Publicidade
Publicidade
04/12/2006
-
09h09
JANAINA LAGE
enviada especial da Folha de S.Paulo a Cancún
A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) pretende exigir reserva para indenizações no capital das empresas aéreas em reforma do Código Brasileiro de Aeronáutica, prevista para o próximo ano.
"A idéia é ter recursos para o pagamento em caso de algum acidente, de atraso ou de overbooking. É o que vai dar segurança jurídica para o passageiro poder se socorrer do Judiciário ou administrativamente para ter resguardados os seus direitos constitucionais, como em qualquer setor", afirma Denise Abreu, diretora da Anac, em entrevista à Folha, durante evento da Alta (Associação Latino-Americana de Transporte Aéreo), encerrado na sexta-feira.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista de Abreu.
FOLHA - A Anac planeja uma atualização do Código Brasileiro de Aeronáutica. O que deveria ser alterado?
DENISE ABREU - O Código Brasileiro de Aeronáutica reúne funções do espaço aéreo militar e do espaço aéreo civil. Todas as regras, como a autorização de funcionamento jurídico e o Cheta [Certificado de Homologação de Empresa de Transporte Aéreo] estão dentro do código. O primeiro passo é tirar de dentro do código e criar um marco regulatório próprio para a aviação civil. Devemos colocar novas regras sobre a forma de analisar o capital de uma empresa que planeja se constituir como concessionária de serviço público. É importante prever um aporte necessário de recursos para eventuais ações de indenização e de responsabilidade civil das empresas. A idéia é ter recursos para o pagamento em caso de algum acidente, de atraso ou de overbooking. É o que vai dar segurança jurídica para o passageiro poder se socorrer do Judiciário ou administrativamente para ter resguardados os seus direitos constitucionais, como em qualquer setor.
FOLHA - Como é possível mensurar essas despesas?
ABREU - Tem que haver um parâmetro claro dentro da lei. É um cálculo complexo e que ainda precisa ser detalhado. É preciso levar em conta o número de passageiros em cada aeronave e uma média de valor de indenizações. Vou mais além: acredito que deveria existir um fundo nas empresas para cobertura de eventuais ações trabalhistas a fim de assegurar o direito do trabalhador.
FOLHA - Quando essas mudanças devem começar a sair do papel?
ABREU - No começo do próximo ano, teremos um grupo de trabalho constituído para implementar as mudanças.
FOLHA - O que mudou na passagem do DAC [Departamento de Aviação Civil] para a Anac?
ABREU - O enfoque jurídico não era tão minucioso. A imprensa costuma dizer que os diretores da agência não têm brevê. Para ser um bom gestor, não precisa ser um bom piloto. Se pegarmos os grandes executivos do setor é possível verificar isso. O Bologna [presidente da TAM, líder no mercado doméstico] veio do setor bancário. Regulamentar o mercado significa normatizar, aprofundar análises jurídicas. O DAC não tinha o aprofundamento necessário para regulamentar. A missão dele não era essa, o órgão tinha missão específica na segurança de vôo. Uma agência reguladora não pode se limitar a esse aspecto, precisa fazer análise de mercado, da sustentabilidade e do desenvolvimento do setor. Deve normatizar e fazer com que todas as empresas sejam tratadas igualitariamente. Se não forem, elas podem se socorrer do Judiciário.
FOLHA - A Anac surgiu num ano difícil para o setor, com a crise da Varig, o acidente da Gol e a operação-padrão dos controladores de vôo. O que explica essa sucessão de eventos? Os problemas ficaram mais visíveis em uma gestão civil?
ABREU - O acidente da Gol foi uma fatalidade, mas as crises dos controladores e da Varig não nasceram em 2006. Elas simplesmente eclodiram no ano em que a agência foi criada. A entrada de uma agência civil num setor exclusivamente militar areja o setor, de forma que algumas questões que antes não eram tão conhecidas passam a ser divulgadas.
FOLHA - A atuação da agência em relação ao caso Varig já foi alvo de muita crítica. Há quem afirme que a agência opera em nome de TAM e Gol, as duas principais empresas do setor...
ABREU - Refuto veementemente esse tipo de afirmação. Essas empresas são representadas pelo Snea [Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias]. Eu tenho uma ata de reunião promovida pelo sindicato com o juiz Luiz Roberto Ayoub [da 1ª Vara Empresarial do Rio], em que o Snea pediu a transferência da documentação da velha Varig para a nova Varig.
Portanto, na nossa leitura, essas empresas gostariam que a situação fosse imediatamente resolvida para elas saírem da condição de vôo precário e poderem voar definitivamente para os destinos que a nova Varig não for utilizar.
O que o país não pode fazer é impedir que empresas com boa gestão e consistência econômica cresçam, porque aí a gente estaria a reboque da história. Seria um país que paralisaria o crescimento de empresas saudáveis em benefício de quem não é saudável.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre a Anac
Anac quer reserva para indenizações no capital das aéreas
Publicidade
enviada especial da Folha de S.Paulo a Cancún
A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) pretende exigir reserva para indenizações no capital das empresas aéreas em reforma do Código Brasileiro de Aeronáutica, prevista para o próximo ano.
