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22/09/2001
-
08h26
NEY HAYASHI DA CRUZ
SÍLVIA MUGNATTO
da Folha de S.Paulo, em Brasília
O Banco Central anunciou ontem uma espécie de aumento "disfarçado" nos juros, numa tentativa de segurar a disparada do dólar. Decidiu-se elevar o volume de dinheiro que os bancos precisam deixar depositado, sem receber nenhuma remuneração, em uma conta do BC.
É o que se chama de recolhimento compulsório. A partir da semana que vem, os bancos serão obrigados a recolher no BC 10% do total de seus depósitos a prazo -em sua maioria, aplicações em CDBs (Certificados de Depósito Bancário). Antes, o compulsório sobre os depósitos a prazo era zero.
Na prática, isso significa que a cada R$ 1.000 em depósitos a prazo, as instituições financeiras terão de recolher R$ 100 ao BC.
O diretor de Política Monetária do BC, Luiz Fernando Figueiredo, disse que o aumento do compulsório deve retirar cerca de R$ 10 bilhões do mercado. Figueiredo não quis explicar os efeitos que a medida terá e se limitou a dizer que isso foi feito para "enxugar a liquidez do mercado"
(reduzir a quantidade de reais em circulação).
Segundo Marcelo Allain, economista-chefe do banco Inter American Express, uma elevação no compulsório vai provocar um aumento no custo de captação dos bancos. Isso significa que vai ficar mais caro para as instituições captar dinheiro no mercado, já que 10% dos recursos não irão ter nenhuma rentabilidade.
É o mesmo efeito que teria um aumento nos juros básicos da economia, hoje em 19% ao ano. Se o custo do dinheiro fica mais caro -seja por aumento de juros seja por elevação do compulsório-, os bancos poderiam ser levados a trocar suas operações em dólar por aplicações em reais, que passam a render mais.
Atualmente, o BC não tem muito espaço para elevação dos juros básicos da economia por causa do efeito que isso teria sobre o endividamento do governo.
A dívida pública já representa mais da metade do PIB (Produto Interno Bruto). Grande parte dela é corrigida pela taxa básica de juros definida pelo BC.
A Folha apurou que, dentro do BC, a redução do compulsório é vista como mais uma tentativa de frear a disparada do dólar. A instituição não considera que esteja havendo um ataque especulativo contra o real, nome dado a um movimento iniciado por grandes investidores que acreditam que a moeda de um país vai se desvalorizar.
Porém, acredita-se que está ocorrendo um ataque indireto ao real, que só será contido caso sejam revertidas as expectativas negativas que o mercado tem em relação aos rumos da economia no Brasil e no resto do mundo. Antes da alta do compulsório, o BC também vendeu títulos com variação cambial ao mercado.
Entrevista por telefone
Figueiredo anunciou a medida de São Paulo, por meio de entrevista concedida por telefone. A entrevista durou cinco minutos e ele não quis responder a perguntas dos jornalistas. Sobre o dólar, Figueiredo disse que vê um "claro "overshooting" [exagero] na taxa de câmbio".
"O Banco Central vai intervir sempre que achar necessário. Nós estamos confiantes de que, com as medidas apropriadas, traremos o mercado para uma situação de normalidade", afirmou.
Como a medida foi anunciada à noite, após o fechamento do mercado, os efeitos só serão sentidos na próxima segunda-feira.
Compulsório dos depósitos a prazo sobe e disfarça aumento de juros
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SÍLVIA MUGNATTO
da Folha de S.Paulo, em Brasília
O Banco Central anunciou ontem uma espécie de aumento "disfarçado" nos juros, numa tentativa de segurar a disparada do dólar. Decidiu-se elevar o volume de dinheiro que os bancos precisam deixar depositado, sem receber nenhuma remuneração, em uma conta do BC.
É o que se chama de recolhimento compulsório. A partir da semana que vem, os bancos serão obrigados a recolher no BC 10% do total de seus depósitos a prazo -em sua maioria, aplicações em CDBs (Certificados de Depósito Bancário). Antes, o compulsório sobre os depósitos a prazo era zero.
Na prática, isso significa que a cada R$ 1.000 em depósitos a prazo, as instituições financeiras terão de recolher R$ 100 ao BC.
O diretor de Política Monetária do BC, Luiz Fernando Figueiredo, disse que o aumento do compulsório deve retirar cerca de R$ 10 bilhões do mercado. Figueiredo não quis explicar os efeitos que a medida terá e se limitou a dizer que isso foi feito para "enxugar a liquidez do mercado"
(reduzir a quantidade de reais em circulação).
Segundo Marcelo Allain, economista-chefe do banco Inter American Express, uma elevação no compulsório vai provocar um aumento no custo de captação dos bancos. Isso significa que vai ficar mais caro para as instituições captar dinheiro no mercado, já que 10% dos recursos não irão ter nenhuma rentabilidade.
É o mesmo efeito que teria um aumento nos juros básicos da economia, hoje em 19% ao ano. Se o custo do dinheiro fica mais caro -seja por aumento de juros seja por elevação do compulsório-, os bancos poderiam ser levados a trocar suas operações em dólar por aplicações em reais, que passam a render mais.
Atualmente, o BC não tem muito espaço para elevação dos juros básicos da economia por causa do efeito que isso teria sobre o endividamento do governo.
A dívida pública já representa mais da metade do PIB (Produto Interno Bruto). Grande parte dela é corrigida pela taxa básica de juros definida pelo BC.
A Folha apurou que, dentro do BC, a redução do compulsório é vista como mais uma tentativa de frear a disparada do dólar. A instituição não considera que esteja havendo um ataque especulativo contra o real, nome dado a um movimento iniciado por grandes investidores que acreditam que a moeda de um país vai se desvalorizar.
Porém, acredita-se que está ocorrendo um ataque indireto ao real, que só será contido caso sejam revertidas as expectativas negativas que o mercado tem em relação aos rumos da economia no Brasil e no resto do mundo. Antes da alta do compulsório, o BC também vendeu títulos com variação cambial ao mercado.
Entrevista por telefone
Figueiredo anunciou a medida de São Paulo, por meio de entrevista concedida por telefone. A entrevista durou cinco minutos e ele não quis responder a perguntas dos jornalistas. Sobre o dólar, Figueiredo disse que vê um "claro "overshooting" [exagero] na taxa de câmbio".
"O Banco Central vai intervir sempre que achar necessário. Nós estamos confiantes de que, com as medidas apropriadas, traremos o mercado para uma situação de normalidade", afirmou.
Como a medida foi anunciada à noite, após o fechamento do mercado, os efeitos só serão sentidos na próxima segunda-feira.
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