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23/05/2007
-
09h03
IVONE PORTES
Editora-assistente de Dinheiro da Folha Online
Empresas do setor calçadista já cogitam a possibilidade de suspender pedidos do mercado externo por causa do dólar baixo, segundo o vice-presidente da Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados), Milton Cardoso.
"Os reflexos da queda do dólar sobre o setor são nefastos. Temos notícias de que há um número importante de fábricas dedicadas em grande parte à exportação que já consideram seriamente a hipótese de encerrar as vendas ao mercado externo por absoluta inviabilidade do negócio", afirmou Cardoso.
Essa possibilidade é observada também no setor têxtil, de acordo com o diretor-superintendente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), Fernando Pimentel.
"Com esse câmbio, algumas empresas, estruturalmente, vão manter a produção para a exportação, mas na realidade o que vai ocorrer, sem sombra de dúvida, é uma interrupção das vendas externas. E o Brasil pode regredir com isso", acrescentou Pimentel.
O dólar comercial caiu abaixo dos R$ 2 na semana passada e oscila ao redor deste patamar. Nesta terça-feira, a divisa norte-americana fechou a R$ 1,944.
Para Pimentel, a queda do dólar explicitou uma série de mazelas da economia brasileira que já estavam em debate, mas que nunca foram resolvidas. "Estamos falando de carga tributária, dos juros, de acordos internacionais, de [gargalos] de infra-estrutura e encargos trabalhistas muito onerosos para as empresas."
"Estão dizendo que o dólar reflete a robustez da nossa economia, mas a taxa de juros que temos [12,5% ao ano] não reflete essa robustez. A carga tributária também não. A nossa posição relacionada à questão de infra-estrutura é muito ineficiente como provam os nossos aeroportos e portos. Tudo isso ganhou uma dimensão muito maior e, ou as autoridades trabalham fortemente em uma estratégia de competitividade do país, que contemple essas questões, ou o que nós vamos ver é um revés mais adiante."
Sobrevivência
Na avaliação do vice-presidente da Abicalçados, o movimento do câmbio têm prejudicado dois grupos de empresas: aquelas que são muito voltadas para as exportações e as que atuam no mercado interno e sofrem forte concorrência do produto importado.
"As empresas têm feito o possível e o impossível. Os ganhos de produtividade, as reduções de custos, a racionalização de processos e o desenvolvimento de produtos mais inteligentes têm sido uma constante e permitido ao setor se manter. Mas estamos em um momento em que a grande ação tem que ser macroeconômica, do governo, para resolver uma situação que não foi criada por nós e que ultrapassa os nossos limites", acrescentou Cardoso.
Dados divulgados pela Abicalçados e Abit já evidenciam os reflexos da queda do dólar sobre os negócios nestes dois setores.
O faturamento do setor calçadista com as exportações diminuiu 0,27% no primeiro quadrimestre deste ano em relação a igual período de 2006, ficando em US$ 624,6 milhões. Apesar disso, o saldo comercial do setor está positivo em US$ 559 milhões em quatro meses. O vice-presidente da Abicalçados ressaltou que o Brasil é ainda o terceiro maior produtor de sapatos do mundo.
No caso do setor têxtil, a queda das exportações foi de 0,89%, para US$ 681 milhões. A balança comercial da indústria têxtil já acumula, de janeiro a abril, um déficit de US$ 263 milhões e, segundo estimativa da Abit, deve encerrar o ano com saldo negativo em torno de US$ 1 bilhão.
"O sinal é dramático principalmente para as indústrias intensivas em mão-de-obra e em insumos nacionais", disse Pimentel.
As informações mais recentes sobre emprego industrial levantadas pelo Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) revelam que o setor têxtil reduziu o nível de emprego no Estado paulista em 0,21% no mês passado. O segmento calçadista, entretanto, apontou aumento de 2,71% no total de vagas.
Uma das demandas dos dois setores junto ao governo, de aumento dos impostos sobre importados, em parte, já foi atendida. O governo federal anunciou no mês passado a elevação do imposto de importação de têxteis e calçados de 20% para 35% --o máximo permitido.
