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09/09/2006
-
09h02
GILSON SCHWARTZ
da Folha de S.Paulo
Estudo publicado pelo BNDES alerta para os riscos de desindustrialização no país, caso a atual política de juros e câmbio seja mantida. Ao mesmo tempo, os dados revelam que a abertura comercial e a liberalização comercial, promovidas nos anos 90, não foram responsáveis pela redução do peso da indústria na riqueza brasileira. Ou seja, têm sido as políticas de curto prazo, não as reformas estruturais, as principais responsáveis pelas principais ameaças à indústria.
A pesquisa, realizada por André Nassif, contou com a leitura atenta de Júlio Sérgio Gomes de Almeida, ex-diretor do Iedi e hoje secretário de política econômica do Ministério da Fazenda. E dá razão a alguns dos principais críticos "tucanos" da atual política econômica, como os economistas Mendonça de Barros e Bresser Pereira.
Analisando detalhadamente o desempenho setorial da indústria nas últimas décadas, Nassif alerta para os riscos, mas desmonta estatisticamente pelo menos dois mitos que tiveram ampla aceitação entre os economistas desenvolvimentistas desde os anos 80.
O primeiro é o de que a sujeição da economia brasileira ao "consenso de Washington" teria provocado a desindustrialização do país. O segundo é o de que estaria em curso uma variante inédita de "doença holandesa", ou seja, de destruição da base industrial como resultado de uma súbita e intensa valorização de bens agrícolas e recursos naturais.
Nova doença holandesa
As evidências empíricas levantadas na pesquisa do BNDES mostram que, apesar da perda de participação da indústria de transformação no PIB brasileiro, as mudanças ocorridas desde 1990 não podem ser qualificadas de "desindustrialização", ao menos no sentido de um retrocesso provocado por um "boom" de produção de recursos naturais ou commodities.
De outro lado, a produção industrial associada a ciência, tecnologia e inovação, percebida como a principal fronteira de expansão nas economias avançadas, mesmo se não chegou a desempenhar papel proeminente na economia brasileira até agora, ao menos não retrocedeu ao longo das últimas duas décadas que, portanto, não teriam sido tão "perdidas" como usualmente supõem os críticos das políticas liberalizantes. Ao contrário, a abertura comercial e mesmo a valorização do real permitiram a muitos setores, especialmente nos anos de 1990, importar novas máquinas e equipamentos, promovendo aumento da produtividade e da competitividade do país.
Esgotamento
O maior problema, alerta Nassif, é o esgotamento dessa onda e o risco de "nova doença holandesa", ou seja, uma transferência generalizada de recursos para setores primários ou para indústrias tecnologicamente tradicionais e, ao mesmo tempo, mudança do padrão de especialização internacional na direção de produtos primários e/ou industrializados intensivos em recursos naturais.
A análise dos dados não revela um deslocamento "generalizado", ainda que entre os setores industriais tenha ocorrido algum deslocamento. Ainda assim, setores voltados para produtos primários ou commodities não são necessariamente tradicionais do ponto de vista tecnológico, como demonstram os investimentos em auto-suficiência em petróleo ou o desenvolvimento de novas fontes de energia a partir da biomassa. Em suma, os dados não revelam o retorno da economia brasileira a um padrão generalizado de especialização exportadora baseada em produtos primários.
Câmbio preocupante
Nas conclusões do trabalho, Nassif alerta para duas "evidências preocupantes". A primeira tem como base a queda "muito expressiva" do peso relativo dos produtos industrializados intensivos em trabalho no total do valor adicionado, dos investimentos industriais e das exportações brasileiras. Essa perda não foi compensada pelo avanço dos setores com tecnologias intensivas em escala, diferenciadas ou baseadas em ciências. Nos setores intensivos em trabalho predominam as tecnologias tradicionais, mas ao menos eles funcionam como colchão amortecedor do desemprego e da informalidade.
O maior risco, no entanto, está na tendência recorrente de apreciação real da moeda brasileira em relação ao dólar, desde o fim dos anos 80, interrompida apenas entre o início de 1999 (com a crise que destruiu a "âncora" cambial) e o fim de 2003.
Se de um lado o real forte ajudou a estabilizar a inflação barateando as importações de máquinas e equipamentos, foi essa também a fonte de "enormes custos micro e macroeconômicos" que, no longo prazo, podem conduzir à desestruturação do setor exportador de manufaturados.
A pesquisa do BNDES está disponível na internet neste endereço.
