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31/03/2007
-
12h15
JANAINA LAGE
da Folha de S.Paulo, no Rio
O aeronauta aposentado Vilmar Mota, 66, acaba de vender o único bem que conquistou, o apartamento onde vivia com a família. Depois de 34 anos na aviação civil, ele está prestes a deixar Niterói para morar em Gravataí, no Rio Grande do Sul.
O ex-piloto Mota é um dos 8.500 beneficiários do Aerus, fundo de pensão dos funcionários da Varig que teve sua intervenção e posterior liquidação decretadas em abril do ano passado e que deve parar de pagar aos beneficiados até junho. A falta de recursos foi resultado da má gestão do fundo aliada ao acúmulo de dívidas da Varig, que várias vezes renegociou pagamento de contribuições.
Nas 22.330 horas de vôo acumuladas, Mota criou uma relação de gratidão com a Varig. Emocionado, ele lembra que, aos 25 anos e quatro de Varig, sua mulher ficou muito doente. Ele não tinha plano de saúde nem como pagar o tratamento. A Varig mandou ele internar a mulher e ofereceu pagamento parcelado em até cinco anos. Quando ele foi olhar a fatura, viu que não tinha mais dívidas.
"Meu chefe me disse que minha mulher tinha estado à beira da morte e que mesmo assim eu nunca tinha perdido um vôo. Por conta disso, eu não devia mais nada. Foi por essa empresa que me apaixonei e a qual dediquei toda a minha vida", afirmou ele, chorando.
Segundo Zoroastro Ferreira Lima, 76, desde a liquidação do fundo, os aposentados vivem em estado de vigília. "Montei uma rede para troca de informações com mais 2.500 aposentados. Fomos injustiçados, mas não perdemos a esperança. Contribuímos a vida toda e temos direito de receber esse dinheiro", disse Lima.
Na tarde de ontem, José da Silva Crespo, interventor do fundo, comunicou aos beneficiários do Plano 1 --que reúne os funcionários mais antigos-- que eles terão mais dois meses a receber. Até a manhã de ontem, eles só tinham garantido o pagamento do dia 3 de abril.
Segundo o comunicado, o Plano 1 precisaria de mais R$ 2 bilhões além dos ativos capitalizados na data da liquidação, de cerca de R$ 156 milhões, para cobrir o pagamento integral dos benefícios.
Nos últimos meses, os beneficiários estão recebendo só 30% do valor dos benefícios. O pagamento de maio terá seu valor reduzido em mais 20%.
O comandante aposentado Mauro Fernandes, 71 anos, passou a receber R$ 1.804 do fundo, além de quatro salários mínimos do INSS. Sustenta seis pessoas. Em 41 anos de profissão, recebeu duas comendas da Aeronáutica e se diz decepcionado com o descaso do governo em relação ao fundo.
Em carta à ministra Ellen Gracie, presidente do Supremo Tribunal Federal, ele destaca o papel da aviação civil no desenvolvimento do país. Os pilotos ficavam semanas em locais isolados como Porto Velho e Rio Branco para auxiliar o mapeamento usado na construção de estradas. Hoje, Fernandes diz viver uma espécie de isolamento social.
"Não posso mais sair com amigos, não tenho dinheiro para mais nada. Invento desculpas, fico constrangido. Não posso mais sustentar um padrão de classe média", disse.
O comissário aposentado Uyranê Holanda, 63, já cortou todo tipo de lazer ou de supérfluo. Viúvo há pouco tempo, Holanda mudou de hábitos e agora faz o serviço doméstico. Ele teme ter que tirar os filhos do plano de saúde. "Como vou poder olhar meus filhos e explicar que não posso pagar? Há noites em que deito na cama e choro sem saber o que fazer. Já tirei meu filho da faculdade."
Os beneficiários do Plano 2 --criado na década de 1990 reunindo funcionários menos antigos-- tem garantidos mais quatro pagamentos, embora o valor represente apenas uma fração dos benefícios. Para cumprir o pagamento, o plano deveria ter mais R$ 1 bilhão em caixa, além dos R$ 534 milhões em ativos que dispunha na data da liquidação.
