Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
30/04/2001 - 08h51

Mercado descobre que os anos dourados começam aos 60

Publicidade

PAULA PAVON
da Folha de S.Paulo

A vida, diferentemente do que reza o ditado, não começa aos 40. Ela começa mesmo depois dos 60. É nessa fase que boa parte das pessoas chega à maturidade financeira, os filhos não dependem mais do seu salário ou estão casados e, mesmo aposentados, muitos idosos continuam na ativa.

De acordo com dados do IBGE, quase um terço dos 14,5 milhões de brasileiros com mais de 60 anos está trabalhando. Desses ativos "velhinhos", três milhões são aposentados. A dupla receita _da pensão e do trabalho_ pode explicar o fato de que os trabalhadores entre 60 e 64 anos estão nas faixas mais altas de renda.

Dados da Pesquisa Mensal de Salário e Emprego do IBGE, de novembro do ano passado, mostra que a renda real média dessas pessoas é de R$ 911,03 mensais. Em 1994, ano do plano Real, era de apenas R$ 715,35.

Sem escolas dos filhos para pagar, sem crianças para criar e com uma renda real mais alta em decorrência do fim da inflação, esses idosos têm mais condições de consumir, poupar ou investir.

"Faço aplicações em CDB porque acho mais seguro", diz o aposentado Jaime Kuperman, 86, que é aluno da PUC de São Paulo (Pontifícia Universidade Católica) no curso para terceira idade. "Só não gosto muito de ir ao banco porque acho que falta segurança para pessoas de mais idade."

As aulas de economia da PUC são as mais disputadas pelos alunos idosos. "São pessoas bem informadas que querem discutir temas atuais, como a crise da Argentina, para saber como conduzir melhor seus investimentos", afirma o professor da disciplina Hélio Corrêa Lino.

O aposentado Sebastião Pereira Marques, 75, dispensa os ensinamentos dos bancos escolares e dos analistas na administração de sua carteira de investimentos.

Contrariando o que ensinam os livros e os entendidos do mercado de ações, que dizem ser a Bolsa um terreno perigoso para pessoas de idade avançada, ele aplicou em ações parte do patrimônio que acumulou ao longo de mais de 40 anos de trabalho como contador.

"Só compro ações de primeira linha e acompanho diariamente o mercado", diz Marques, que passa pelo menos três horas de seu dia no "aquário", local destinado para investidores dentro da Bolsa de Valores de São Paulo.

Com tal estratégia, ele já se deu muito bem: chegou a ganhar R$ 200 mil em 1997, antes da crise da Ásia. Mas, também, já quebrou a cara: "No ano passado perdi R$ 50 mil com ações da Globo Cabo."

Se no passado o idoso representava um ônus para os bancos, que por lei eram obrigados a pagar sua aposentadoria, hoje ele é cobiçado pelas instituições. "Estudamos o perfil desse cliente, criamos produtos específicos para ele e o tornamos rentável", diz Pedro Marcos Boszczovski, gerente de marketing do HSBC.

Para as instituições financeiras, ter um cliente idoso é vantajoso porque o nível de inadimplência nessa faixa etária é menor. "O risco de crédito é baixo, pois esse cliente tem um vínculo com a instituição dado pelo recebimento da aposentadoria", diz Guilherme Meneghetti, gerente-executivo do Banco do Brasil.

Boszczovski diz que o risco também é baixo porque as pessoas acima de 60 anos têm uma vida financeira controlada. "Elas sabem como conduzir seu orçamento."

A maioria dos bancos oferece vantagens para os aposentados, que vão desde linhas de crédito e cartões de crédito com taxas mais baixas, até atendimento com hora marcada, para evitar filas de espera.

Todas essas regalias não vêm de graça: os bancos estão de olho numa população que não pára de crescer. Em 1992, o número de brasileiros com mais de 60 anos de idade era de 11,4 milhões, segundo dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), do IBGE.

Em 1999, a última pesquisa feita, foi registrado um aumento de 3,1 milhões de pessoas nesse contingente, resultado do crescimento vegetativo e do aumento gradual da esperança média de vida. As estimativas para os próximos 25 anos indicam que essa população poderá ser superior a 30 milhões.

E o que é melhor: com renda. Segundo dados da última POF (Pesquisa de Orçamento Familiar), a renda familiar dos núcleos comandados por quem já passou dos 60, é a mais alta da pirâmide social: R$ 2.128,76.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página