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20/07/2001 - 08h33

Análise: Alta dos juros visa evitar choques provocados por crise argentina

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do ''Financial Times''

A decisão do Brasil de elevar as taxas de juros pela quinta vez em cinco meses coloca em destaque a determinação de seu governo de evitar quaisquer ondas de choque geradas pela crise na Argentina. Ainda que a adoção de uma política monetária mais rígida ajude a estabilizar as perspectivas de curto prazo, é provável, igualmente, que ela reduza o crescimento econômico, o que geraria o perigo adicional de instabilidade política antes das eleições presidenciais de 2002.

Taxas mais elevadas de juros domésticos ajudarão a conter as pressões inflacionárias que resultam do declínio do real diante do dólar, que já supera 28% neste ano. O governo indicou que um maior aperto fiscal é provável, com cortes de gastos destinados a aumentar o superávit fiscal primário de modo a compensar o impacto dos juros mais elevados sobre o custo do serviço da dívida. A medida sinaliza igualmente a disposição do Brasil de renovar, ainda neste ano, seu acordo com o FMI, assinado há três anos, no auge da crise financeira pela qual o país então passava.

Todas essas medidas merecem elogios. Mesmo assim, o país continua em situação extremamente vulnerável. A incerteza continuada na Argentina e a ameaça de uma eventual moratória acarretam uma série de riscos para a saúde econômica brasileira. Como membros fundamentais do Mercosul, os dois países são parceiros comerciais significativos. Se a crise na Argentina tornar os investidores mais avessos aos riscos do mercado emergente como um todo, o Brasil será uma das vítimas. O déficit brasileiro em conta corrente e as necessidades externas de financiamento do país vêm aumentando em um momento em que o fluxo de investimento estrangeiro direto começa a se esgotar.

A desaceleração na economia internacional e a crise de energia já deprimiram as expectativas de crescimento para 2002. Escândalos de corrupção debilitaram a aliança multipartidária que vem apoiando o presidente FHC desde 1994. Recentes pesquisas de opinião demonstram que candidatos de oposição (entre os quais os apoiados pelo PT) ganham terreno. O medo de que Lula conduza um governo irresponsável em termos fiscais e contrário ao investimento estrangeiro são exagerados. Os prefeitos e governadores do PT provaram ser eficientes como administradores em diversas cidades e Estados nos últimos anos, e agora o partido começa a moderar o seu tom radical.

Mesmo assim, à medida que a economia se desacelera e o custo social do ajuste se eleva, os políticos brasileiros podem se sentir tentados a adotar soluções politicamente mais fáceis do que as adotadas por FHC para os consideráveis problemas de desenvolvimento que o Brasil enfrenta. O perigo é que um desvio rumo ao populismo coloque em risco a sólida estrutura macroeconômica que foi erigida com tamanho sacrifício nos últimos anos.

 

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