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18/06/2001 - 00h56

Ruptura na convertibilidade argentina gera incerteza nos países vizinhos

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da France Presse, em Montevidéu

A decisão argentina de estimular suas exportações, dividindo sua até então monolítica paridade de um para um entre peso e dólar, trouxe incerteza aos países do Mercosul, onde o passo dado pelo governo foi considerado "grave" e até classificado como "uma desvalorização disfarçada".

"A cotação de 1,08 peso argentino por cada dólar exportado é uma desvalorização disfarçada de 8%", disse neste domingo o vice-chanceler paraguaio Juan Buffa.

O ministro argentino da Economia, Domingo Cavallo, anunciou a implantação de um dólar especial para a exportação, exceto para combustíveis, por meio de um mecanismo de "empalme" (algo como "encaixe"), que passa a valer a partir desta segunda-feira.

Neste novo sistema, o Estado dará um subsídio de 8 centavos de dólar a mais por cada dólar exportado, enquanto as importações teriam uma sobretaxa similar.

"Tomamos uma medida comercial, não monetária, para estimular o comércio exterior", disse Cavallo neste domingo à imprensa em Buenos Aires. O ministro ressaltou que não se trata de uma desvalorização disfarçada. "Aqui não há nenhum câmbio monetário, já que qualquer argentino com um peso continuará comprando um dólar", explicou Cavallo.

No Brasil, o ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia afirmou que a medida argentina entra em choque com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) e pode prejudicar o Mercosul.

Segundo Lampreia, as últimas decisões de Cavallo de reduzir unilateralmente a Tarifa Externa Comum (TEC) para alguns produtos e o novo tipo de câmbio especial criado são de "extrema gravidade".

O governo uruguaio ainda avalia o efeito da nova política comercial argentina depois de uma reunião no sábado entre os presidentes Jorge Batlle e o Fernando De la Rúa. "Depois veremos o que vamos fazer", disse o ministro uruguaio da Economia, Alberto Bensión, que já começou a receber reclamações de diversos setores sobre a perda de competitividade.

O presidente da União de Exportadores do Uruguai, Daniel Soloducho, afirmou que este novo tipo de câmbio "põe o Uruguai numa posição, com a qual é impossível competir em qualquer mercado" e exigiu do governo uma solução urgente para compensar as perdas.

O assessor econômico da coalizão de esquerdas Encontro Progressista-Frente Ampla, Walter Cancela, sugeriu que o governo uruguaio adote "uma mudança na política macroeconômica global".

Para o ex-ministro uruguaio da Economia Alejandro Vegh Villegas, "a Argentina está caminhando para a flutuação do dólar". Villegas acrescentou que "a decisão é um passo nesta direção".

Já o jornal uruguaio El Observador classificou de "engenhosa" a medida
tomada por Cavallo e disse que é preciso esperar os resultados. "Se, ao final do ano, a economia argentina estiver crescendo 5%, não nos lembraremos deste pacote polêmico e Cavallo terá passado para a história como o homem que tirou a Argentina da hiperinflação e da longa recessão", avaliou El Observador.

No Brasil, o jornal Folha de S.Paulo disse ontem que o principal objetivo de Cavallo é o ajuste fiscal e não uma mudança do regime cambiário. "O surgimento de uma "nova convertibilidade" ou "convertibilidade ampliada" é, sem dúvida, o que mais chama a atenção no novo pacote econômico argentino. E a primeira pergunta que surge é: isso significa o começo do fim da convertibilidade? Será que os programas de estabilização com base em âncoras cambiais são a semente de sua própria destruição?".

Para o articulista da Folha, Gilson Schwartz, Cavallo está tentando "salvar de novo seu próprio modelo e não jogando um pá de cal sobre sua criação".

"Engana-se quem vê no pacote o fim da âncora cambial do peso. Parece um detalhe, mas é crucial entender que é um ajuste fiscal, não uma mudança radical de regime cambial, que leve a um regime de câmbio flutuante", frisou.
 

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