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13/06/2001
-
07h31
CLÓVIS ROSSI
Colunista da Folha de S.Paulo
O governo brasileiro recebe hoje o ministro argentino da Economia, Domingo Cavallo, que está sendo chamado, em setores da diplomacia, de "Mr. Hyde", como contraponto ao "Dr. Jekill" (personagens de "O Médico e o Monstro"), que seria o chanceler Adalberto Rodríguez Giavarini, que virá na semana que vem.
Embora membros do mesmo governo, Cavallo e Giavarini têm tido comportamento absolutamente divergente em relação ao Brasil e ao Mercosul. Cavallo ataca o Brasil e o Mercosul cada vez que dá alguma entrevista.
O chanceler, ao contrário, sempre elogia o governo brasileiro e defende o Mercosul.
O contraponto "Médico/Monstro" será seguido à risca pelo Itamaraty, que preferiu estender o tapete vermelho só para Giavarini. Cavallo será tratado como uma visita das autoridades econômicas, tanto que o chanceler Celso Lafer se deslocará à Fazenda para participar da reunião matinal entre o ministro argentino, Pedro Malan e o presidente do BC, Armínio Fraga.
Mas o almoço de Cavallo será com o próprio presidente Fernando Henrique, que foi quem acertou diretamente a visita de Cavallo, por acaso ou intencionalmente, não se sabe ao certo.
O fato é que FHC telefonou, na quinta-feira passada, para seu colega De la Rúa, que estava ao lado de Cavallo e também do chanceler Giavarini. De la Rúa passou o telefone a Cavallo, e FHC acabou fazendo o convite, até porque já estava agendada também uma visita de Giavarini (no dia 19).
O almoço com Cavallo dará a FHC a oportunidade de explicitar o mal-estar brasileiro com o tiroteio verbal a que o ministro argentino submete o Mercosul, a menina dos olhos da diplomacia brasileira. O presidente chegou a cancelar uma viagem a Buenos Aires, em abril, alegando problemas de agenda, para mostrar o descontentamento com as sucessivas críticas do ministro argentino.
Ainda em abril, FHC cobrou de De la Rúa, quando se encontraram em Québec, durante a Cúpula das Américas, qual posição valia, se a do "Monstro" Cavallo ou a do "Médico" Giavarini, em relação ao Mercosul.
Ouviu o óbvio: valem as juras de amor do chanceler, referendadas sempre pelo presidente.
Não adiantou nada: Cavallo nos momentos seguintes voltou a criticar o Brasil, a ponto de dizer que o país "rouba" os vizinhos, quando desvaloriza sua moeda.
Por isso mesmo, FHC terá sobre a mesa, hoje, um estudo preparado pela Embaixada do Brasil em Buenos Aires que mostra que a Argentina não está sendo "roubada": em todos os anos desde 1995 (quando se iniciou o governo FHC), a Argentina tem saldo comercial positivo com o Brasil (exporta mais que importa).
Mesmo em 1999 e 2000, anos de desvalorização do real, o saldo foi favorável à Argentina (US$ 448 milhões e US$ 610 milhões, respectivamente).
Aliás, nos primeiros quatro meses do ano, apesar de o real estar despencando, o saldo argentino aumentou na comparação com o primeiro quadrimestre de 2000, passando de US$ 207 milhões para US$ 309 milhões.
As visitas de Cavallo e Giavarini são uma tentativa de evitar que os dois principais sócios do Mercosul cheguem à Cúpula do bloco (na semana que vem, em Assunção) com divergências públicas tão expostas como ficaram nos meses mais recentes.
Mas com os dois países enfrentando graves dificuldades, é altamente improvável que consigam dar ao Mercosul a atenção e o carinho dos tempos mais tranquilos.
Cavallo e FHC tratam de divergências sobre o Mercosul
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Colunista da Folha de S.Paulo
O governo brasileiro recebe hoje o ministro argentino da Economia, Domingo Cavallo, que está sendo chamado, em setores da diplomacia, de "Mr. Hyde", como contraponto ao "Dr. Jekill" (personagens de "O Médico e o Monstro"), que seria o chanceler Adalberto Rodríguez Giavarini, que virá na semana que vem.
Embora membros do mesmo governo, Cavallo e Giavarini têm tido comportamento absolutamente divergente em relação ao Brasil e ao Mercosul. Cavallo ataca o Brasil e o Mercosul cada vez que dá alguma entrevista.
O chanceler, ao contrário, sempre elogia o governo brasileiro e defende o Mercosul.
O contraponto "Médico/Monstro" será seguido à risca pelo Itamaraty, que preferiu estender o tapete vermelho só para Giavarini. Cavallo será tratado como uma visita das autoridades econômicas, tanto que o chanceler Celso Lafer se deslocará à Fazenda para participar da reunião matinal entre o ministro argentino, Pedro Malan e o presidente do BC, Armínio Fraga.
Mas o almoço de Cavallo será com o próprio presidente Fernando Henrique, que foi quem acertou diretamente a visita de Cavallo, por acaso ou intencionalmente, não se sabe ao certo.
O fato é que FHC telefonou, na quinta-feira passada, para seu colega De la Rúa, que estava ao lado de Cavallo e também do chanceler Giavarini. De la Rúa passou o telefone a Cavallo, e FHC acabou fazendo o convite, até porque já estava agendada também uma visita de Giavarini (no dia 19).
O almoço com Cavallo dará a FHC a oportunidade de explicitar o mal-estar brasileiro com o tiroteio verbal a que o ministro argentino submete o Mercosul, a menina dos olhos da diplomacia brasileira. O presidente chegou a cancelar uma viagem a Buenos Aires, em abril, alegando problemas de agenda, para mostrar o descontentamento com as sucessivas críticas do ministro argentino.
Ainda em abril, FHC cobrou de De la Rúa, quando se encontraram em Québec, durante a Cúpula das Américas, qual posição valia, se a do "Monstro" Cavallo ou a do "Médico" Giavarini, em relação ao Mercosul.
Ouviu o óbvio: valem as juras de amor do chanceler, referendadas sempre pelo presidente.
Não adiantou nada: Cavallo nos momentos seguintes voltou a criticar o Brasil, a ponto de dizer que o país "rouba" os vizinhos, quando desvaloriza sua moeda.
Por isso mesmo, FHC terá sobre a mesa, hoje, um estudo preparado pela Embaixada do Brasil em Buenos Aires que mostra que a Argentina não está sendo "roubada": em todos os anos desde 1995 (quando se iniciou o governo FHC), a Argentina tem saldo comercial positivo com o Brasil (exporta mais que importa).
Mesmo em 1999 e 2000, anos de desvalorização do real, o saldo foi favorável à Argentina (US$ 448 milhões e US$ 610 milhões, respectivamente).
Aliás, nos primeiros quatro meses do ano, apesar de o real estar despencando, o saldo argentino aumentou na comparação com o primeiro quadrimestre de 2000, passando de US$ 207 milhões para US$ 309 milhões.
As visitas de Cavallo e Giavarini são uma tentativa de evitar que os dois principais sócios do Mercosul cheguem à Cúpula do bloco (na semana que vem, em Assunção) com divergências públicas tão expostas como ficaram nos meses mais recentes.
Mas com os dois países enfrentando graves dificuldades, é altamente improvável que consigam dar ao Mercosul a atenção e o carinho dos tempos mais tranquilos.
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