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29/10/2001
-
07h49
CLÓVIS ROSSI
Enviado especial da Folha de S.Paulo a Madri
O governo brasileiro não negocia mais a crise do Mercosul com o ministro da Economia da Argentina, Domingo Cavallo.
É evidente que, de público, a chancelaria brasileira não pode assumir essa posição, até porque "a situação argentina já é suficientemente complicada para que o governo brasileiro acrescente um fator adicional de complicação", como diz o ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer.
Ainda assim, Lafer chegou perto de afirmar que Cavallo já não é um negociador idôneo do ponto de vista do Brasil.
A Folha de S.Paulo perguntou ao ministro ontem se o governo brasileiro gostaria, conceitualmente, de que fosse afastada da mesa de negociação a posição representada pelo ministro Cavallo, segundo a qual o câmbio brasileiro é um dos grandes responsáveis pelas dificuldades enfrentadas pela economia argentina.
"Sim", respondeu Lafer.
A Folha de S.Paulo apurou que, mais que conceitualmente, o Itamaraty gostaria que Cavallo fosse fisicamente afastado, uma tese que tem todo o respaldo do embaixador do Brasil em Buenos Aires, Sebastião do Rêgo Barros.
Os defensores dessa posição acham que o governo brasileiro se desgasta mais e mais ao continuar negociando mesmo depois de uma sucessão de crises provocadas pelos destemperos verbais do ministro argentino e/ou por políticas por ele implementadas.
A mais recente crise foi na sexta-feira passada, quando Cavallo disse que não é possível negociar com um país que não controla o seu câmbio.
O governo brasileiro suspendeu as negociações, que estavam para começar, em torno da introdução de salvaguardas para proteger setores da economia argentina que se acham prejudicados por exportações brasileiras facilitadas pela desvalorização contínua do real.
Tanto Lafer como o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso fizeram declarações, em Madri, cobrando gestos práticos do governo argentino, para que as negociações pudessem ser retomadas.
Na noite de sábado, o gesto veio, na forma de um telefonema do chanceler argentino Adalberto Rodríguez Giavarini a seu colega Celso Lafer para avisar que o presidente Fernando de la Rúa havia feito declarações defendendo enfaticamente o Mercosul.
Em seguida, chegou o fax com a cópia da declaração.
De fato, o presidente argentino disse que "o Mercosul continua sendo uma política de Estado, uma prioridade (...) e conta com uma reconhecida importância estratégica para seus membros".
Definiu como "irrenunciável" o projeto de integração entre os dois países.
Lafer qualificou como "muito positivos" o gesto de Giavarini e as declarações do presidente Fernando de la Rúa.
Lembrou que, hoje, o Mercosul apresenta à União Européia sua proposta de liberalização comercial, para a eventual constituição de uma zona de livre comércio entre os dois blocos. E essa proposta ficaria abalada se persistissem dúvidas sobre o empenho argentino em relação às negociações para o Mercosul.
"Era muito importante que houvesse uma declaração do governo argentino, sem a qual a consistência de nossa proposta seria mais discutível", disse Lafer.
Os gestos de Giavarini e de De la Rúa bastam para que o Brasil volte à mesa de negociações com a Argentina?
Lafer responde que ele "abre um espaço para que as negociações sejam retomadas", mas todo o seu raciocínio deixa claro que a retomada do diálogo depende da resolução prévia do que o ministro chama de "conflito de concepções".
Para o ministro Domingo Cavallo, a diferença de regime cambial entre Brasil e Argentina é um pedaço importante dos problemas que a economia argentina enfrenta. Para o governo brasileiro, embora reconheça que as diferenças cambiais são um complicador, o eixo do problema não passa pelo câmbio.
"Discutir o câmbio, tal como ele [Cavallo] coloca, não é o caminho possível para nós", diz Lafer.
O ministro acha até que Cavallo foi "desautorizado" pelos termos da nota de De la Rúa, uma avaliação discutível. Não é a primeira vez em que Cavallo diz uma coisa, o Brasil reage, De la Rúa assopra e o Mercosul segue a sua vida, até a crise seguinte.
Agora, no entanto, chegou-se ao limite. A negociação só será retomada nos termos propostos pelo Brasil, ou seja, uma avaliação objetiva dos danos eventualmente provocados a setores econômicos da Argentina pelas exportações brasileiras.
Se comprovados efetivamente, o Brasil concordará com a introdução de salvaguardas, ou seja, de medidas restritivas às suas exportações naquele setor específico.
No geral, Lafer esgrime o fato de o saldo comercial continuar favorável à Argentina, que exporta para o Brasil mais do que dele importa, para demonstrar que o câmbio não é o problema central.
"Nós não podemos bancar o sistema cambial argentino", afirma Lafer.
