrigues foi fácil. A safra colhida em 2003, parte plantada ainda no governo do ministro anterior, Pratini de Moraes, atingiu o recorde de 123 milhões de toneladas.
Para os anos seguintes, apesar das previsões de 132 milhões de toneladas, o cenário não seria tão favorável, tanto por motivos internos como externos. Externamente, começou a recomposição de estoques mundiais de grãos, e os preços voltaram a patamares normais. O volume da safra não retornou ao patamar de 2003.
Internamente, dois carros-chefes do agronegócio tiveram problemas: soja e carnes. Por representar quase metade das exportações do agronegócio, os dois setores seriam os de maior dor de cabeça para o governo.
No caso da soja, a valorização do dólar e o aumento dos custos --ferrugem, diesel e outros insumos-- retiraram renda dos produtores. No caso da carne, o retorno da febre aftosa retirou o produto brasileiro de vários mercados externos.
Em ambos os casos, os produtores atribuíram a culpa à política econômica de Lula, que manteve o real forte e cortou crédito e investimentos.
Mesmo à frente do ministério, Rodrigues foi poupado por parte das lideranças agrícolas, que voltaram suas baterias de críticas para o presidente. A maioria dos carros do interior traz a inscrição: "Lulla, a praga da agricultura".
Rodrigues, que ameaçou tantas vezes deixar o governo, sairá em momento de grande descontentamento dos agricultores. De poucas palavras quando se refere às disputas internas do governo, mas que sempre reclamou das dificuldades em se chegar a soluções simples no ministério, Rodrigues deixa o barco com a impressão de que tem muito a falar.
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