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17/06/2001 - 18h42

Sobrevivência do Mercosul é mais política

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CLÓVIS ROSSI
Colunista da Folha de S.Paulo

Nem tudo o que cerca o Mercosul é tão pessimista, mesmo na avaliação dos especialistas que admitem que o bloco "está em estado catatônico", como diz o uruguaio Francisco Panizza, especialista em América Latina da LSE (London School of Economics).

Mas Panizza acha que "Argentina e Brasil investiram demasiado capital político no Mercosul e fizeram demasiado ruído nos foros internacionais na década passada, a respeito do êxito do bloco, para decretar sua morte oficial".

É uma tese semelhante à de José Morandé Lavín, do Instituto de Estudos Internacionais da Universidade do Chile, para quem o Mercosul "é hoje um dos principais cartões de visita da América Latina no cenário internacional".

Mais que cartão de visita, o Mercosul, nos seus dez anos de vida, criou "interesses econômicos sólidos e já desenvolveu uma inércia positiva que torna os custos de ruptura muito elevados", como diz Vivianne Ventura Diaz, diretora da Divisão de Integração e Comércio Internacional da Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe), da ONU (Organização das Nações Unidas). Vivianne fala em seu nome, não no da Cepal.

Robert Kaufman, do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Columbia (EUA), reforça essa tese.

"Há grupos tanto políticos como econômicos com interesses em manter o Mercosul vivo, e ele provavelmente sobreviverá como entidade formal."

Mas Kaufman é "bastante pessimista" a respeito da possibilidade de o Mercosul continuar se desenvolvendo como "mecanismo viável de comércio inter-regional".

O especialista aponta a diferença cambial como um problema de solução quase impossível. "Não creio que qualquer dos dois grandes, Brasil e Argentina, seja capaz de estabilizar as relações entre suas respectivas moedas. Não vejo como um possa continuar com um câmbio fixo e uma moeda sobrevalorizada, enquanto o outro tem um câmbio flutuante e uma moeda que se deprecia."

A afirmação é anterior à modificação na taxa de câmbio para exportação, feita na sexta-feira por Domingo Cavallo, ministro da Economia argentino, o que, porém, não invalida o raciocínio.

É o mesmo pessimismo de Vivianne Diaz: "Infelizmente, tanto Argentina como Brasil estão passando por problemas econômicos e institucionais que vulneram o processo de integração, dado que buscam soluções individuais, e não cooperativas. Não é fácil propor soluções como coordenação macroeconômica, melhorar o sistema de solução de controvérsias etc. quando os problemas conjunturais são tão severos".

Panizza recomenda, no entanto, que o bloco continue pedalando. "Há um velho princípio de integração regional que diz que os projetos de integração nunca podem se manter estáticos. Ou se aprofundam ou estão condenados a retroceder", ensina Panizza.

Mahurhk Doctor (Universidade de Oxford) vai um pouco na mesma direção. "Os eventos recentes podem ter feito países do Mercosul reavaliar os benefícios do bloco, mas isso tende a levar a um fortalecimento mais que a um enfraquecimento do processo de integração regional. Avaliações de curto prazo, centradas em recorrentes crises regionais, não deveriam fazer esquecer os interesses nacionais de longo prazo na integração regional."

Tudo somado, fica fácil dar razão a Moisés Naím ("Foreign Policy"), quando ele diz que "o componente político continua sendo a principal força para manter o Mercosul com vida".

 

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