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20/05/2001 - 08h41

Moradores da zona rural de Furnas vivem sem luz

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ELIANE SILVA
da Agência Folha, em Delfinópolis (MG)

Savina Maria de Jesus, Iva Maria de Souza, Antonio Costa Marques e Claudio dos Reis Barbosa vivem no escuro apesar de morar na região de uma das maiores usinas hidrelétricas do país, no sudoeste de Minas Gerais. Eles estão entre os 30% de habitantes da zona rural na área da hidrelétrica de Furnas que não têm acesso à energia elétrica. Dos quatro, apenas o trabalhador braçal Barbosa, 28, já tinha ouvido falar na possibilidade de racionamento de energia. Ele resume o pensamento dos companheiros sobre o corte: "Para mim, não faz diferença porque eu não tenho mesmo".

Barbosa mora na mesma casa desde que nasceu. A mãe e as quatro irmãs se mudaram para a cidade de São João Batista do Glória, onde têm energia e outras comodidades. "Fiquei porque gosto mais da roça e já estou acostumado com essa vida." Ele diz que à noite carrega a lamparina por onde vai. "É até bom porque a fumaça espanta os pernilongos".

Savina, 74, solteira, analfabeta e aposentada, também nunca morou em uma casa com energia elétrica. Ela nasceu e vive em um sítio no Barreiro, bairro de Guapé. Há 20 anos, ela mora sozinha na casa de três cômodos construída em mutirão por seus vizinhos para substituir a velha residência que estava desabando. Suas companhias são um cachorro, algumas galinhas e vacas.

Há dois anos, a maioria dos sítios vizinhos de Savina instalou luz elétrica. "Dá para ver o poste daqui (distância de cerca de 300 m), mas não fui atrás disso. Não fez falta ainda." Ela conta que usa uma lamparina à noite e conserva a carne frita na gordura de vaca. Diz ainda que conhece geladeira e televisão, mas está acostumada a viver sem "esses luxos". Questionada se tem medo da solidão ou da escuridão, responde: "Não. Aqui é sempre muito tranquilo".

O trabalhador rural Marques, 43, solteiro, também viveu toda sua vida em locais sem energia, mas gostaria de mudar isso. Ele mora com um irmão num sítio na mata dos Marques, em Delfinópolis. Quando chove, só é possível chegar ao local a cavalo. "Ganho salário mínimo e não dá para pagar a ligação", afirma. Ele estima que gastaria cerca de R$ 2.000 para ligar sua casa à rede de energia. Geladeira e ferro elétrico. Esses são os itens que a dona-de-casa Ida, 52, afirma sentir mais falta em sua casa própria de quatro cômodos na zona rural de Delfinópolis. Ela se mudou para o sítio há quatro anos com o marido e afilha mais nova. Eles plantam arroz e milho para a subsistência.

Índice
José Rogério Lara (PMDB), prefeito de Guapé, diz que a média de 30% de propriedades rurais sem luz no seu município é semelhante ao índice das outras cidades da região. Ele preside a Alago, associação que reúne os 34 municípios em torno de Furnas que cederam área para a formação do reservatório. Lara afirma, no entanto, que o percentual de energia da zona rural vem subindo ano a ano e que os investimentos em eletrificação rural não vão parar mesmo com a possibilidade de racionamento. Na zona urbana, 100% das casas têm luz elétrica.

O prefeito de Delfinópolis, Fernando José Pinto (PMDB), estima que de 20% a 30% das propriedades rurais do município estão sem luz. Ele diz que nos próximos meses mais 30 sítios do município receberão energia.
Segundo a assessoria de imprensa da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), o governo de Minas lançou em 1999 o projeto Lumiar, com o objetivo de eletrificar 185 mil propriedades rurais. Cerca de 85 mil foram atendidas até agora.

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