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27/08/2006
-
09h45
LEILA SUWWAN
da Folha de S.Paulo, em Brasília
Enquanto o governo discute medidas para atrair fábricas de semicondutores, analistas internacionais e representantes do setor avaliam que dificilmente o Brasil atrairá esse tipo de investimento só com incentivos fiscais. Consideram que o país chega atrasado e sem muitos atrativos numa das corridas industriais mais caras e competitivas do mundo.
Incentivos para esse setor hoje envolvem pacotes com "férias tributárias" de até uma década, doações diretas, subsídios para a construção de parque industrial e treinamento de mão-de-obra.
Segundo uma consultoria especializada, a Gartner, esses pacotes atingem valores de US$ 700 milhões a US$ 1,2 bilhão. O custo médio de uma fábrica de chips de última geração é de US$ 2 bilhões, e a produção começa em pelo menos dois anos.
O governo brasileiro pretende soltar uma medida provisória nesta semana e analisa um abatimento de 75% no Imposto de Renda para as empresas.
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, o incentivo tributário isolado significaria só um pequeno aceno ou gesto político. E seria necessário um comprometimento sólido para derrubar tarifas e burocracias, cortar impostos e dar suporte laboral aos investidores.
"Eu duvido que apenas incentivos fiscais possam ser o suficiente para atrair uma grande empresa a instalar uma fábrica de chips no Brasil. Teria de haver um 'case' de mercado muito convincente, demonstrando que haveria vantagens de acesso a mercados que hoje não são acessíveis", disse Bob Johnson, vice de pesquisa em semicondutores da Gartner.
Segundo ele, foi esse o caso da Intel na Irlanda --obteve nível de tarifa para a União Européia como produtor local-- e o da AMD na Alemanha.
Para Jodi Shelton, diretora-executiva da FSA (Fabless Semiconductor Association), promover a diversidade na manufatura de chips é importante, mas há sérias dúvidas sobre a possibilidade de replicar os casos de sucesso, como Taiwan, que hoje reúne toda a cadeia produtiva de semicondutores, após duas décadas de políticas voltadas ao setor.
"Sinceramente, ficaria um pouco chocada se alguém anunciasse uma fábrica no Brasil. Não é impossível, mas é uma trilha cara e longa. Em termos de locais onde esse investimento não é óbvio, México e Dubai fizeram a aposta e ainda não deslancharam", disse.
A SIA (Associação da Indústria de Semicondutores), que representa a fatia americana de um mercado global de cerca de US$ 250 bilhões em vendas, não recomenda investimentos no Brasil, que consideram estar "definitivamente atrasados".
"Nós avaliamos que o Brasil não é um país a ser considerado [para investimentos no setor]", disse Daryl Hatano, vice-presidente da SIA. "A primeira coisa a ser feita é assinar o Acordo de Tecnologia da Informação no âmbito da Organização Mundial do Comércio. Isso demonstra um compromisso para integrar o setor à economia."
O acordo cria um compromisso de zerar as tarifas para os bens de informática. A China é um dos novos signatários e atraiu cerca de US$ 6 bilhões de investimento em 2004 e 2005. O investimento previsto para 2006 no mundo é de cerca de US$ 55 bilhões e pode atingir US$ 69 bilhões em 2011.
"A China é uma novata e não chega nem perto de Taiwan ou Coréia do Sul", disse Johnson. "De certa forma, os grandes já estão geograficamente estabelecidos", completou. Significa que as empresas tendem a concentrar investimentos em países onde já têm infra-estrutura.
As empresas buscam massa crítica qualificada de engenheiros e mão-de-obra de nível técnico elevado. Os especialistas ouvidos declinaram comentar o caso brasileiro nesse quesito, por falta de conhecimento.
Mas lembraram que os governos costumam entrar com subsídios, incentivos e treinamento a funcionários das empresas que pretendem atrair.