Especial
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BNDES aponta risco de desindustrialização
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da Folha de S.Paulo
Estudo publicado pelo BNDES alerta para os riscos de desindustrialização no país, caso a atual política de juros e câmbio seja mantida. Ao mesmo tempo, os dados revelam que a abertura comercial e a liberalização comercial, promovidas nos anos 90, não foram responsáveis pela redução do peso da indústria na riqueza brasileira. Ou seja, têm sido as políticas de curto prazo, não as reformas estruturais, as principais responsáveis pelas principais ameaças à indústria.
A pesquisa, realizada por André Nassif, contou com a leitura atenta de Júlio Sérgio Gomes de Almeida, ex-diretor do Iedi e hoje secretário de política econômica do Ministério da Fazenda. E dá razão a alguns dos principais críticos "tucanos" da atual política econômica, como os economistas Mendonça de Barros e Bresser Pereira.
Analisando detalhadamente o desempenho setorial da indústria nas últimas décadas, Nassif alerta para os riscos, mas desmonta estatisticamente pelo menos dois mitos que tiveram ampla aceitação entre os economistas desenvolvimentistas desde os anos 80.
O primeiro é o de que a sujeição da economia brasileira ao "consenso de Washington" teria provocado a desindustrialização do país. O segundo é o de que estaria em curso uma variante inédita de "doença holandesa", ou seja, de destruição da base industrial como resultado de uma súbita e intensa valorização de bens agrícolas e recursos naturais.
Nova doença holandesa
As evidências empíricas levantadas na pesquisa do BNDES mostram que, apesar da perda de participação da indústria de transformação no PIB brasileiro, as mudanças ocorridas desde 1990 não podem ser qualificadas de "desindustrialização", ao menos no sentido de um retrocesso provocado por um "boom" de produção de recursos naturais ou commodities.
De outro lado, a produção industrial associada a ciência, tecnologia e inovação, percebida como a principal fronteira de expansão nas economias avançadas, mesmo se não chegou a desempenhar papel proeminente na economia brasileira até agora, ao menos não retrocedeu ao longo das últimas duas décadas que, portanto, não teriam sido tão "perdidas" como usualmente supõem os críticos das políticas liberalizantes. Ao contrário, a abertura comercial e mesmo a valorização do real permitiram a muitos setores, especialmente nos anos de 1990, importar novas máquinas e equipamentos, promovendo aumento da produtividade e da competitividade do país.
Esgotamento
O maior problema, alerta Nassif, é o esgotamento dessa onda e o risco de "nova doença holandesa", ou seja, uma transferência generalizada de recursos para setores primários ou para indústrias tecnologicamente tradicionais e, ao mesmo tempo, mudança do padrão de especialização internacional na direção de produtos primários e/ou industrializados intensivos em recursos naturais.
A análise dos dados não revela um deslocamento "generalizado", ainda que entre os setores industriais tenha ocorrido algum deslocamento. Ainda assim, setores voltados para produtos primários ou commodities não são necessariamente tradicionais do ponto de vista tecnológico, como demonstram os investimentos em auto-suficiência em petróleo ou o desenvolvimento de novas fontes de energia a partir da biomassa. Em suma, os dados não revelam o retorno da economia brasileira a um padrão generalizado de especialização exportadora baseada em produtos primários.
Câmbio preocupante
Nas conclusões do trabalho, Nassif alerta para duas "evidências preocupantes". A primeira tem como base a queda "muito expressiva" do peso relativo dos produtos industrializados intensivos em trabalho no total do valor adicionado, dos investimentos industriais e das exportações brasileiras. Essa perda não foi compensada pelo avanço dos setores com tecnologias intensivas em escala, diferenciadas ou baseadas em ciências. Nos setores intensivos em trabalho predominam as tecnologias tradicionais, mas ao menos eles funcionam como colchão amortecedor do desemprego e da informalidade.
O maior risco, no entanto, está na tendência recorrente de apreciação real da moeda brasileira em relação ao dólar, desde o fim dos anos 80, interrompida apenas entre o início de 1999 (com a crise que destruiu a "âncora" cambial) e o fim de 2003.
Se de um lado o real forte ajudou a estabilizar a inflação barateando as importações de máquinas e equipamentos, foi essa também a fonte de "enormes custos micro e macroeconômicos" que, no longo prazo, podem conduzir à desestruturação do setor exportador de manufaturados.
A pesquisa do BNDES está disponível na internet neste endereço.
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