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19/07/2000 - 06h37

"Sem BNDES, não há operação na Vale"

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DAVID FRIEDLANDER, da Folha de S.Paulo

Sem BNDES, não tem jogo. O presidente do conselho da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, diz que a operação de descruzamento entre a Vale e a siderúrgica CSN acaba se não tiver financiamento do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social.

"O BNDES não vai doar dinheiro, então não há por que proibi-lo de financiar", disse Agnelli à Folha.

Embora esteja autorizado pela presidência do banco, o empréstimo foi barrado pela Justiça do Pará, que questiona a venda da Vale, privatizada em 1997.

O financiamento, cerca de US$ 350 milhões, seria concedido para que o grupo Vicunha comprasse as ações da CSN em poder da Bradespar e da Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil).

Bradespar e Previ, por sua vez, comprariam ações da mineradora que hoje pertencem à CSN. Vale e CSN deixariam, assim, de ser sócias uma da outra.
Se a separação realmente não ocorrer, o que é uma hipótese muito remota, as duas empresas poderiam voltar a interferir uma na outra - principal argumento dos que querem o descruzamento, inclusive o governo.

Mesmo assim, Agnelli deve continuar na presidência do conselho, já que foi eleito antes da separação.

Enquanto o descruzamento não deslancha, a Vale vai às compras. Há duas
semanas, a companhia fez uma oferta para comprar uma usina de beneficiamento de minério de ferro no Bahrein, no Golfo Pérsico. A intenção é encurtar a distância com o Japão e com os tigres asiáticos, grandes consumidores mundiais de ferro.

Nos próximos dias, a Vale também dará um lance pela Caraíba, fabricante nacional de concentrado de cobre. Quer dominar o mercado brasileiro de cobre, que hoje importa 80% do que usa.

Também de olho no controle da ferrovia Centro-Atlântica, a maior do país, o presidente do conselho da Vale fala nesta entrevista sobre as conversas com a Votorantim e dos planos para as empresas de alumínio, papel e celulose da companhia:

Folha - O que acontece se o BNDES for proibido de financiar o descruzamento entre a Vale do Rio Doce e a CSN?
Roger Agnelli - Se isso acontecer não tem mais operação de descruzamento.

Folha - Não dá para buscar empréstimo em outro banco?
Agnelli - Preferimos acreditar que a operação sai como foi desenhada. O BNDES é um banco de desenvolvimento, seu papel é financiar bons projetos. Ele não vai fazer doação de dinheiro, então não há por que proibi-lo de financiar. O BNDES entende que o descruzamento é importante. Não só para a Vale, a CSN e seus acionistas, mas para o país. Com a separação as empresas irão se focar em suas atividades e isso permite novos investimentos, crescimento, desenvolvimento.

Folha - Antonio Ermírio de Moraes está negociando a entrada da Votorantim na Vale?
Agnelli - Não, não está. O grupo Votorantim manifestou interesse na área de papel e celulose da Vale (as fábricas Bahia Sul e Cenibra). Assim como ela, outros grupos também estão interessados.

Folha - Para muitos analistas, a Vale precisa de um sócio estratégico, um operador ...
Agnelli - Operador para quê? O sócio estratégico da Vale é a própria Vale. Ela é líder nos setores em que atua. O time de executivos é de primeira linha, tem reconhecimento internacional.

Folha - Temos informações de que, há duas semanas, a Vale fez proposta para comprar uma usina de beneficiamento de minério no Bahrein. O sr. pode confirmar?
Agnelli - A Vale tem olhado vários projetos que têm a ver com minério de ferro no exterior. E a usina de Bahrein se encaixa nessa estratégia. Manifestamos interesse, mas ainda não temos resposta.

Folha - Em que ponto está a negociação com a Caraíba?
Agnelli - Estamos pensando em fazer uma proposta assim que o estudo sobre a Caraíba terminar. Faz todo o sentido. Temos uma reserva mineral bastante importante, que nos próximos quatro anos deve aumentar substancialmente nossa produção de cobre. A Caraíba, por sua vez, é processadora de cobre. Hoje, cerca de 80% do concentrado de cobre usado no país é importado. A Vale poderia contribuir com a substituição de importação.

Folha - A Vale também já teria combinado a compra do controle da ferrovia Centro-Atlântica por cerca de R$ 300 milhões ...
Agnelli - A Centro-Atlântica faz parte do sistema de logística da Vale do Rio Doce. Como a Vale já é sócia estratégica, é ela que opera a ferrovia, a gente teria interesse em adquirir o controle acionário se houvesse essa possibilidade. Só que o edital de privatização limitou a participação máxima de cada sócio em 20% do capital votante. Temos conversado com os órgãos concedentes para ver se isso pode ser mudado. Sobre o valor, não há valor para comentar.

Folha - E as fábricas de alumínio, papel e celulose? Muita gente aposta que elas serão vendidas ...
Agnelli - Em relação a papel e celulose estamos terminando estudos para ver o que fazer com essa operação, seja por meio de uma associação ou da venda. Não está claro ainda.

Folha - Vale o mesmo raciocínio para o setor de alumínio?
Agnelli - Essa é outra história. Não estamos pensando em vender. Essa área cresce ou se associa, dificilmente fica do tamanho que está. Só que qualquer tipo de associação ou de novo investimento está muito vinculado à produção de energia. Esse não é só um problema da Vale, é de toda a indústria brasileira de alumínio. O que a gente tem que analisar é se teremos energia a custo compatível com a indústria de alumínio.

Folha - O sr. já sabe para quem o Bank of America vai vender as ações da Vale que acaba de comprar do investidor George Soros?
Agnelli - Estamos aguardando. Mesmo que seja uma mineradora, como já se especulou, isso não preocupa. Quem quer que seja terá uma participação muito pequena, que não muda a composição acionária dentro da Valepar (empresa que tem o controle da Vale do Rio Doce).

E se for uma mineradora concorrente?
Agnelli - Por ser uma participação minoritária, nenhuma mineradora concorrente entraria numa condição de potencial conflito de interesse sem antes conversar com os outros sócios da Valepar. E até agora ninguém nos procurou.

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