Leia mais no especial sobre Argentina
Brasil não aceita mais negociar com Cavallo
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Enviado especial da Folha de S.Paulo a Madri
O governo brasileiro não negocia mais a crise do Mercosul com o ministro da Economia da Argentina, Domingo Cavallo.
É evidente que, de público, a chancelaria brasileira não pode assumir essa posição, até porque "a situação argentina já é suficientemente complicada para que o governo brasileiro acrescente um fator adicional de complicação", como diz o ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer.
Ainda assim, Lafer chegou perto de afirmar que Cavallo já não é um negociador idôneo do ponto de vista do Brasil.
A Folha de S.Paulo perguntou ao ministro ontem se o governo brasileiro gostaria, conceitualmente, de que fosse afastada da mesa de negociação a posição representada pelo ministro Cavallo, segundo a qual o câmbio brasileiro é um dos grandes responsáveis pelas dificuldades enfrentadas pela economia argentina.
"Sim", respondeu Lafer.
A Folha de S.Paulo apurou que, mais que conceitualmente, o Itamaraty gostaria que Cavallo fosse fisicamente afastado, uma tese que tem todo o respaldo do embaixador do Brasil em Buenos Aires, Sebastião do Rêgo Barros.
Os defensores dessa posição acham que o governo brasileiro se desgasta mais e mais ao continuar negociando mesmo depois de uma sucessão de crises provocadas pelos destemperos verbais do ministro argentino e/ou por políticas por ele implementadas.
A mais recente crise foi na sexta-feira passada, quando Cavallo disse que não é possível negociar com um país que não controla o seu câmbio.
O governo brasileiro suspendeu as negociações, que estavam para começar, em torno da introdução de salvaguardas para proteger setores da economia argentina que se acham prejudicados por exportações brasileiras facilitadas pela desvalorização contínua do real.
Tanto Lafer como o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso fizeram declarações, em Madri, cobrando gestos práticos do governo argentino, para que as negociações pudessem ser retomadas.
Na noite de sábado, o gesto veio, na forma de um telefonema do chanceler argentino Adalberto Rodríguez Giavarini a seu colega Celso Lafer para avisar que o presidente Fernando de la Rúa havia feito declarações defendendo enfaticamente o Mercosul.
Em seguida, chegou o fax com a cópia da declaração.
De fato, o presidente argentino disse que "o Mercosul continua sendo uma política de Estado, uma prioridade (...) e conta com uma reconhecida importância estratégica para seus membros".
Definiu como "irrenunciável" o projeto de integração entre os dois países.
Lafer qualificou como "muito positivos" o gesto de Giavarini e as declarações do presidente Fernando de la Rúa.
Lembrou que, hoje, o Mercosul apresenta à União Européia sua proposta de liberalização comercial, para a eventual constituição de uma zona de livre comércio entre os dois blocos. E essa proposta ficaria abalada se persistissem dúvidas sobre o empenho argentino em relação às negociações para o Mercosul.
"Era muito importante que houvesse uma declaração do governo argentino, sem a qual a consistência de nossa proposta seria mais discutível", disse Lafer.
Os gestos de Giavarini e de De la Rúa bastam para que o Brasil volte à mesa de negociações com a Argentina?
Lafer responde que ele "abre um espaço para que as negociações sejam retomadas", mas todo o seu raciocínio deixa claro que a retomada do diálogo depende da resolução prévia do que o ministro chama de "conflito de concepções".
Para o ministro Domingo Cavallo, a diferença de regime cambial entre Brasil e Argentina é um pedaço importante dos problemas que a economia argentina enfrenta. Para o governo brasileiro, embora reconheça que as diferenças cambiais são um complicador, o eixo do problema não passa pelo câmbio.
"Discutir o câmbio, tal como ele [Cavallo] coloca, não é o caminho possível para nós", diz Lafer.
O ministro acha até que Cavallo foi "desautorizado" pelos termos da nota de De la Rúa, uma avaliação discutível. Não é a primeira vez em que Cavallo diz uma coisa, o Brasil reage, De la Rúa assopra e o Mercosul segue a sua vida, até a crise seguinte.
Agora, no entanto, chegou-se ao limite. A negociação só será retomada nos termos propostos pelo Brasil, ou seja, uma avaliação objetiva dos danos eventualmente provocados a setores econômicos da Argentina pelas exportações brasileiras.
Se comprovados efetivamente, o Brasil concordará com a introdução de salvaguardas, ou seja, de medidas restritivas às suas exportações naquele setor específico.
No geral, Lafer esgrime o fato de o saldo comercial continuar favorável à Argentina, que exporta para o Brasil mais do que dele importa, para demonstrar que o câmbio não é o problema central.
"Nós não podemos bancar o sistema cambial argentino", afirma Lafer.
Leia mais no especial sobre Argentina
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