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24/09/2001
-
09h27
SANDRA BALBI
Editora do FolhaInvest
PAULA PAVON
da Folha de S.Paulo
O ataque terrorista aos EUA atingiu quase um terço da indústria de fundos de investimentos no Brasil.
Com a queda da Bolsa, nos dias posteriores ao ataque, os investidores dos fundos de ações, dos balanceados e dos multimercados (que aplicam em ações, câmbio e títulos de renda fixa) perderam um patrimônio de R$ 1,03 bilhão até o dia 17, segundo os últimos dados divulgados pela Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento).
Hoje, essas três categorias somadas respondem por 30% dos recursos aplicados nos fundos de investimentos e têm o mesmo peso dos fundos DI para o mercado. O patrimônio líquido (total de recursos depositados) dos fundos de ações, multimercados e balanceados totalizam R$ 96,47 bilhões, enquanto os DI somam R$ 96,05 bilhões.
As perdas mais pesadas ocorreram nos fundos de ações que seguem o Ibovespa (Índice da Bolsa de Valores de São Paulo). Já aqueles fundos que dependem mais de uma "inteligência do gestor", como multimercados e fundos de ações que não seguem nenhum índice de mercado (como o Ibovespa) conseguiram conter um pouco os prejuízos dos investidores.
Na última sexta-feira, a Bolsa, que ameaçara alguma recuperação durante a semana, voltou a despencar diante do pânico instalado no mercado com o risco iminente de uma guerra. Em consequência, novas perdas deverão impactar as cotas dos fundos.
Apesar dessa sangria, os analistas insistem: não é hora de sair. "Quem tem recursos em fundos de ações não deve resgatar agora, a menos que tenha uma necessidade urgente de caixa", recomenda o consultor Victor Zaremba.
Ele lembra que investimentos em Bolsa e em fundos que aplicam em ações são para prazos de cinco a dez anos. "Espere passar o pânico atual e as eleições do próximo ano. Daqui a dois anos o mercado poderá se recuperar."
Mas pondere se o custo de carregar suas perdas atuais compensa. Com a taxa de juro básica da economia em 19% ao ano, é possível obter-se um ganho real (descontada a inflação) de 9% a 10% anuais em fundos de renda fixa. Será que não vale a pena migrar, ganhar com os juros neste ano e no próximo e voltar para a renda variável quando a maré baixa passar? "Essa é uma aposta muito duvidosa", diz Zaremba.
Isso porque ninguém é capaz de dizer qual é o fundo do poço da Bolsa e, muito menos, quando começará a curva de subida. "Quem veio até aqui deve manter a aplicação. Já vimos grandes quedas em 1998, durante a crise da Rússia. Quem manteve suas aplicações recuperou tudo. Em 1999, a Bolsa subiu 150%, e muitos fundos de ações renderam até 200%", lembra Valmir Celestino, gestor de renda variável da Safra Asset Management.
Por isso gestores de recursos de grandes bancos estão orientando seus clientes a manter as aplicações. "Não é hora de pular de um lado para outro", diz Márcio Verri, sócio-gerente da BankBoston Asset Management.
Quem tem dinheiro em fundos de ações e multimercados optou pela diversificação alocando aí apenas uma parte de seu patrimônio. "Esses investidores podem suportar essas perdas e aguardar a recuperação", diz Celestino.
Orientar os investidores sobre como conduzir suas economias sob esse bombardeio está cada vez mais difícil, dizem os analistas. "À luz das atuais informações não é possível saber como ficará a economia mundial. Tudo vai depender da reação americana aos atentados e da contra-reação que virá", diz Ronaldo Magalhães, diretor-executivo da Sul América Investimentos.
Ainda não está claro se a desaceleração da economia mundial ruma para uma recessão global, e ninguém consegue aquilatar quais serão seus efeitos.
No Brasil, o atentado "agravou todos os problemas internos", segundo Ricardo Carneiro, economista da Unicamp. "Mesmo que não ocorra guerra, o Brasil ficará fora do fluxo de capital, o que manterá o câmbio e a Bolsa muito instáveis nos próximos meses."
O economista-chefe do BBV Banco Octavio de Barros diz que o fluxo de portfólio, isto é, o dinheiro de estrangeiros para investimento em Bolsa e fundos deverá cair entre 25% e 40% este ano.
Em meio a tanta indefinição, como o investidor deve cuidar de suas economias? Victor Zaremba, que é autor de dois manuais de orientação financeira, já traçou sua estratégia pessoal para atravessar a atual crise. "Comecei a comprar ações na penúltima semana", afirma. Ele conta que desde outubro estava fora de Bolsa, mas crê que agora é hora de começar a voltar.
Zaremba sugere o mesmo remédio aos investidores que estão dispostos a correr o risco inerente ao mercado de ações. "Fique atento às oportunidades que começarão a aparecer. Este é um bom momento para se iniciar uma carteira de ações ou comprar cotas de fundos de ações", diz ele.
Tal recomendação num momento em que tantos investidores ainda estão amargando perdas nas cotas dos seus fundos soa como heresia. Mas a lógica do mercado manda "comprar na baixa e vender na alta". Zaremba diz que, quando todos estão pensando que o mundo vai acabar, como agora, é hora de começar a entrar no mercado acionário. "Já quando os ganhos em Bolsa viram capa de revista é hora de vender", diz.
