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21/07/2006
-
09h02
EDUARDO SCOLESE
FLÁVIA MARREIRO
enviados da Folha de S.Paulo a Córdoba
A chegada do presidente de Cuba, Fidel Castro, à Argentina --para sua primeira participação em uma Cúpula do Mercosul, a primeira já com a Venezuela de Hugo Chávez-- compôs o panorama: a esquerda moderada, representada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, perdeu, ao menos nos holofotes, para o eixo mais radical do continente.
A presença do ditador cubano, que chegaria à cidade de Córdoba na noite de ontem, só foi confirmada pelo governo argentino pela manhã, depois de dias de especulações. Mas ainda não estava certo se Fidel participaria do encerramento de fato da cúpula: o ato "de massa" paralelo promovido por movimentos sociais para que Hugo Chávez discurse.
O evento-comício, outra novidade colada pelo venezuelano à órbita do Mercosul, está marcado para hoje à tarde, depois da reunião de presidentes.
Chávez, poucos minutos depois de aterrissar ontem, já discursava no aeroporto e convocava para o ato dos movimentos sociais: "Não sei se Fidel e Evo [Morales] vão ao ato [dos movimentos sociais], eles são maiores de idade. Mas seria bom que fossem. Disseram-me que virão milhares de pessoas", disse o venezuelano. Antes, já havia definido: "Depois de Córdoba, haverá outro Mercosul. Será o relançamento." E defendeu a Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas), pactada com o cubano e o boliviano.
Fidel foi convidado ao encontro porque Cuba vai assinar acordo de preferências tarifárias comerciais. Na prática, vai ampliar pouco os acordos que cada país já tem com a ilha. Mais um sinal de que a viagem de Fidel --a primeira do ditador neste ano, depois de rumores sobre sua saúde-- é um apoio simbólico à entrada da Venezuela no Mercosul. A imprensa cubana falava ontem da afinidade de Fidel com a "nova cara" do Mercosul e que com a Venezuela abria-se "um novo horizonte" de integração.
Blindagem e Irã
Classificado por opositores venezuelanos e internacionais, como os EUA, de "antidemocrático", Hugo Chávez deve sair do encontro com uma blindagem do Mercosul na questão. É que o bloco discutia ontem a criação do Observatório de Qualidade Política Democrática e Direitos Humanos.
Dele, pela proposta do presidente da Comissão de Representantes do bloco, Chacho Álvarez, farão parte um corpo de observadores, que acompanharão eleições na região, nos moldes do que fazem a OEA (Organização de Estados Americanos) e ONU, que já chegaram a questionar a legitimidade de pleitos venezuelanos.
Com ou sem o mecanismo, mas já como membro pleno do bloco, Chávez deverá fazer crescer a voltagem de sua participação internacional em oposição aos EUA. Depois da Argentina, o venezuelano viajará à Rússia e depois ao Irã --em plena crise no Oriente Médio-- e Vietnã. Anunciou também que em breve irá à comunista Coréia do Norte.
Mas, se Fidel, Morales e Chávez têm potencial para mudar a imagem política do bloco, na agenda prática da integração é o peso do Brasil e a capacidade que terá para oferecer vantagens concretas a seus parceiros de bloco --principalmente Uruguai e Paraguai-- ou influenciar os sócios hoje em conflitos bilaterais, que dominam a discussão de fundo da cúpula.
O presidente Lula teria ainda ontem à noite encontro com o colega paraguaio Nicanor Duarte. Hoje começará o dia com reuniões bilaterais com Morales e com Michelle Bachelet, presidente chilena, que revive com a Argentina, em menor escala, o problema de abastecimento de gás que o Brasil tem com a Bolívia.
