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15/03/2001 - 09h10

Brasil não ganha com veto dos EUA à carne da Europa

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FÁTIMA FERNANDES
da Folha de S.Paulo

O Brasil não vai sair ganhando com o veto dos Estados Unidos à importação de carne da Europa, como se podia imaginar. Primeiro porque os países europeus abastecem os EUA de carnes exóticas, o que não é o forte do Brasil. Segundo porque o volume que os europeus vendem no mercado norte-americano é pequeno.

"Essa medida não tem nenhum impacto no Brasil", afirma Marco Bicchieri, gerente de exportação do frigorífico Bertin, um dos maiores exportadores de carnes do país. O que pode ter reflexo no país, diz, é a decisão da União Européia (UE) de suspender a importação de carne da Argentina em razão de um foco de febre aftosa na Província de Buenos Aires, a maior área de criação de gado naquele país.

Frigoríficos ouvidos ontem pela Folha acham que o Brasil poderá substituir a carne argentina em alguns países da Europa. Os italianos, por exemplo, gostam da carne zebuína (de origem indiana), típica brasileira. Mas os alemães preferem a carne do gado europeu, típica da Argentina.

"A proibição da carne argentina na Europa pode vir a ajudar a venda da carne brasileira em alguns países, mas ainda é cedo para mensurar", diz Edivar Vilela de Queiroz, presidente da Abiec, associação dos exportadores de carnes. Na próxima quarta-feira, os diretores da associação vão se reunir para discutir o assunto.

A Argentina, segundo ele, exporta para a Europa cerca de 240 mil toneladas por ano de carne. O Brasil, cerca de 312 mil toneladas. Além de a carne exportada pelos dois países ser diferente devido ao tipo do gado, o Brasil não tem condição de elevar significativamente as exportações para qualquer mercado do dia para a noite.

O Brasil exporta basicamente 8% da sua produção de carnes e tem condições de elevar esse percentual para 10% neste ano, segundo alguns frigoríficos. A expectativa é chegar a 15% até 2005. Para que isso ocorra, os frigoríficos vão ter de fazer investimentos para expandir o volume de abates e também de produção de carnes.

Os países europeus são os principais clientes dos frigoríficos brasileiros. Do total das exportações brasileiras de carnes, de aproximadamente US$ 650 milhões no ano passado, segundo a Abiec, a Europa participou com cerca de 60%. EUA e Canadá, com 11%. O restante está dividido entre Ásia e Oriente Médio.

Apesar de os frigoríficos estarem se preparando para crescer no mercado externo, eles estão preocupados com o efeito das doenças do gado bovino -a febre aftosa e o mal da vaca louca- na cabeça do consumidor.

"O consumidor acaba ficando confuso ao ouvir falar de boicotes entre os países e das doenças dos animais e acaba diminuindo as compras de carne bovina", diz Bicchieri, do Bertin.

Frango
Os exportadores de frango já estão sentindo isso. A Osato Alimentos, por exemplo, depois de tentar durante muitos anos conseguiu finalmente fechar contrato no final do ano passado para exportar 200 toneladas por mês de filé de peito de frango para a Alemanha e para a Holanda.

A Sadia também acabou se beneficiando com o mal da vaca louca e a febre
aftosa. A empresa espera para este ano um crescimento de 20% nas suas exportações, que em 2000 somaram US$ 420 milhões. Parte desse crescimento, segundo ela, é atribuída aos problemas enfrentados pela carne bovina na Europa.

"O mercado europeu estava praticamente fechado para a carne de frango do Brasil. Só que agora os europeus estão assustados e passaram a substituir a carne bovina pela de frango", diz Célio Terra, presidente da Associação Paulista de Avicultura (Apa).

Segundo ele, o Brasil deve elevar 10% as vendas externas neste ano, o que significa exportar cerca de US$ 1 bilhão. A Europa, que tem participação quase inexpressiva nas exportações de frango, diz, deve ajudar esse crescimento.

"Alemanha, França e Bélgica são alguns dos países que estão bem preocupados com as doenças do gado. Eles ficaram bem assustados com a existência da febre aftosa no gado argentino", diz Terra. A Ásia é o principal mercado do Brasil -participa com 58% das exportações brasileiras de frango. Outro mercado importante, e que está aumentando as compras do Brasil, diz Terra, é o Oriente Médio.

Os frigoríficos brasileiros acham que o impacto a curto prazo do boicote à carne argentina pelos europeus pode ser nos preços no mercado internacional. Eles entendem que, se a oferta cai, no caso de a Argentina não ser mais fornecedora, o preço sobe. O que seria bom para o Brasil. E isso considerando que o consumidor europeu não iria trocar a carne vermelha pela branca.

Se isso acontecer, como esperam os frigoríficos, Vilela de Queiroz acha que os preços em dólar da carne bovina exportada pelo Brasil pode subir entre 7% e 10% este ano.
 

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