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15/12/2000
-
06h00
Veja cronologia da novela da Copene
Fracassa leilão da Copene
SÉRGIO RIPARDO
da Folha Online
Durou 28 horas a batalha judicial que tentou impedir a realização do leilão de venda do controle acionário da Copene (Central Petroquímica do Nordeste), empresa que fatura R$ 3 bilhões, produz 1,2 milhão de toneladas de produtos por ano e representa o "coração" do maior pólo petroquímico da América Latina. A vitória do governo em garantir a reestruturação foi em vão. Ninguém bateu o martelo.
Depois de 56 dias desde o anúncio oficial da venda (19 de outubro), o leilão começou com um atraso de 12 horas e meia. Era uma vitória do governo, que conseguiu cassar uma liminar, por meio do Banco Central e da AGU (Advogacia Geral da União).
A expectativa era de que, finalmente, havia condições para efetivar o início da reestruturação do setor petroquímico no país, após mais de quatro anos de indefinição. A história caminhava, no entanto, para um final frustrante e melancólico para seus personagens.
Os executivos dos controladores da Copene (grupos Mariani, Odebrecht, Suzano, Itochu, Sumitomo e Econômico, sob intervenção do BC) permaneceram, por mais de 15 horas, trancafiados nas dependências da auditoria Andersen Consulting, no bairro do Brooklin (zona sudoeste da capital paulista), aguardando autorização da Justiça para realizar o leilão.
Deixaram o prédio, no iníco da madrugada de hoje, em silêncio, alguns cabisbaixos, sem falar com os jornalistas. O leilão havia fracassado. Motivo oficial: a matemática das cifras sigilosas do negócio, estimado por alguns analistas de mercado em até US$ 1,05 bilhão.
O lance do grupo brasileiro Ultra, que tinha o apoio financeiro do BNDES e da ala nacionalista do governo, tinha sido menor do que o preço fixado pelos vendedores, que preferiram cancelar o leilão.
O grupo argentino Perez Companc nem chegou a apresentar proposta, como já previa o mercado. O objetivo de sua participação foi ter acesso às informações estratégicas dos ativos colocados à venda, segundo analistas. Por isso, pagou R$ 120 mil pelo edital e pelo direito de acessar o data room.
Ninguém pode afirmar com certeza os valores que constavam nos envelopes. O BC não informou nem a porcentagem que separava a oferta do Ultra e o preço definido pelos controladores.
Como é de praxe nesse setor, o mercado começa esta sexta-feira especulando sobre os bastidores do leilão, marcado pela controvérsia e pela desistência, às vésperas, da empresa apontada como favorita, a norte-americana Dow Química.
O diretor de Finanças Públicas e Regimes Especiais do BC, Carlos Eduardo de Freitas, que vibrou no início da noite com a derrubada da liminar, iniciou a madrugada decepcionado com o fracasso do leilão.
"Não há tempo hábil para realizar um novo leilão este ano", disse, na saída da sede da Arthur Andersen.
"Esperávamos um leilão mais competitivo. Erramos o prognóstico", admitiu.
Apesar do mea culpa, afirmou que teve sucesso o modelo adotado no processo (envelopes fechados, sem viva-voz, preço mínimo sigiloso, sem acesso do local pela imprensa).
Hoje, em Brasília, em horário ainda indefinido, o BC começa a avaliar uma nova estratégia para conseguir desatar o chamado "nó da petroquímica brasileira" (participações cruzadas entre as empresas). Nenhuma hipótese está descartada, segundo Freitas. Pode mudar edital, criando novas regras. Vai demorar, pois tudo depende da aprovação dos controladores.
As ações petroquímicas devem sofrer hoje o impacto negativo do fracasso do leilão, ampliando as desvalorizações. Os planos de investimentos de algumas indústrias podem ser refeitos. O setor já vê 2001 com pessimismo, devido às dificuldades de manter as margens de lucro e de repassar aumentos de custos decorrentes da alta do petróleo neste semestre.
A venda da Copene era vista como um passo importante para reorganizar o mapa da petroquímica brasileira, integrando cadeias produtivas, aproveitando sinergias entre os grupos, ampliando escalas de produção. O fracasso do leilão torna essa expectativa incerta.
