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28/10/2001 - 11h10

Com mais óleo, país compra mais gasolina

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LÁSZLÓ VARGA
da Folha de S.Paulo

Quando o Brasil enfim produzir todo o petróleo de que precisa, pode ter de ainda mais comprar gasolina. Previsões da Agência Nacional de Petróleo (ANP) e da Petrobras indicam que o país será auto-suficiente em petróleo em 2005. Ou seja, não terá de importar o óleo. Mas há décadas que o país não investe em refinarias. Está quase no limite de sua capacidade de processamento.

"Em breve, deveremos importar mais diesel e querosene de aviação, que terão peso bastante negativo na balança comercial", diz Fábio Silveira, da consultoria MB Associados.

Dados de importação e exportação de derivados mostram um quadro de risco. Segundo a ANP, em 1999 as importações de derivados atingiram US$ 1,86 bilhão. As exportações (principalmente gasolina para a América do Sul) somaram US$ 568,82 milhões. Ou seja, foi registrado um déficit de US$ 1,3 bilhão de dólares. Em 1984, no entanto, a balança de derivados era favorável. As importações somaram US$ 142 milhões, contra os US$ 2 bilhões em vendas para o exterior. Um superávit de US$ 1,85 bilhão.

A situação atual só não é mais grave porque desde 2000 tem havido uma retração no consumo de combustíveis. O que tem adiado uma nova crise energética que ronda o Brasil. "A partir do segundo semestre de 2002, no entanto, o país deve voltar a ter crescimento no consumo de derivados. O que trará à tona o problema de falta de refinarias", diz Silveira.
Capacidade de refino

O Brasil possui hoje 12 refinarias de gasolina, diesel ou querosene de aviação. A Petrobras tem dez, e as outras duas pertencem à Ipiranga e ao grupo Peixoto de Castro. A capacidade total de refino do país é de cerca de 1,9 milhão de barris de petróleo por dia. A produção atual, com o desaquecimento da economia, está em torno de 1,65 milhão, conforme a assessoria da Petrobras.

A perspectiva de crescimento anual de 3% a 5% do Produto Interno Bruto (PIB) a partir de 2002, segundo economistas, resultará a curto e médio prazo em um déficit de combustíveis nacionais. O Brasil corre o risco de até ter de exportar petróleo e depois importar os refinados de volta.

O presidente do Sindicato Nacional dos Distribuidores de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom), Paulo Borgerth, concorda que o Brasil deverá viver do suporte da importação de derivados nos próximos anos.

Ele lembra que existe um superávit de refinarias no mundo, e que somente no Brasil é que faltam centrais de processamento. "Os problemas que surgirão em breve se devem à falta de um programa de estruturação e investimento em recursos energéticos."

Segundo Borgerth, o planejamento já deveria ter sido feito há décadas. "O governo Fernando Henrique Cardoso deveria agora aproveitar o Conselho Nacional de Política Energética, criado para tratar do racionamento de eletricidade, e expandir os estudos para os derivados de petróleo."

Custos
Os arquivos da ANP indicam que atualmente existe apenas um projeto de nova refinaria no Brasil. Trata-se do projeto do grupo alemão Thyssen, aprovado em 1998. Até agora não foi inaugurada.

Nenhum outro projeto foi aprovado pela agência. O que é preocupante, pois a construção de uma refinaria demora de dois a três anos. "E cada uma delas exige investimentos da ordem de US$ 2 bilhões", afirma o diretor de planejamento estratégico da distribuidora de combustíveis Agip, Paolo Grossi.

Em resumo, o Brasil pode ter uma nova safra de refinarias somente em 2004, na melhor das hipóteses. Isso se a Petrobras e grupos internacionais decidirem finalmente investir em projetos. Não há indícios de que isso irá ocorrer. "A Agip não tem nenhum plano nesse sentido. O mercado brasileiro está confuso, com sonegações de impostos nos postos."

No ano passado, o governo até tentou criar um paliativo para a situação. Como ninguém se propunha a construir refinarias, autorizou que as petroquímicas Copesul, Copene e Petroquímica União (PQU) processassem refinados. O que acrescentou 42,4 mil metros cúbicos diários à produção do país. Mas foi uma medida paliativa que não irá resolver o problema da falta iminente de derivados.

 

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