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19/08/2001
-
10h08
ELIANE CANTANHÊDE
da Folha de S.Paulo
Há anos discutindo a crise crônica das companhias aéreas, o governo avalia que parte delas está em estado terminal irreversível e vai apresentar uma proposta paliativa para o setor nesta semana. A intenção não é salvar as empresas, apenas adiar a agonia e jogar o problema para o futuro governo, que assume em 2003.
A proposta será discutida durante almoço no Ministério da Defesa na próxima quarta-feira e levada às companhias até sexta-feira. Não haverá recursos do BNDES nem perdão de dívidas, mas há a possibilidade de ''desoneração'' do setor -com renúncia de Cofins, por exemplo.
Participarão do almoço cinco secretários-executivos (os segundos nas hierarquias dos ministérios) e os diretores da Infraero (a estatal que cuida dos aeroportos) e do DAC (Departamento de Aviação Civil).
O único consenso entre eles é que as companhias estão virtualmente quebradas, especialmente a Transbrasil, mas não deve haver um ''Proar'' (equivalente ao Proer, o programa do governo para driblar a crise dos bancos). Seria como ''jogar dinheiro fora ou num saco sem fundo''.
Por isso, as próprias companhias não mantêm grande expectativa em relação a propostas oficiais. Avaliam, inclusive, que reuniões como a da quarta-feira, a menos de um ano e meio das eleições presidenciais, servem apenas para tentar dizer à opinião pública que o governo não se omitiu.
Em resumo, governo e companhias travam uma espécie de duelo. As companhias dão sinal de estarem de braços cruzados, esperando que uma ou duas delas quebrem para que o governo corra para tentar salvar as demais.
Mas o governo não consegue definir o principal: se o país tem ou não interesse estratégico em manter companhias aéreas nacionais. Se tem, a União estaria disposta até a ceder subsídios?
O exemplo mais citado na Esplanada dos Ministérios é o da Transbrasil, que em 1999 ganhou uma bolada na Justiça a título de indenização por perdas durante planos econômicos passados, mas continua no vermelho.
A companhia recebeu em torno de R$ 725 milhões, embolsou R$ 25 milhões e consumiu todos os R$ 700 milhões restantes para pagar dívidas com a União. O acordo foi em dezembro de 1999. Um ano e meio depois, o buraco já bate em cerca de R$ 800 milhões, segundo dados extra-oficiais.
A Transbrasil atrasa o salário dos funcionários desde fevereiro, acaba de ter um avião arrestado nos EUA por inadimplência e, segundo o governo, mantém apenas sete aviões voando. Já teve 15.
A Varig, detentora do maior número e das melhores linhas internacionais, não está numa situação muito melhor, segundo diagnóstico feito pelo governo, atualizado depois com as próprias consultorias das empresas e engavetado pelo Planalto.
Além de gerenciamento difuso, a companhia não se ajustou à competição interna nem à internacional. Praticou política de tarifa alta, tem um modelo de participação que impede demissões, está endividada e já vendeu os ativos que poderia vender.
Ao contrário da Varig, a Vasp empreendeu um forte programa de reestruturação. Está sem rota internacional desde março do ano passado e reduziu de 9.000 para 4.000 o número de funcionários. Concentrou suas dívidas no setor público e tem frota própria. As dívidas, porém, são altas. E os aviões estão tecnologicamente defasados.
Diante desse quadro, a TAM e a recém-lançada Gol advertiram o governo que não seria justo um programa de favorecimento das companhias que ''não fizeram a lição de casa''. Seria premiar a incompetência.
A TAM acaba de perder seu principal executivo, o comandante Rolim Amaro, morto em acidente de helicóptero, mas tem boa imagem no mercado, propaganda agressiva e aviões novos, graça a um ''leasing'' que abriu as portas do Brasil para a Airbus. Além de ter concentrado sua base no ''filé'' da aviação doméstica, que é o aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
A Gol inovou o mercado com baixos custos, sistema próprio de serviço e leasing de aviões novos e modernos, com baixas tarifas. O governo acompanha a companhia como ''novidade'' e não arrisca palpite sobre o futuro.
O diagnóstico está feito, só falta saber o que o governo tem a ver com isso tudo. É o que os participantes do almoço de quarta-feira irão discutir.
Serão eles os secretários-executivos Silvano Gianni (Casa Civil), José Augusto Varanda (Defesa), Claudio Considera (Fazenda) e Benjamin Sicsu (Desenvolvimento). Além deles, Fernando Perrone (Infraero) e o major-brigadeiro Venâncio Grossi (DAC).