A cúpula demonstrou ontem que não está protegida da principal crise entre os sócios, a de argentinos e uruguaios na "guerra das papeleiras". Ao chegar ao país, o presidente Tabaré Vázquez voltou a defender a segurança ambiental das duas fábricas de celulose que se constróem no Uruguai, com oposição do governo Kirchner. Ambientalistas argentinos devem protestar contra o uruguaio, mais uma vez levando os holofotes para fora da agenda oficial do encontro.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre a Cúpula do Mercosul
Chávez e Fidel ofuscam parceiros do Mercosul
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FLÁVIA MARREIRO
enviados da Folha de S.Paulo a Córdoba
A chegada do presidente de Cuba, Fidel Castro, à Argentina --para sua primeira participação em uma Cúpula do Mercosul, a primeira já com a Venezuela de Hugo Chávez-- compôs o panorama: a esquerda moderada, representada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, perdeu, ao menos nos holofotes, para o eixo mais radical do continente.
A presença do ditador cubano, que chegaria à cidade de Córdoba na noite de ontem, só foi confirmada pelo governo argentino pela manhã, depois de dias de especulações. Mas ainda não estava certo se Fidel participaria do encerramento de fato da cúpula: o ato "de massa" paralelo promovido por movimentos sociais para que Hugo Chávez discurse.
O evento-comício, outra novidade colada pelo venezuelano à órbita do Mercosul, está marcado para hoje à tarde, depois da reunião de presidentes.
Chávez, poucos minutos depois de aterrissar ontem, já discursava no aeroporto e convocava para o ato dos movimentos sociais: "Não sei se Fidel e Evo [Morales] vão ao ato [dos movimentos sociais], eles são maiores de idade. Mas seria bom que fossem. Disseram-me que virão milhares de pessoas", disse o venezuelano. Antes, já havia definido: "Depois de Córdoba, haverá outro Mercosul. Será o relançamento." E defendeu a Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas), pactada com o cubano e o boliviano.
Fidel foi convidado ao encontro porque Cuba vai assinar acordo de preferências tarifárias comerciais. Na prática, vai ampliar pouco os acordos que cada país já tem com a ilha. Mais um sinal de que a viagem de Fidel --a primeira do ditador neste ano, depois de rumores sobre sua saúde-- é um apoio simbólico à entrada da Venezuela no Mercosul. A imprensa cubana falava ontem da afinidade de Fidel com a "nova cara" do Mercosul e que com a Venezuela abria-se "um novo horizonte" de integração.
Blindagem e Irã
Classificado por opositores venezuelanos e internacionais, como os EUA, de "antidemocrático", Hugo Chávez deve sair do encontro com uma blindagem do Mercosul na questão. É que o bloco discutia ontem a criação do Observatório de Qualidade Política Democrática e Direitos Humanos.
Dele, pela proposta do presidente da Comissão de Representantes do bloco, Chacho Álvarez, farão parte um corpo de observadores, que acompanharão eleições na região, nos moldes do que fazem a OEA (Organização de Estados Americanos) e ONU, que já chegaram a questionar a legitimidade de pleitos venezuelanos.
Com ou sem o mecanismo, mas já como membro pleno do bloco, Chávez deverá fazer crescer a voltagem de sua participação internacional em oposição aos EUA. Depois da Argentina, o venezuelano viajará à Rússia e depois ao Irã --em plena crise no Oriente Médio-- e Vietnã. Anunciou também que em breve irá à comunista Coréia do Norte.
Mas, se Fidel, Morales e Chávez têm potencial para mudar a imagem política do bloco, na agenda prática da integração é o peso do Brasil e a capacidade que terá para oferecer vantagens concretas a seus parceiros de bloco --principalmente Uruguai e Paraguai-- ou influenciar os sócios hoje em conflitos bilaterais, que dominam a discussão de fundo da cúpula.
O presidente Lula teria ainda ontem à noite encontro com o colega paraguaio Nicanor Duarte. Hoje começará o dia com reuniões bilaterais com Morales e com Michelle Bachelet, presidente chilena, que revive com a Argentina, em menor escala, o problema de abastecimento de gás que o Brasil tem com a Bolívia.
A cúpula demonstrou ontem que não está protegida da principal crise entre os sócios, a de argentinos e uruguaios na "guerra das papeleiras". Ao chegar ao país, o presidente Tabaré Vázquez voltou a defender a segurança ambiental das duas fábricas de celulose que se constróem no Uruguai, com oposição do governo Kirchner. Ambientalistas argentinos devem protestar contra o uruguaio, mais uma vez levando os holofotes para fora da agenda oficial do encontro.
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