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10/03/2001 - 12h23

Quem vendeu ações se deu melhor do que quem comprou

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FLOYD NORRIS
do The New York Times

Apenas um ano atrás o mercado de ofertas públicas iniciais estava febril, com os investidores ávidos para embarcar no que muitos consideravam uma viagem para a riqueza garantida.

Obter o direito de comprar um novo título pelo preço de oferta era considerado privilégio. Enquanto poucos anos antes era uma grande notícia quando uma nova oferta dobrava de preço no primeiro dia, no inverno passado, isso era considerado quase rotina.

Durante o período mais frenético de seis semanas de 31 de janeiro a 10 de março, data em que a Nasdaq atingiu seu valor máximo, 77 empresas abriram o capital. Quase a metade delas havia dobrado o capital no fechamento do primeiro pregão.

A experiência mostra a grande verdade da máxima de que a época é tudo. Naquela época, não importava se um investidor em novas ofertas escolhesse empresas boas ou más. Se ele vendesse rapidamente, teria lucros. Mas, se segurasse, as perdas se acumulariam em quase todas as compras.

Na média, as ações que quadruplicaram no primeiro dia de negócios caíram 91% desde então. As ações que triplicaram perderam 87%, e as que dobraram caíram 83%. Mas as que nem sequer dobraram baixaram apenas 66%.

Os investidores aplicaram US$ 11,3 bilhões para comprar ações das novas companhias, e os que entraram foram recompensados. Em 10 de março essas ações estavam valendo US$ 25,9 bilhões.

Mas os que ficaram no negócio sofreram. Um ano depois, essas ações valem US$ 5,3 bilhões, uma queda de 53% do preço inicial.

Algumas empresas já faliram. Outras estão penduradas, com pouca chance de levantar mais dinheiro nos mercados de capitais.

Apenas três das empresas estão vendendo hoje acima do que vendiam no primeiro dia na Bolsa, e apenas quatro estão valendo mais que seus preços de oferta.

Entre os piores desempenhos estão empresas estrangeiras, como a Crayfish, uma subscrição da Morgan Stanley que deveria dominar o mercado de e-mail japonês e que saltou 414% no primeiro dia de pregão. De modo semelhante, a Gigamedia, uma oferta da Goldman Sachs que fornece serviços de Internet em Taiwan, subiu 226% no primeiro dia.

Mas também não faltaram desastres nos EUA. A Buy.com, varejista da Internet que subiu 93% no primeiro dia de negociação, está hoje demitindo funcionários e lutando para sobreviver.

Duas empresas, porém, merecem atenção. A Palm foi a mais bem-sucedida dessas empresas _e atraiu intensas especulações. E a Turnstone Systems, que projeta e comercializa sistemas de telecomunicações, foi uma grande vencedora no início dos negócios e continuou subindo muito depois que a Nasdaq despencou.

A Palm é líder na dinâmica e crescente indústria de agendas eletrônicas de mão. Das 77 novas emissões, ela teve o maior rendimento anual, de US$ 735 milhões, e o maior lucro, US$ 36 milhões.

Foi a uma nova oferta não apenas porque queria levantar capital, mas porque seus executivos estavam querendo independência da 3Com, a matriz, cujos outros negócios não iam tão bem.

Desde que abriu seu capital, a Palm se saiu bem como empresa. Ainda tem mais de 50% do mercado de dispositivos pessoais portáteis, e a concorrente número dois, Handspring, usa tecnologia Palm e lhe paga taxas de licença.

Mas seus lucros vacilaram, em parte devido à nova concorrência. Foi uma decepção como ação.

Quando a 3Com se candidatou a abrir o capital da Palm, numa subscrição da Goldman Sachs, estimou seu preço de oferta em US$ 14 a US$ 16 por ação. A proposta desencadeou um frenesi que elevou o preço da ação da 3Com. Quando as ações da Palm foram vendidas, em 2 de março, o preço inicial foi de US$ 38, e as ações terminaram o dia em US$ 95. Hoje a Palm é negociada a US$ 22,06.