E-mail: sripardo@folhasp.com.br
Leilão da Copene frustra petroquímica e desafia BC em 2001
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SÉRGIO RIPARDO
da Folha Online
Durou 28 horas a batalha judicial que tentou impedir a realização do leilão de venda do controle acionário da Copene (Central Petroquímica do Nordeste), empresa que fatura R$ 3 bilhões, produz 1,2 milhão de toneladas de produtos por ano e representa o "coração" do maior pólo petroquímico da América Latina. A vitória do governo em garantir a reestruturação foi em vão. Ninguém bateu o martelo.
Depois de 56 dias desde o anúncio oficial da venda (19 de outubro), o leilão começou com um atraso de 12 horas e meia. Era uma vitória do governo, que conseguiu cassar uma liminar, por meio do Banco Central e da AGU (Advogacia Geral da União).
A expectativa era de que, finalmente, havia condições para efetivar o início da reestruturação do setor petroquímico no país, após mais de quatro anos de indefinição. A história caminhava, no entanto, para um final frustrante e melancólico para seus personagens.
Os executivos dos controladores da Copene (grupos Mariani, Odebrecht, Suzano, Itochu, Sumitomo e Econômico, sob intervenção do BC) permaneceram, por mais de 15 horas, trancafiados nas dependências da auditoria Andersen Consulting, no bairro do Brooklin (zona sudoeste da capital paulista), aguardando autorização da Justiça para realizar o leilão.
Deixaram o prédio, no iníco da madrugada de hoje, em silêncio, alguns cabisbaixos, sem falar com os jornalistas. O leilão havia fracassado. Motivo oficial: a matemática das cifras sigilosas do negócio, estimado por alguns analistas de mercado em até US$ 1,05 bilhão.
O lance do grupo brasileiro Ultra, que tinha o apoio financeiro do BNDES e da ala nacionalista do governo, tinha sido menor do que o preço fixado pelos vendedores, que preferiram cancelar o leilão.
O grupo argentino Perez Companc nem chegou a apresentar proposta, como já previa o mercado. O objetivo de sua participação foi ter acesso às informações estratégicas dos ativos colocados à venda, segundo analistas. Por isso, pagou R$ 120 mil pelo edital e pelo direito de acessar o data room.
Ninguém pode afirmar com certeza os valores que constavam nos envelopes. O BC não informou nem a porcentagem que separava a oferta do Ultra e o preço definido pelos controladores.
Como é de praxe nesse setor, o mercado começa esta sexta-feira especulando sobre os bastidores do leilão, marcado pela controvérsia e pela desistência, às vésperas, da empresa apontada como favorita, a norte-americana Dow Química.
O diretor de Finanças Públicas e Regimes Especiais do BC, Carlos Eduardo de Freitas, que vibrou no início da noite com a derrubada da liminar, iniciou a madrugada decepcionado com o fracasso do leilão.
"Não há tempo hábil para realizar um novo leilão este ano", disse, na saída da sede da Arthur Andersen.
"Esperávamos um leilão mais competitivo. Erramos o prognóstico", admitiu.
Apesar do mea culpa, afirmou que teve sucesso o modelo adotado no processo (envelopes fechados, sem viva-voz, preço mínimo sigiloso, sem acesso do local pela imprensa).
Hoje, em Brasília, em horário ainda indefinido, o BC começa a avaliar uma nova estratégia para conseguir desatar o chamado "nó da petroquímica brasileira" (participações cruzadas entre as empresas). Nenhuma hipótese está descartada, segundo Freitas. Pode mudar edital, criando novas regras. Vai demorar, pois tudo depende da aprovação dos controladores.
As ações petroquímicas devem sofrer hoje o impacto negativo do fracasso do leilão, ampliando as desvalorizações. Os planos de investimentos de algumas indústrias podem ser refeitos. O setor já vê 2001 com pessimismo, devido às dificuldades de manter as margens de lucro e de repassar aumentos de custos decorrentes da alta do petróleo neste semestre.
A venda da Copene era vista como um passo importante para reorganizar o mapa da petroquímica brasileira, integrando cadeias produtivas, aproveitando sinergias entre os grupos, ampliando escalas de produção. O fracasso do leilão torna essa expectativa incerta.
E-mail: sripardo@folhasp.com.br
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