Governo deve adiar solução para crise das companhias aéreas
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da Folha de S.Paulo
Há anos discutindo a crise crônica das companhias aéreas, o governo avalia que parte delas está em estado terminal irreversível e vai apresentar uma proposta paliativa para o setor nesta semana. A intenção não é salvar as empresas, apenas adiar a agonia e jogar o problema para o futuro governo, que assume em 2003.
A proposta será discutida durante almoço no Ministério da Defesa na próxima quarta-feira e levada às companhias até sexta-feira. Não haverá recursos do BNDES nem perdão de dívidas, mas há a possibilidade de ''desoneração'' do setor -com renúncia de Cofins, por exemplo.
Participarão do almoço cinco secretários-executivos (os segundos nas hierarquias dos ministérios) e os diretores da Infraero (a estatal que cuida dos aeroportos) e do DAC (Departamento de Aviação Civil).
O único consenso entre eles é que as companhias estão virtualmente quebradas, especialmente a Transbrasil, mas não deve haver um ''Proar'' (equivalente ao Proer, o programa do governo para driblar a crise dos bancos). Seria como ''jogar dinheiro fora ou num saco sem fundo''.
Por isso, as próprias companhias não mantêm grande expectativa em relação a propostas oficiais. Avaliam, inclusive, que reuniões como a da quarta-feira, a menos de um ano e meio das eleições presidenciais, servem apenas para tentar dizer à opinião pública que o governo não se omitiu.
Em resumo, governo e companhias travam uma espécie de duelo. As companhias dão sinal de estarem de braços cruzados, esperando que uma ou duas delas quebrem para que o governo corra para tentar salvar as demais.
Mas o governo não consegue definir o principal: se o país tem ou não interesse estratégico em manter companhias aéreas nacionais. Se tem, a União estaria disposta até a ceder subsídios?
O exemplo mais citado na Esplanada dos Ministérios é o da Transbrasil, que em 1999 ganhou uma bolada na Justiça a título de indenização por perdas durante planos econômicos passados, mas continua no vermelho.
A companhia recebeu em torno de R$ 725 milhões, embolsou R$ 25 milhões e consumiu todos os R$ 700 milhões restantes para pagar dívidas com a União. O acordo foi em dezembro de 1999. Um ano e meio depois, o buraco já bate em cerca de R$ 800 milhões, segundo dados extra-oficiais.
A Transbrasil atrasa o salário dos funcionários desde fevereiro, acaba de ter um avião arrestado nos EUA por inadimplência e, segundo o governo, mantém apenas sete aviões voando. Já teve 15.
A Varig, detentora do maior número e das melhores linhas internacionais, não está numa situação muito melhor, segundo diagnóstico feito pelo governo, atualizado depois com as próprias consultorias das empresas e engavetado pelo Planalto.
Além de gerenciamento difuso, a companhia não se ajustou à competição interna nem à internacional. Praticou política de tarifa alta, tem um modelo de participação que impede demissões, está endividada e já vendeu os ativos que poderia vender.
Ao contrário da Varig, a Vasp empreendeu um forte programa de reestruturação. Está sem rota internacional desde março do ano passado e reduziu de 9.000 para 4.000 o número de funcionários. Concentrou suas dívidas no setor público e tem frota própria. As dívidas, porém, são altas. E os aviões estão tecnologicamente defasados.
Diante desse quadro, a TAM e a recém-lançada Gol advertiram o governo que não seria justo um programa de favorecimento das companhias que ''não fizeram a lição de casa''. Seria premiar a incompetência.
A TAM acaba de perder seu principal executivo, o comandante Rolim Amaro, morto em acidente de helicóptero, mas tem boa imagem no mercado, propaganda agressiva e aviões novos, graça a um ''leasing'' que abriu as portas do Brasil para a Airbus. Além de ter concentrado sua base no ''filé'' da aviação doméstica, que é o aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
A Gol inovou o mercado com baixos custos, sistema próprio de serviço e leasing de aviões novos e modernos, com baixas tarifas. O governo acompanha a companhia como ''novidade'' e não arrisca palpite sobre o futuro.
O diagnóstico está feito, só falta saber o que o governo tem a ver com isso tudo. É o que os participantes do almoço de quarta-feira irão discutir.
Serão eles os secretários-executivos Silvano Gianni (Casa Civil), José Augusto Varanda (Defesa), Claudio Considera (Fazenda) e Benjamin Sicsu (Desenvolvimento). Além deles, Fernando Perrone (Infraero) e o major-brigadeiro Venâncio Grossi (DAC).
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