Além disso, o país precisa "sacar" a dinâmica dos semicondutores, disse Hatano. Isto porque a tecnologia avança tão rapidamente que os preços caem 30% por ano, em média. "Atrasos alfandegários e burocráticos para componentes que precisam viajar o mundo em sua cadeia de manufatura não são aceitáveis", disse.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre fábrica de semicondutores
Só ajuda fiscal não atrai fábrica de chip
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da Folha de S.Paulo, em Brasília
Enquanto o governo discute medidas para atrair fábricas de semicondutores, analistas internacionais e representantes do setor avaliam que dificilmente o Brasil atrairá esse tipo de investimento só com incentivos fiscais. Consideram que o país chega atrasado e sem muitos atrativos numa das corridas industriais mais caras e competitivas do mundo.
Incentivos para esse setor hoje envolvem pacotes com "férias tributárias" de até uma década, doações diretas, subsídios para a construção de parque industrial e treinamento de mão-de-obra.
Segundo uma consultoria especializada, a Gartner, esses pacotes atingem valores de US$ 700 milhões a US$ 1,2 bilhão. O custo médio de uma fábrica de chips de última geração é de US$ 2 bilhões, e a produção começa em pelo menos dois anos.
O governo brasileiro pretende soltar uma medida provisória nesta semana e analisa um abatimento de 75% no Imposto de Renda para as empresas.
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, o incentivo tributário isolado significaria só um pequeno aceno ou gesto político. E seria necessário um comprometimento sólido para derrubar tarifas e burocracias, cortar impostos e dar suporte laboral aos investidores.
"Eu duvido que apenas incentivos fiscais possam ser o suficiente para atrair uma grande empresa a instalar uma fábrica de chips no Brasil. Teria de haver um 'case' de mercado muito convincente, demonstrando que haveria vantagens de acesso a mercados que hoje não são acessíveis", disse Bob Johnson, vice de pesquisa em semicondutores da Gartner.
Segundo ele, foi esse o caso da Intel na Irlanda --obteve nível de tarifa para a União Européia como produtor local-- e o da AMD na Alemanha.
Para Jodi Shelton, diretora-executiva da FSA (Fabless Semiconductor Association), promover a diversidade na manufatura de chips é importante, mas há sérias dúvidas sobre a possibilidade de replicar os casos de sucesso, como Taiwan, que hoje reúne toda a cadeia produtiva de semicondutores, após duas décadas de políticas voltadas ao setor.
"Sinceramente, ficaria um pouco chocada se alguém anunciasse uma fábrica no Brasil. Não é impossível, mas é uma trilha cara e longa. Em termos de locais onde esse investimento não é óbvio, México e Dubai fizeram a aposta e ainda não deslancharam", disse.
A SIA (Associação da Indústria de Semicondutores), que representa a fatia americana de um mercado global de cerca de US$ 250 bilhões em vendas, não recomenda investimentos no Brasil, que consideram estar "definitivamente atrasados".
"Nós avaliamos que o Brasil não é um país a ser considerado [para investimentos no setor]", disse Daryl Hatano, vice-presidente da SIA. "A primeira coisa a ser feita é assinar o Acordo de Tecnologia da Informação no âmbito da Organização Mundial do Comércio. Isso demonstra um compromisso para integrar o setor à economia."
O acordo cria um compromisso de zerar as tarifas para os bens de informática. A China é um dos novos signatários e atraiu cerca de US$ 6 bilhões de investimento em 2004 e 2005. O investimento previsto para 2006 no mundo é de cerca de US$ 55 bilhões e pode atingir US$ 69 bilhões em 2011.
"A China é uma novata e não chega nem perto de Taiwan ou Coréia do Sul", disse Johnson. "De certa forma, os grandes já estão geograficamente estabelecidos", completou. Significa que as empresas tendem a concentrar investimentos em países onde já têm infra-estrutura.
As empresas buscam massa crítica qualificada de engenheiros e mão-de-obra de nível técnico elevado. Os especialistas ouvidos declinaram comentar o caso brasileiro nesse quesito, por falta de conhecimento.
Mas lembraram que os governos costumam entrar com subsídios, incentivos e treinamento a funcionários das empresas que pretendem atrair.
Além disso, o país precisa "sacar" a dinâmica dos semicondutores, disse Hatano. Isto porque a tecnologia avança tão rapidamente que os preços caem 30% por ano, em média. "Atrasos alfandegários e burocráticos para componentes que precisam viajar o mundo em sua cadeia de manufatura não são aceitáveis", disse.
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