Leia mais no especial sobre atentados nos EUA
Leia mais sobre os reflexos do terrorismo na economia
Perda em fundos de ações chega a R$ 1 bilhão após atentados
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Editora do FolhaInvest
PAULA PAVON
da Folha de S.Paulo
O ataque terrorista aos EUA atingiu quase um terço da indústria de fundos de investimentos no Brasil.
Com a queda da Bolsa, nos dias posteriores ao ataque, os investidores dos fundos de ações, dos balanceados e dos multimercados (que aplicam em ações, câmbio e títulos de renda fixa) perderam um patrimônio de R$ 1,03 bilhão até o dia 17, segundo os últimos dados divulgados pela Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento).
Hoje, essas três categorias somadas respondem por 30% dos recursos aplicados nos fundos de investimentos e têm o mesmo peso dos fundos DI para o mercado. O patrimônio líquido (total de recursos depositados) dos fundos de ações, multimercados e balanceados totalizam R$ 96,47 bilhões, enquanto os DI somam R$ 96,05 bilhões.
As perdas mais pesadas ocorreram nos fundos de ações que seguem o Ibovespa (Índice da Bolsa de Valores de São Paulo). Já aqueles fundos que dependem mais de uma "inteligência do gestor", como multimercados e fundos de ações que não seguem nenhum índice de mercado (como o Ibovespa) conseguiram conter um pouco os prejuízos dos investidores.
Na última sexta-feira, a Bolsa, que ameaçara alguma recuperação durante a semana, voltou a despencar diante do pânico instalado no mercado com o risco iminente de uma guerra. Em consequência, novas perdas deverão impactar as cotas dos fundos.
Apesar dessa sangria, os analistas insistem: não é hora de sair. "Quem tem recursos em fundos de ações não deve resgatar agora, a menos que tenha uma necessidade urgente de caixa", recomenda o consultor Victor Zaremba.
Ele lembra que investimentos em Bolsa e em fundos que aplicam em ações são para prazos de cinco a dez anos. "Espere passar o pânico atual e as eleições do próximo ano. Daqui a dois anos o mercado poderá se recuperar."
Mas pondere se o custo de carregar suas perdas atuais compensa. Com a taxa de juro básica da economia em 19% ao ano, é possível obter-se um ganho real (descontada a inflação) de 9% a 10% anuais em fundos de renda fixa. Será que não vale a pena migrar, ganhar com os juros neste ano e no próximo e voltar para a renda variável quando a maré baixa passar? "Essa é uma aposta muito duvidosa", diz Zaremba.
Isso porque ninguém é capaz de dizer qual é o fundo do poço da Bolsa e, muito menos, quando começará a curva de subida. "Quem veio até aqui deve manter a aplicação. Já vimos grandes quedas em 1998, durante a crise da Rússia. Quem manteve suas aplicações recuperou tudo. Em 1999, a Bolsa subiu 150%, e muitos fundos de ações renderam até 200%", lembra Valmir Celestino, gestor de renda variável da Safra Asset Management.
Por isso gestores de recursos de grandes bancos estão orientando seus clientes a manter as aplicações. "Não é hora de pular de um lado para outro", diz Márcio Verri, sócio-gerente da BankBoston Asset Management.
Quem tem dinheiro em fundos de ações e multimercados optou pela diversificação alocando aí apenas uma parte de seu patrimônio. "Esses investidores podem suportar essas perdas e aguardar a recuperação", diz Celestino.
Orientar os investidores sobre como conduzir suas economias sob esse bombardeio está cada vez mais difícil, dizem os analistas. "À luz das atuais informações não é possível saber como ficará a economia mundial. Tudo vai depender da reação americana aos atentados e da contra-reação que virá", diz Ronaldo Magalhães, diretor-executivo da Sul América Investimentos.
Ainda não está claro se a desaceleração da economia mundial ruma para uma recessão global, e ninguém consegue aquilatar quais serão seus efeitos.
No Brasil, o atentado "agravou todos os problemas internos", segundo Ricardo Carneiro, economista da Unicamp. "Mesmo que não ocorra guerra, o Brasil ficará fora do fluxo de capital, o que manterá o câmbio e a Bolsa muito instáveis nos próximos meses."
O economista-chefe do BBV Banco Octavio de Barros diz que o fluxo de portfólio, isto é, o dinheiro de estrangeiros para investimento em Bolsa e fundos deverá cair entre 25% e 40% este ano.
Em meio a tanta indefinição, como o investidor deve cuidar de suas economias? Victor Zaremba, que é autor de dois manuais de orientação financeira, já traçou sua estratégia pessoal para atravessar a atual crise. "Comecei a comprar ações na penúltima semana", afirma. Ele conta que desde outubro estava fora de Bolsa, mas crê que agora é hora de começar a voltar.
Zaremba sugere o mesmo remédio aos investidores que estão dispostos a correr o risco inerente ao mercado de ações. "Fique atento às oportunidades que começarão a aparecer. Este é um bom momento para se iniciar uma carteira de ações ou comprar cotas de fundos de ações", diz ele.
Tal recomendação num momento em que tantos investidores ainda estão amargando perdas nas cotas dos seus fundos soa como heresia. Mas a lógica do mercado manda "comprar na baixa e vender na alta". Zaremba diz que, quando todos estão pensando que o mundo vai acabar, como agora, é hora de começar a entrar no mercado acionário. "Já quando os ganhos em Bolsa viram capa de revista é hora de vender", diz.
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