No entanto, como os países membros do Mercosul precisam aprovar essa alteração, a nova tarifa só deverá entrar em vigor depois da reunião entre ministros do bloco, prevista para junho.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre a Abit
Leia o que já foi publicado sobre a Abicalçados
Dólar baixo pode levar empresas de calçados e têxtil a cancelar exportações
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Editora-assistente de Dinheiro da Folha Online
Empresas do setor calçadista já cogitam a possibilidade de suspender pedidos do mercado externo por causa do dólar baixo, segundo o vice-presidente da Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados), Milton Cardoso.
"Os reflexos da queda do dólar sobre o setor são nefastos. Temos notícias de que há um número importante de fábricas dedicadas em grande parte à exportação que já consideram seriamente a hipótese de encerrar as vendas ao mercado externo por absoluta inviabilidade do negócio", afirmou Cardoso.
Essa possibilidade é observada também no setor têxtil, de acordo com o diretor-superintendente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), Fernando Pimentel.
"Com esse câmbio, algumas empresas, estruturalmente, vão manter a produção para a exportação, mas na realidade o que vai ocorrer, sem sombra de dúvida, é uma interrupção das vendas externas. E o Brasil pode regredir com isso", acrescentou Pimentel.
O dólar comercial caiu abaixo dos R$ 2 na semana passada e oscila ao redor deste patamar. Nesta terça-feira, a divisa norte-americana fechou a R$ 1,944.
Para Pimentel, a queda do dólar explicitou uma série de mazelas da economia brasileira que já estavam em debate, mas que nunca foram resolvidas. "Estamos falando de carga tributária, dos juros, de acordos internacionais, de [gargalos] de infra-estrutura e encargos trabalhistas muito onerosos para as empresas."
"Estão dizendo que o dólar reflete a robustez da nossa economia, mas a taxa de juros que temos [12,5% ao ano] não reflete essa robustez. A carga tributária também não. A nossa posição relacionada à questão de infra-estrutura é muito ineficiente como provam os nossos aeroportos e portos. Tudo isso ganhou uma dimensão muito maior e, ou as autoridades trabalham fortemente em uma estratégia de competitividade do país, que contemple essas questões, ou o que nós vamos ver é um revés mais adiante."
Sobrevivência
Na avaliação do vice-presidente da Abicalçados, o movimento do câmbio têm prejudicado dois grupos de empresas: aquelas que são muito voltadas para as exportações e as que atuam no mercado interno e sofrem forte concorrência do produto importado.
"As empresas têm feito o possível e o impossível. Os ganhos de produtividade, as reduções de custos, a racionalização de processos e o desenvolvimento de produtos mais inteligentes têm sido uma constante e permitido ao setor se manter. Mas estamos em um momento em que a grande ação tem que ser macroeconômica, do governo, para resolver uma situação que não foi criada por nós e que ultrapassa os nossos limites", acrescentou Cardoso.
Dados divulgados pela Abicalçados e Abit já evidenciam os reflexos da queda do dólar sobre os negócios nestes dois setores.
O faturamento do setor calçadista com as exportações diminuiu 0,27% no primeiro quadrimestre deste ano em relação a igual período de 2006, ficando em US$ 624,6 milhões. Apesar disso, o saldo comercial do setor está positivo em US$ 559 milhões em quatro meses. O vice-presidente da Abicalçados ressaltou que o Brasil é ainda o terceiro maior produtor de sapatos do mundo.
No caso do setor têxtil, a queda das exportações foi de 0,89%, para US$ 681 milhões. A balança comercial da indústria têxtil já acumula, de janeiro a abril, um déficit de US$ 263 milhões e, segundo estimativa da Abit, deve encerrar o ano com saldo negativo em torno de US$ 1 bilhão.
"O sinal é dramático principalmente para as indústrias intensivas em mão-de-obra e em insumos nacionais", disse Pimentel.
As informações mais recentes sobre emprego industrial levantadas pelo Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) revelam que o setor têxtil reduziu o nível de emprego no Estado paulista em 0,21% no mês passado. O segmento calçadista, entretanto, apontou aumento de 2,71% no total de vagas.
Uma das demandas dos dois setores junto ao governo, de aumento dos impostos sobre importados, em parte, já foi atendida. O governo federal anunciou no mês passado a elevação do imposto de importação de têxteis e calçados de 20% para 35% --o máximo permitido.
No entanto, como os países membros do Mercosul precisam aprovar essa alteração, a nova tarifa só deverá entrar em vigor depois da reunião entre ministros do bloco, prevista para junho.
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