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05/02/2007
-
09h26
MARIA CRISTINA FRIAS
da Folha de S.Paulo
O mercado e o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, vêm divergindo em relação aos juros. Lá, como aqui, uma parcela de economistas considera que os juros básicos estão fora de lugar.
Em divertido relatório na semana passada, a Pimco, grande administradora de recursos, compara as reações do Fed às de um garoto de 17 anos.
"Como pai de um adolescente, meu trabalho noturno se parece muito com o que faço como observador de banco central, mas, cada vez, mais acredito que seja mais fácil antecipar um menino de 17 anos do que um BC", escreve Paul McCulley, diretor da Pimco.
"Garotos de 17 anos, em contraste com os bancos centrais, são rápidos em corrigir desajustes entre as expectativas deles e as dos pais: "Se você pensa que vou sair do computador quando você achar que é hora de dormir, pai, está louco.'"
McCulley afirma que adolescentes de 17 anos não usam jogo de palavras com seus pais como fazem banqueiros centrais, que se valem de ambigüidade, "esperando minimizar a magnitude e o caráter abrupto de suas estratégias".
"BCs detestam o risco de serem condenados por prematuramente mudarem de estratégia em razão de ruído no fluxo de informações, e depois terem que rapidamente reverter na direção oposta, e serem acusados de estar mirando preços de ativos", segundo ele.
Nos EUA, boa parte do mercado reclama da demora do Fed em cortar os juros, depois de iniciar pausa em 8 de agosto.
"O Fed afirmava que seu viés ainda era de alta, e os mercados não queriam acreditar, numa postura ousada e arrogante. Com os números de fevereiro, o mercado "baixou a bola", e as taxas de juros subiram bem", diz Caio Megale, economista da Mauá. Aqui, muitos economistas não concordaram com a redução do ritmo de queda para 0,25 ponto percentual, na semana retrasada, quando os juros recuaram para 13%.
Nos EUA, os juros no curto prazo estão em 5,25%, considerados por muitos especialistas como fora de equilíbrio.
"Isso representa um juro real ao redor de 3%; a inflação, para os padrões deles, também está fora do equilíbrio", diz Alexandre Póvoa, do Banco Modal.
"O Fed está relutando em iniciar o ciclo de quedas dos juros com receio de retirar sustentação do dólar, que poderia enfraquecer rapidamente, elevando a inflação", diz Marcelo Ribeiro, economista da Pentágono.
"Já no Brasil, não vejo motivo para o BC não cortar os juros de maneira mais agressiva diante de um cenário de abundante liquidez global. Essa atuação do BC está colocando o real "grosseiramente" fora de posição", acrescenta.
Para Póvoa, há um medo justificável de que a oferta não responda à demanda no médio e longo prazo. "A demanda cresce a taxas "robustas", conforme diz o BC, mas até onde o juro real pode ser testado, sem comprometer a estabilidade? Cada 1% de juro nominal são R$ 10 bilhões de custo da dívida."
Póvoa lembra que o aumento de importações poderia suprir a demanda, e o BC poderia deixar de ser obrigado a intervir no mercado todo dia para impedir que o dólar despenque.
"Não entendi a queda no corte. Aceitamos juros reais que são mais que o dobro da média dos emergentes", diz Póvoa.
"Como tem medo de ir com muita sede ao pote, o BC tenta amainar os ânimos do mercado. Mas o mercado parece que não ter dado muita bola, e os juros futuros continuaram a cair", diz Megale.
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Banco central dos EUA confunde analistas
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da Folha de S.Paulo
O mercado e o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, vêm divergindo em relação aos juros. Lá, como aqui, uma parcela de economistas considera que os juros básicos estão fora de lugar.
Em divertido relatório na semana passada, a Pimco, grande administradora de recursos, compara as reações do Fed às de um garoto de 17 anos.
"Como pai de um adolescente, meu trabalho noturno se parece muito com o que faço como observador de banco central, mas, cada vez, mais acredito que seja mais fácil antecipar um menino de 17 anos do que um BC", escreve Paul McCulley, diretor da Pimco.
"Garotos de 17 anos, em contraste com os bancos centrais, são rápidos em corrigir desajustes entre as expectativas deles e as dos pais: "Se você pensa que vou sair do computador quando você achar que é hora de dormir, pai, está louco.'"
McCulley afirma que adolescentes de 17 anos não usam jogo de palavras com seus pais como fazem banqueiros centrais, que se valem de ambigüidade, "esperando minimizar a magnitude e o caráter abrupto de suas estratégias".
"BCs detestam o risco de serem condenados por prematuramente mudarem de estratégia em razão de ruído no fluxo de informações, e depois terem que rapidamente reverter na direção oposta, e serem acusados de estar mirando preços de ativos", segundo ele.
Nos EUA, boa parte do mercado reclama da demora do Fed em cortar os juros, depois de iniciar pausa em 8 de agosto.
"O Fed afirmava que seu viés ainda era de alta, e os mercados não queriam acreditar, numa postura ousada e arrogante. Com os números de fevereiro, o mercado "baixou a bola", e as taxas de juros subiram bem", diz Caio Megale, economista da Mauá. Aqui, muitos economistas não concordaram com a redução do ritmo de queda para 0,25 ponto percentual, na semana retrasada, quando os juros recuaram para 13%.
Nos EUA, os juros no curto prazo estão em 5,25%, considerados por muitos especialistas como fora de equilíbrio.
"Isso representa um juro real ao redor de 3%; a inflação, para os padrões deles, também está fora do equilíbrio", diz Alexandre Póvoa, do Banco Modal.
"O Fed está relutando em iniciar o ciclo de quedas dos juros com receio de retirar sustentação do dólar, que poderia enfraquecer rapidamente, elevando a inflação", diz Marcelo Ribeiro, economista da Pentágono.
"Já no Brasil, não vejo motivo para o BC não cortar os juros de maneira mais agressiva diante de um cenário de abundante liquidez global. Essa atuação do BC está colocando o real "grosseiramente" fora de posição", acrescenta.
Para Póvoa, há um medo justificável de que a oferta não responda à demanda no médio e longo prazo. "A demanda cresce a taxas "robustas", conforme diz o BC, mas até onde o juro real pode ser testado, sem comprometer a estabilidade? Cada 1% de juro nominal são R$ 10 bilhões de custo da dívida."
Póvoa lembra que o aumento de importações poderia suprir a demanda, e o BC poderia deixar de ser obrigado a intervir no mercado todo dia para impedir que o dólar despenque.
"Não entendi a queda no corte. Aceitamos juros reais que são mais que o dobro da média dos emergentes", diz Póvoa.
"Como tem medo de ir com muita sede ao pote, o BC tenta amainar os ânimos do mercado. Mas o mercado parece que não ter dado muita bola, e os juros futuros continuaram a cair", diz Megale.
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