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25/02/2001 - 09h10

Salário curto trava venda de comida e roupa

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FÁTIMA FERNANDES e ADRIANA MATTOS
da Folha de S.Paulo

Se o Brasil contar com a expansão das vendas de alimentos e roupas para ter um empurrão a mais na sua economia, pode colocar as barbas de molho. Existem alguns empecilhos para a recuperação desses setores.

Mesmo que haja mais demanda por produtos têxteis, o que não se nota, as empresas que sobraram desse setor estão trabalhando quase no limite da produção.

Em janeiro, a indústria têxtil usava 90,6% de sua capacidade instalada, 2,3% a mais do que em igual mês de 2000, segundo a FGV (Fundação Getúlio Vargas).

No caso dos alimentos, a utilização da capacidade é menor, de 82% em janeiro último. Há, portanto, espaço para crescer. Só que esse setor depende basicamente da expansão da renda real do trabalhador, que caiu perto de 1% no ano passado.

A expectativa de economistas e lojistas é que esses setores ganhem fôlego só a partir do segundo semestre deste ano _e não no segundo trimestre, como se chegou a prever. E, ainda assim, no caso dos alimentos, se a massa real de salários crescer algo próximo de 4% durante o ano.

No embalo do ano passado, o que está vendendo bem neste início de ano são os eletroeletrônicos, como TVs, e os automóveis. Isso porque o dinheiro para o financiamento ao consumidor continua em expansão. E os prazos de pagamento, mais longos.

"Esse é um processo que está apenas começando no Brasil. O crédito vai continuar sustentando o crescimento do país por muito tempo ainda", afirma Darwin Dib, economista do Unibanco.

No Brasil, diz Dib, o total de empréstimos ao setor privado representa 24,6% do PIB (Produto Interno Bruto); na Argentina, 25%; no Chile, 67,3%; e nos EUA, 142,4%. Esses números são de 99. O percentual do Brasil já deve ter chegado a 26% em 2000.

Os estoques de televisores e videocassetes que sobraram do Natal acabaram em janeiro mesmo. Algumas lojas conseguiram vender, nos últimos 50, dias até 30% mais TVs do que no mesmo período do ano passado.

A Eletros, que reúne os fabricantes de eletrônicos, informa que as vendas de eletroportáteis e de aparelhos de imagem e som subiram 30% em janeiro sobre igual período de 2000.

O crescimento nas vendas de carros foi superior a 35% no mesmo período, segundo a Anfavea, a associação das montadoras.

A situação é outra nos setores de alimentos e vestuário. A Apas (Associação Paulista de Supermercados) estima crescimento de 2% nas vendas em janeiro sobre igual mês de 2000.

Pelo levantamento da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, o faturamento real do setor de semiduráveis, no qual estão incluídas as lojas de roupas e calçados, caiu 38% em janeiro deste ano em relação a igual período de 2000. O de bens duráveis (eletrônicos e móveis) cresceu 35,2% no período.

A razão do desequilíbrio no desempenho desses segmentos, segundo especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo, é sobretudo o crédito. Quem financia o consumidor vai bem. Quem vende à vista ou em prazos mais curtos ainda não vê os negócios deslancharem.

"A massa salarial não teve a recuperação esperada no final do ano passado", afirma Caroline Silveira, economista da Tendências. Isso pode atrasar a expansão nas vendas de alimentos.

Apesar de a massa salarial ter crescido 3,7% de janeiro a novembro do ano passado, por conta do crescimento do emprego, houve redução de 0,8% na renda real do trabalhador no período. Como a renda não cresceu, o crédito é o alívio para o consumidor e, como consequência, para os setores que dependem dele.

O valor dos empréstimos dos bancos para pessoas físicas subiu 44%, de R$ 92,5 milhões (dezembro de 99) para R¹ 153,8 milhões (dezembro de 2000). Neste ano, o ritmo dos financiamentos concedidos continua o mesmo.

"Estamos vendendo 32% a mais neste ano do que em igual período do ano passado", afirma Natale Dalla Vecchia, diretor da Lojas Cem, especializada em eletroeletrônicos.

Outro exemplo: as vendas de carros populares, que respondem por 70% dos negócios da indústria automobilística, somaram 62,5 mil unidades em janeiro. São 15 mil carros populares a mais do que em igual mês de 2000.

Detalhe: no ano passado, cerca de 75% das vendas de carros novos foram financiadas. Em 99, esse percentual beirava os 64%, segundo a Anef (Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras). Em 2000, segundo a associação, o valor total dos financiamentos cresceu 67,5% sobre 99, e o número de carros financiados aumentou 48%.

Essa expansão do capital disponível na economia para empréstimos leva, consequentemente, ao aumento do risco de calote.

Bancos e consultorias estão na expectativa para ver como vai se comportar a inadimplência no país em março e em abril, quando será possível ver com mais clareza a quantidade de carnês em atraso resultante das compras de Natal.

Mas já dá para perceber como o consumidor está se comportando em relação às suas dívidas. Pesquisa feita com 650 empresários do varejo em São Paulo mostra crescimento de 20% na inadimplência em janeiro em relação ao mesmo mês do ano passado. De novembro de 2000 a janeiro deste ano a alta foi de 4% sobre novembro de 99 a janeiro de 2000.

O Banco Central confirma. A inadimplência no crédito pessoal teve aumento de 54% de junho de 2000, quando a taxa estava em 3,5% ao mês, a janeiro último, quando fechou em 5,4%. Os números consideram os crediários com atraso acima de 90 dias.

Uma alta exagerada na inadimplência é dor de cabeça na certa para empresas e instituições financeiras. Compromete a expansão dos setores que estão em crescimento, como automóveis e eletroeletrônicos, e de outros que torcem pela expansão dos negócios, como vestuário e alimentos.

 

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