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20/06/2001 - 10h54

Análise: Cinco motivos de preocupação sobre o crescimento global

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AMITY SHLAES
do Finacial Times

A crescente perspectiva de uma desaceleração global será notícia nas próximas semanas. Mas que tipo de notícia? Muitos veículos da mídia financeira estão tratando o declínio como uma simples fábula de mercados, lucros corporativos e personalidades econômicas. Na sexta-feira, por exemplo, quando a Nasdaq terminou sua pior semana deste ano, comentaristas da imprensa e da televisão americana se concentraram em fazer autópsias das demissões na Nortel e em atacar o presidente da General Electric, Jack Welch, por ter fracassado em melhorar o relacionamento com a Comissão Européia.

Na superfície, esse enfoque para os negócios parece fazer sentido. Os preços das ações da internet estavam altos demais. As previsões e os lucros das empresas realmente influenciam os movimentos do mercado. Mas subjacente a essas previsões e relatórios de lucros há outra força ainda mais importante. São as políticas promulgadas pelos governos.

Cada vez que os governos mudam as políticas também redefinem a curva de crescimento global, mesmo que ligeiramente. ''Os mercados são um espelho da política, e não o inverso'', diz Brian Wesbury, economista da Griffin, Kubik, Stephens and Thompson, de Chicago.

E pode-se argumentar que o último mês teve algumas notícias políticas muito prejudiciais. O argumento é sobre o livre mercado: qualquer coisa que atrapalhe o crescimento é considerada negativa. Nem todo mundo concorda com isso. Mas, se o crescimento é nosso objetivo máximo, podemos indicar pelo menos cinco fatos de políticas públicas que representam problemas, por mais que pareçam não se relacionar entre si.

Para começar, os protestos de rua contra a oposição do presidente George W. Bush ao Protocolo de Kyoto. Na visão americana, eles pareciam ratificar a desaprovação dos líderes europeus à posição de Bush. De modo geral está ficando cada vez mais claro que ambos os lados devem se preparar para longas batalhas e, por outro lado, que provavelmente surgirá alguma forma de regulamentação coordenada sobre os gases de efeito estufa que inclua os Estados Unidos. Já que todo mundo, das autoridades da União Européia aos fabricantes de carros japoneses, acredita que essa regulamentação global vai reduzir o ritmo de crescimento das empresas e das economias, é uma má notícia.

A segunda nuvem no horizonte é a decisão do comissário europeu Mario Monti de bloquear a fusão gigante entre a GE e a Honeywell. Quando ficou claro que o casamento não teria a bênção de Monti, a televisão americana se concentrou no prejuízo para o preço das ações da Honeywell e em seu ''efeito marola''. Mas a queda dos títulos ligados à GE na semana passada não foi simplesmente um ''resfriado dos mercados''. Mesmo se admitirmos que a ação de Monti nesse caso é algo que promove a eficiência, o precedente que ele abriu perturbará os que consideravam a Europa uma nova fronteira para o crescimento. Monti está indicando que a Europa unificada usará seu poder de guarda de maneira agressiva ainda mais agressiva que a das autoridades antitruste dos Estados Unidos.

Em outras palavras, na nova economia global haverá mais avaliações quando as empresas desejarem se racionalizar, e não menos. Essa é uma notícia especialmente ruim durante uma recessão, quando as empresas precisam de margem de manobra extra para navegar, e não de regulamentação extra.

O terceiro golpe foi a recente eleição no Reino Unido. A cobertura dessa notícia se concentrou na avalanche trabalhista, o novo impulso que ela deu ao futuro político de certos concorrentes de William Hague, o líder conservador derrotado. Gurus em todo o espectro político insistem em que a eleição não foi um referendo sobre política econômica.

Mas esses observadores não levaram em conta dois fatos. O primeiro é que nenhum partido apresentou um plano coerente para melhorar a competitividade relativa do Reino Unido. O primeiro-ministro, Tony Blair, e Gordon Brown, seu ministro das Finanças, correram para retificar isso com um ''programa de competitividade'' que inclui um valioso plano para cortar os impostos sobre ganhos de capital.

Mas a vitória da Europa pró-trabalhista aumenta a probabilidade de que o Reino Unido, com seu mercado relativamente livre, permita ser absorvido por um continente menos voltado para a liberdade. O fato de que a libra não saltou de alegria depois da boa notícia de Blair mostrou que os mercados continuam preocupados com o fator Europa.

O quarto elemento na paisagem sombria é a decepção de Junichiro Koizumi, o novo primeiro-ministro japonês. Koizumi era relativamente desconhecido na época da eleição -daí a obsessiva atenção inicial pelo seu penteado. Mas os observadores esperavam que ele apoiasse uma terapia de choque monetária ou fiscal para a economia paralisada do Japão. Mas ficou claro que Koizumi simplesmente praticará a mesma velha austeridade.

A chave, ele chegou a dizer, ''será o governo convencer o público a suportar a dor''. Ele ainda pode surpreender o mundo e salvar o Japão, mas seu comportamento até agora sugere para os adeptos do livre mercado que aumentou a probabilidade de o Japão emperrar o crescimento global.

A quinta nuvem no céu é a transição no Senado dos EUA. Ela custou ao governo Bush um ano e meio (o período até a próxima eleição legislativa) em que ele poderia ter defendido energicamente medidas de crescimento. Com um Senado democrata, a equipe de Bush é obrigada a fazer concessões anticrescimento, como sua recente decisão de proteger os produtores de aço.

Nem todo mundo concordaria com meus cinco pontos. Alguém poderia até fazer meu argumento pela esquerda, em que o objetivo, em vez de crescimento, poderia ser a igualdade social ou a legislação ambiental. Desse ponto vantajoso, as coisas acabam de ficar mais cor-de-rosa.

A questão aqui, porém, é que nenhum dos lados está absorve a lição política. Até agora, a única reação do Congresso ao declínio econômico foram sessões de censura aos analistas de ações tecnológicas, como se atacar a indústria pudesse fazer os preços das ações da internet voltar a subir.

Se esses touros nos enganaram, também nos enganamos. Na economia, como na vida, só se acha sabedoria quando se procura.

 

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