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14/05/2001 - 10h09

Crise de energia desvaloriza papéis das elétricas

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PAULO HENRIQUE DE SOUSA
da Folha de S.Paulo

O racionamento de energia e a alta da cotação do dólar estão apagando o brilho do setor elétrico na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo). As ações das empresas desse segmento estão entre as que mais perderam nos últimos dias. "Nas últimas duas semanas, houve uma verdadeira desova desses papéis", constata Gustavo Alcântara, analista do banco Prosper.

A crise do setor energético brasileiro já era prevista há muito tempo, mas só recentemente é que os agentes do mercado perceberam que as empresas de energia elétrica serão seriamente penalizadas pelo racionamento.

É difícil mensurar quanto, de fato, as empresas vão perder (ou deixar de ganhar), mas o mercado já está dando mostras de descrédito. Segundo levantamento da Economática, do início de março até o último dia 10, o setor elétrico é o que apresenta a maior desvalorização da Bovespa --18%.

Em segundo, está o setor de metalurgia, com 14% _ambos perdendo para o Ibovespa (índice que reúne as 55 ações mais negociadas da Bolsa). As metalúrgicas e mineradoras estão entre as maiores consumidoras de energia e também podem estar sofrendo com a perspectiva caótica do setor elétrico.

Na semana passada, as ações da Gerasul despencaram 15%, as da Eletropaulo, 14% e as da Eletrobrás, 11,7%. Os papéis da Light e os da Transmissão Paulista perderam 12%. Nem a Copel, em pleno processo de privatização, escapou da maré negra _caiu 10%.

O primeiro impacto do racionamento é a redução das receitas das empresas, já que elas vão vender menos. A retração do faturamento em consequência do corte de energia não poderá ser compensada com simples elevação de tarifas. "O governo tem de cumprir as metas de inflação", lembra José Paulo Bahia, da AQM Consultoria. Qualquer reajuste de tarifas refletiria nos índices de inflação.

Bahia calcula que a perda de receita das companhias de energia elétrica deve variar de 8% a 10%, se o racionamento ficar em torno dos 20%, como anunciado pelo governo.

André Litmanowicz, da Arthur D. Little, concorda que "a perda será grande, sim". Ele explica que, com o racionamento, haverá um descasamento entre os investimentos e as receitas, já que aqueles são feitos com base em projeções de uma demanda que não vai se concretizar.

Já o vice-presidente da Ernst & Young, Paulo Roberto Feldmann, avalia que as perdas não serão tão grandes. Ele concorda que haverá redução do faturamento, mas os lucros das empresas seriam menos afetados. Feldmann justifica que, ao mesmo tempo que vão vender menos, as distribuidoras também vão comprar menos energia das geradoras.

O professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Fernando Garcia de Freitas observa que as distribuidoras de energia que atendem às grandes áreas urbanas do país, como Eletropaulo (São Paulo) e Light (Rio de Janeiro), podem perder mais receitas do que as demais.

Alcântara, do Prosper, conta que as ações do setor de energia elétrica desvalorizaram muito nos últimos quatro anos. As ações da Eletrobrás, por exemplo, valem hoje quase a metade do ápice que atingiram em 1997.

As empresas já estão fazendo as contas de quanto vão perder, mas não revelam os números. Até porque não têm certeza do tamanho do corte no fornecimento de energia. A assessoria de imprensa da Light, por exemplo, diz que a empresa não pode comentar um assunto que pode ter impacto no mercado, já que envolve o faturamento da empresa.

Amanhã, a distribuidora fluminense divulgará o resultado do primeiro trimestre. Alcântara diz que a expectativa é a pior possível. Ele diz que o resultado vai ser ruim e poderá fazer com que os analistas tenham que rever as projeções de lucro da empresa para este ano.

O diretor de investimentos da Planner Corretora, Luiz Antônio das Neves, considera exagerada a queda dos papéis de energia elétrica. A principal ação do setor, Eletrobrás, caiu 29% desde o início de abril. Alcântara concorda e diz que vai haver bons momentos de compra desses papéis, antes do final do ano. O problema é acertar o tempo, já que, até lá, as ações ainda podem cair mais.

 

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