"A idéia é ter recursos para o pagamento em caso de algum acidente, de atraso ou de overbooking. É o que vai dar segurança jurídica para o passageiro poder se socorrer do Judiciário ou administrativamente para ter resguardados os seus direitos constitucionais, como em qualquer setor", afirma Denise Abreu, diretora da Anac, em entrevista à Folha, durante evento da Alta (Associação Latino-Americana de Transporte Aéreo), encerrado na sexta-feira.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista de Abreu.
FOLHA - A Anac planeja uma atualização do Código Brasileiro de Aeronáutica. O que deveria ser alterado?
DENISE ABREU - O Código Brasileiro de Aeronáutica reúne funções do espaço aéreo militar e do espaço aéreo civil. Todas as regras, como a autorização de funcionamento jurídico e o Cheta [Certificado de Homologação de Empresa de Transporte Aéreo] estão dentro do código. O primeiro passo é tirar de dentro do código e criar um marco regulatório próprio para a aviação civil. Devemos colocar novas regras sobre a forma de analisar o capital de uma empresa que planeja se constituir como concessionária de serviço público. É importante prever um aporte necessário de recursos para eventuais ações de indenização e de responsabilidade civil das empresas. A idéia é ter recursos para o pagamento em caso de algum acidente, de atraso ou de overbooking. É o que vai dar segurança jurídica para o passageiro poder se socorrer do Judiciário ou administrativamente para ter resguardados os seus direitos constitucionais, como em qualquer setor.
FOLHA - Como é possível mensurar essas despesas?
ABREU - Tem que haver um parâmetro claro dentro da lei. É um cálculo complexo e que ainda precisa ser detalhado. É preciso levar em conta o número de passageiros em cada aeronave e uma média de valor de indenizações. Vou mais além: acredito que deveria existir um fundo nas empresas para cobertura de eventuais ações trabalhistas a fim de assegurar o direito do trabalhador.
FOLHA - Quando essas mudanças devem começar a sair do papel?
ABREU - No começo do próximo ano, teremos um grupo de trabalho constituído para implementar as mudanças.
FOLHA - O que mudou na passagem do DAC [Departamento de Aviação Civil] para a Anac?
ABREU - O enfoque jurídico não era tão minucioso. A imprensa costuma dizer que os diretores da agência não têm brevê. Para ser um bom gestor, não precisa ser um bom piloto. Se pegarmos os grandes executivos do setor é possível verificar isso. O Bologna [presidente da TAM, líder no mercado doméstico] veio do setor bancário. Regulamentar o mercado significa normatizar, aprofundar análises jurídicas. O DAC não tinha o aprofundamento necessário para regulamentar. A missão dele não era essa, o órgão tinha missão específica na segurança de vôo. Uma agência reguladora não pode se limitar a esse aspecto, precisa fazer análise de mercado, da sustentabilidade e do desenvolvimento do setor. Deve normatizar e fazer com que todas as empresas sejam tratadas igualitariamente. Se não forem, elas podem se socorrer do Judiciário.
FOLHA - A Anac surgiu num ano difícil para o setor, com a crise da Varig, o acidente da Gol e a operação-padrão dos controladores de vôo. O que explica essa sucessão de eventos? Os problemas ficaram mais visíveis em uma gestão civil?
ABREU - O acidente da Gol foi uma fatalidade, mas as crises dos controladores e da Varig não nasceram em 2006. Elas simplesmente eclodiram no ano em que a agência foi criada. A entrada de uma agência civil num setor exclusivamente militar areja o setor, de forma que algumas questões que antes não eram tão conhecidas passam a ser divulgadas.
FOLHA - A atuação da agência em relação ao caso Varig já foi alvo de muita crítica. Há quem afirme que a agência opera em nome de TAM e Gol, as duas principais empresas do setor...
ABREU - Refuto veementemente esse tipo de afirmação. Essas empresas são representadas pelo Snea [Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias]. Eu tenho uma ata de reunião promovida pelo sindicato com o juiz Luiz Roberto Ayoub [da 1ª Vara Empresarial do Rio], em que o Snea pediu a transferência da documentação da velha Varig para a nova Varig.
Portanto, na nossa leitura, essas empresas gostariam que a situação fosse imediatamente resolvida para elas saírem da condição de vôo precário e poderem voar definitivamente para os destinos que a nova Varig não for utilizar.
O que o país não pode fazer é impedir que empresas com boa gestão e consistência econômica cresçam, porque aí a gente estaria a reboque da história. Seria um país que paralisaria o crescimento de empresas saudáveis em benefício de quem não é saudável.
Especial
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Ministério Público pede bloqueio de R$ 3,8 bi de dono de frigorífico JBS
- Por que empresa proíbe caminhões de virar à esquerda - e economiza milhões
- Megarricos buscam refúgio na Nova Zelândia contra colapso capitalista
- Com 12 suítes e 5 bares, casa mais cara à venda nos EUA custa US$ 250 mi
- Produção industrial só cresceu no Pará em 2016, diz IBGE
+ Comentadas
- Programa vai reduzir tempo gasto para pagar impostos, diz Meirelles
- Ministério Público pede bloqueio de R$ 3,8 bi de dono de frigorífico JBS
+ EnviadasÍndice