Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
07/10/2001 - 09h19

Brasil é mais desigual sob FHC, diz pesquisa

Publicidade

LEONARDO SOUZA
da Folha de S.Paulo

Pelas estatísticas oficiais, Maria do Rosário Corrêa de Souza, 40, empregada doméstica, teria sido beneficiada por uma política que garantiu melhor distribuição de renda à população nos últimos anos, ainda que bastante sutil.

Mas, diferentemente do que dizem os levantamentos do governo, Maria do Rosário e seu marido, Marcos Paulo de Souza, 36, ex-motorista, se encaixam melhor nos números de pesquisa inédita do professor da Unicamp Waldir Quadros, 52. Quadros constatou concentração de renda na década passada, com aumento de ganhos dos mais ricos em detrimento dos mais pobres.

Segundo o estudo, a concentração de renda foi agravada pelo desemprego durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, que atingiu principalmente as camadas mais pobres da população. Quadros trabalhou sobre os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e dividiu a população brasileira em quatro camadas de ocupação.

As duas primeiras -que reúnem os proprietários empregadores, os profissionais liberais, a alta classe média (administradores, gerentes etc.) e a média classe média (ocupações técnicas, por exemplo)- tiveram aumento de renda. As duas últimas camadas (operários, motoristas, empregados domésticos, trabalhadores rurais etc.), entretanto, viram seus ganhos diminuir.


Pesquisa
O professor terminou no mês passado a primeira etapa de seu trabalho, que compreende os anos de 92 a 98 e grande parte do governo de Fernando Henrique, que assumiu o Planalto em 95. Quadros partiu de 92 porque é a primeira Pnad com a metodologia atualmente em vigor.

Pelo levantamento do professor, a primeira camada, que representava 15,2% da população em 92, respondia por 41,1% do total dos rendimentos do país naquele ano. Em 98, sua participação na população se manteve praticamente estável (15,3%). No entanto seu quinhão na renda aumentou para 45,2%.

A primeira camada foi a única que teve crescimento real da renda. Os rendimentos médios relativos (proporção entre a participação no total da população e a renda correspondente) desse grupo subiram de 7,3% para 8,4%.

Os ganhos da segunda camada aumentaram um pouco entre 92 e 98 (de 17,1% para 18% do total), mas foram acompanhados por crescimento proporcional na participação no total da população. Assim, os rendimentos médios relativos da segunda camada ficaram estáveis em 3,3%.

A terceira e a quarta camadas tiveram queda absoluta e real de renda. A participação da terceira camada nos ganhos totais caiu de 33,4% para 30% -os rendimentos médios relativos decresceram de 2,1% para 1,9%. A parcela da quarta camada, na qual Rosário está incluída, no rendimento total caiu de 8,4% para 6,9%.


Dados oficiais
As estatísticas do governo seguem modelos adotados internacionalmente, mas que não levam em consideração a estrutura ocupacional da população. O índice de Gini, um dos mais usados no mundo inteiro, indica se os rendimentos da população estão nas mãos de mais ou menos pessoas (mais ou menos concentrados).

No entanto, destaca o professor Quadros, o índice é pouco sensível para captar certas variações nos extremos da sociedade em casos de grande concentração de renda, como no Brasil.

Pelo índice de Gini, quanto mais perto de zero, melhor a distribuição de renda. Quanto mais próximo de um, pior a desigualdade. De 92 para 98, o índice de Gini ficou praticamente estável. De 0,575 foi para 0,584. Na década de 90, entre 89 e 99, o índice apresentou sutil melhora, de 0,647 caiu para 0,576.

Segundo o relatório do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) do ano passado, mas com dados até 98, o Brasil melhorou cinco posições no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) -de 79º colocado para 74º, entre 174 nações.

Porém caiu do 19º para 21º lugar no IPH (Índice de Pobreza Humana) entre os países em desenvolvimento. Mas não por aumento da pobreza, e sim porque três países evoluíram mais rapidamente e ultrapassaram o Brasil.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página