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20/08/2001 - 05h33

Indicadores do Banco Central apontam Brasil mais vulnerável

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NEY HAYASHI DA CRUZ
da Folha de S.Paulo, em Brasília

A economia brasileira ficou mais vulnerável a crises externas no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Indicadores calculados pelo Banco Central mostram que o grau de dependência do país disparou entre 1995, quando FHC assumiu seu primeiro mandato, e 2000.

O BC calculou a variação, ocorrida no período, de 11 indicadores da vulnerabilidade externa do país. Quanto mais dependente de dinheiro externo é um país, mais suscetível a crises ele está. Os dados do BC mostram grande dependência do dinheiro externo.

Desses 11 índices, 10 pioraram. Em três casos, em mais de 100%.

Os números indicam que, de 1995 para 2000, o país passou a gastar mais com a dívida externa (os gastos saltaram de 3% do PIB em 95 para 9,4% em 2000). A dívida externa líquida (tudo o que o país deve no exterior, menos as reservas em dólar de que dispõe) cresceu 18,8 pontos percentuais, fechando 2000 a 39,6% do PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas pelo país num dado período).

Para pagar a dívida, mostra o BC, o Brasil precisaria juntar, sem gastar nada, o equivalente a 3,5 anos de exportação.

A parcela das exportações comprometida pelos gastos da dívida externa subiu 120,6% na era FHC. Em 95, os gastos com serviço da dívida externa somaram US$ 21,4 bilhões, o equivalente a 46,1% das exportações brasileiras. Em 2000, as despesas foram a US$ 56,04 bilhões, ou 101,7% das exportações.

Os indicadores calculados pelo BC levam em consideração o tamanho da dívida externa do Brasil e os gastos com pagamento de juros e amortizações decorrentes desse endividamento (serviço da dívida). Os números são comparados com o volume de exportações, com o PIB e com as reservas internacionais do país.

A maneira mais comum de avaliar o grau de vulnerabilidade é analisar o déficit em transações correntes _soma do resultado da balança comercial, balança de serviços e transferências unilaterais. Em junho, o déficit em transações correntes acumulado nos últimos 12 meses estava em 4,71% do PIB.

Além disso, costuma-se olhar para o volume de investimentos estrangeiros recebidos. O Brasil é um dos países que mais atrai investimentos estrangeiros no mundo e tem utilizado o dinheiro para cobrir a maior parte do déficit em transações correntes.

O problema é que esse fluxo não é permanente. Se os estrangeiros pararem de trazer dinheiro para o Brasil, os dólares que o país consegue obter por conta própria poderiam não ser suficientes para honrar os compromissos.

O governo admite que o problema é "crônico" e não será resolvido no curto prazo.

Índices como os calculados pelo BC têm grande peso nas avaliações feitas por agências como a Standard & Poor's, que, na semana passada, rebaixou a tendência de classificação de risco do Brasil.

Notas mais baixas geralmente afastam investidores do país, criando um círculo vicioso perigoso para economias dependentes de dinheiro estrangeiro.

Para Antônio Corrêa de Lacerda, presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira para Estudos de Empresas Transacionais e de Globalização Econômica), o aumento da dependência é fruto da desnacionalização da economia e do câmbio fixo, adotado até 1999.

A desnacionalização aumentou o passivo externo líquido, que é o volume de dinheiro que estrangeiros mantêm aplicado no país, sob a forma de empréstimos e investimentos, menos o que os brasileiros emprestam ou investem no exterior. Isso significa que aumentaram, no Brasil, as remessas de lucro e o pagamento de juros para outros países.

Além disso, o regime de câmbio fixo distorceu a balança comercial, fazendo as empresas importarem mais, sem o proporcional aumento das exportações. Segundo a Sobeet, o passivo externo líquido, que era de US$ 195 bilhões em dezembro de 1995, fechou 2000 em US$ 355 bilhões. A previsão é que esse número suba para US$ 382 bilhões até o fim de 2001.

 

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