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Leia cobertura completa sobre a compra da Varig pela Gol
Fundo de pensão da Varig deixa de pagar
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da Folha de S.Paulo, no Rio
O aeronauta aposentado Vilmar Mota, 66, acaba de vender o único bem que conquistou, o apartamento onde vivia com a família. Depois de 34 anos na aviação civil, ele está prestes a deixar Niterói para morar em Gravataí, no Rio Grande do Sul.
O ex-piloto Mota é um dos 8.500 beneficiários do Aerus, fundo de pensão dos funcionários da Varig que teve sua intervenção e posterior liquidação decretadas em abril do ano passado e que deve parar de pagar aos beneficiados até junho. A falta de recursos foi resultado da má gestão do fundo aliada ao acúmulo de dívidas da Varig, que várias vezes renegociou pagamento de contribuições.
Nas 22.330 horas de vôo acumuladas, Mota criou uma relação de gratidão com a Varig. Emocionado, ele lembra que, aos 25 anos e quatro de Varig, sua mulher ficou muito doente. Ele não tinha plano de saúde nem como pagar o tratamento. A Varig mandou ele internar a mulher e ofereceu pagamento parcelado em até cinco anos. Quando ele foi olhar a fatura, viu que não tinha mais dívidas.
"Meu chefe me disse que minha mulher tinha estado à beira da morte e que mesmo assim eu nunca tinha perdido um vôo. Por conta disso, eu não devia mais nada. Foi por essa empresa que me apaixonei e a qual dediquei toda a minha vida", afirmou ele, chorando.
Segundo Zoroastro Ferreira Lima, 76, desde a liquidação do fundo, os aposentados vivem em estado de vigília. "Montei uma rede para troca de informações com mais 2.500 aposentados. Fomos injustiçados, mas não perdemos a esperança. Contribuímos a vida toda e temos direito de receber esse dinheiro", disse Lima.
Na tarde de ontem, José da Silva Crespo, interventor do fundo, comunicou aos beneficiários do Plano 1 --que reúne os funcionários mais antigos-- que eles terão mais dois meses a receber. Até a manhã de ontem, eles só tinham garantido o pagamento do dia 3 de abril.
Segundo o comunicado, o Plano 1 precisaria de mais R$ 2 bilhões além dos ativos capitalizados na data da liquidação, de cerca de R$ 156 milhões, para cobrir o pagamento integral dos benefícios.
Nos últimos meses, os beneficiários estão recebendo só 30% do valor dos benefícios. O pagamento de maio terá seu valor reduzido em mais 20%.
O comandante aposentado Mauro Fernandes, 71 anos, passou a receber R$ 1.804 do fundo, além de quatro salários mínimos do INSS. Sustenta seis pessoas. Em 41 anos de profissão, recebeu duas comendas da Aeronáutica e se diz decepcionado com o descaso do governo em relação ao fundo.
Em carta à ministra Ellen Gracie, presidente do Supremo Tribunal Federal, ele destaca o papel da aviação civil no desenvolvimento do país. Os pilotos ficavam semanas em locais isolados como Porto Velho e Rio Branco para auxiliar o mapeamento usado na construção de estradas. Hoje, Fernandes diz viver uma espécie de isolamento social.
"Não posso mais sair com amigos, não tenho dinheiro para mais nada. Invento desculpas, fico constrangido. Não posso mais sustentar um padrão de classe média", disse.
O comissário aposentado Uyranê Holanda, 63, já cortou todo tipo de lazer ou de supérfluo. Viúvo há pouco tempo, Holanda mudou de hábitos e agora faz o serviço doméstico. Ele teme ter que tirar os filhos do plano de saúde. "Como vou poder olhar meus filhos e explicar que não posso pagar? Há noites em que deito na cama e choro sem saber o que fazer. Já tirei meu filho da faculdade."
Os beneficiários do Plano 2 --criado na década de 1990 reunindo funcionários menos antigos-- tem garantidos mais quatro pagamentos, embora o valor represente apenas uma fração dos benefícios. Para cumprir o pagamento, o plano deveria ter mais R$ 1 bilhão em caixa, além dos R$ 534 milhões em ativos que dispunha na data da liquidação.
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