Se a Palm ilustra o risco de se comprar mesmo boas empresas quando as avaliações estão infladas por uma bolha, a Turnstone mostra que a própria bolha pode criar a breve ilusão de sucesso.

Quando entrou na Bolsa, a Turnstone tinha um faturamento de US$ 27 milhões nos últimos 12 meses _primeiro ano de operação. A companhia, que fabrica equipamento para as empresas telefônicas oferecerem acesso de alta velocidade à Internet em linhas normais, apresentou dois trimestres de lucros.

A oferta foi um sucesso imediato e _ ao contrário da maioria das empresas que entraram na Bolsa nesse período_ sua ação continuou subindo. A empresa cresceu rapidamente, com faturamento trimestral subindo de US$ 12 milhões nos últimos três meses de 99 para US$ 23 milhões, US$ 41 milhões e US$ 56 milhões nos trimestres seguintes.

A ação, que triplicou no primeiro dia, para US$ 48,50 cada, se ajustou para uma nova oferta posterior e só teve seu pico em julho, quando alcançou US$ 107.

Mas a empresa deixou de cumprir suas promessas. Suas vendas foram para operadoras locais que surgiram para competir com as telefônicas locais usando os cabos das próprias telefônicas, que era uma condição da desregulamentação. Muitas dessas companhias acharam fácil obter financiamento, o que as deixou em posição de fazer encomendas à Turnstone e suas concorrentes. A bolha que elevou o preço da ação da Turnstone também forneceu dinheiro para seus clientes gastarem.

Mas nenhuma dessas empresas encontrou um modo de gerar lucros, e, quando a bolha da Nasdaq estourou, seu financiamento começou a secar. A Turnstone entrou no quarto trimestre de 2000 esperando outro ganho de faturamento, mas, quando os números finais chegaram, as vendas haviam caído quase pela metade do trimestre anterior, para US$ 29 milhões. Hoje ela espera um faturamento de apenas US$ 5 milhões neste trimestre.

O que deu errado? Muitos clientes da companhia estavam falindo, cancelando pedidos e, em alguns casos, não pagando o equipamento que já havia sido entregue. A tecnologia estava melhorando, deixando a Turnstone com um estoque de mercadoria obsoleta que tinha de ser remarcada.

E para alguém que realmente quisesse o equipamento da Turnstone havia surgido um mercado paralelo, quando os clientes tentaram vender equipamento que tinham comprado mas não desejavam mais.

Em qualquer caso, os fundadores da Turnstone estão em boa posição. Quando a Goldman, Sachs colocou a empresa na Bolsa, em fevereiro, os prospectos revelaram que eles tinham o direito de começar a vender suas ações em 15 de maio, um período incomumente curto, menos de três meses depois. Eles não perderam um dia.

Os três fundadores da empresa _P. Kingston Duffie, Richard N. Tinsley e M. Denise Savoie_ se sairão bem mesmo que a sorte da empresa não se reanime.

Os três _nenhum dos quais quis ser entrevistado para esta reportagem_ iniciaram a Turnstone em 1998 com um investimento total de US$ 8.500.

Começaram a vender em 15 de maio e continuaram a fazê-lo até setembro. A Turnstone levantou mais dinheiro vendendo ações em uma nova oferta, por US$ 50 a ação, ou menos da metade do preço máximo. Os fundadores também venderam nessa ocasião, arrecadando mais US$ 17,3 milhões.

Em resumo, eles lucraram no ano passado US$ 63,9 milhões vendendo ações. Seu preço de venda médio foi mais de US$ 52 por ação. Ontem sua cotação fechou em US$ 8,25.

A experiência ressalta o fato mais óbvio do grande boom de ofertas públicas iniciais. Foram os vendedores, e não os compradores, que acabaram ganhando dinheiro.

 

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