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30/10/2001
-
10h24
FABIO EDUARDO MURAKAWA
da Folha de S.Paulo, enviado especial a Sergipe
Os produtores irrigantes do sertão nordestino só tem uma certeza com relação à safra deste ano: grandes prejuízos.
Eles sofrem os reflexos da crise energética e da lamentável situação em que se encontra o rio São Francisco, principal fonte de água para a maior parte dos projetos de irrigação no Nordeste.
Essa realidade afeta todos. Agricultores familiares vêem a produtividade de sua lavoura desabar. E os grandes pólos agroindustriais temem pela perda de qualidade dos produtos e prevêem queda nas exportações.
Próximos à hidrelétrica de Xingó, em Canindé do São Francisco (SE), os irrigantes do projeto Califórnia enfrentam dificuldades até para captar água do rio, que está bem abaixo de seu nível normal.
Para cumprir as metas do racionamento, os administradores do projeto já haviam desligado uma das três bombas que retiram água do São Francisco.
Mesmo assim, os 1.200 m3/s liberados pelo reservatório de Xingó não têm sido suficientes para manter o equipamento funcionando. No ano passado, a vazão média do rio naquele ponto era de 2.500 m3/s.
"Muitas vezes, as bombas ficam acima do nível da água, e nós somos obrigados a desligá-las para não danificar as máquinas", diz Antônio Anselmo Rezende, coordenador do Califórnia.
Ali, cerca de 250 pequenos agricultores produzem cerca de 13 mil toneladas de alimentos por meio de irrigação. O quiabo, voltado sobretudo para o mercado de Salvador, é a principal cultura.
O quiabo tem baixo custo de produção e grande procura, principalmente nos festejos juninos. ''Dá uma boa renda", diz o agricultor Adilson Alencar Fontes.
Adilson, que sustenta a mulher e quatro filhos, diminuiu este ano sua área plantada de 3 hectares para 2 hectares. Com a área reduzida e menos água disponível, a produção cairá pela metade.
A mulher, Nelma, que controla as contas da casa, diz que teve de cortar alguns gastos.
"Não deixei de fazer a feira, mas calçados e roupas para as crianças nem pensar. E a pintura da casa ficou para o ano que vem", diz ela.
Outra agricultora, Maria José Alves da Silva, 49, também planta quiabo em uma pequena propriedade no Califórnia.
"Antes o pivô funcionava o dia inteiro. Agora fica a maior parte do tempo desligado", diz.
A menos de 5 km da usina de Xingó, ela mora com oito filhos e três netos em uma casa que não tem luz elétrica.
Em Neópolis (SE), também às margens do São Francisco, são os empresários que sofrem com o racionamento. Ainda em fase inicial, o projeto visa a produção de frutas para exportação.
A área plantada subiu este ano de 2.800 hectares para 4.800 hectares. Mas o racionamento frustrou os investimentos, e a produção deve repetir a do ano passado.
Segundo Marcos Henrique Porto Fonseca, da Ascondi, que administra os projetos irrigados em Neópolis, há também ali problemas para puxar a água do rio.
Por conta da fraca vazão do São Francisco, e devido à proximidade com a sua foz, distante 40 km, as marés passam a ser importantes para os agricultores.
"Quando a maré está alta, o nível do rio se eleva, e nós temos a garantia de que as bombas podem ser ligadas", diz.
Leia mais no especial sobre Crise Energética
Racionamento energético reduz a safra do Nordeste
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da Folha de S.Paulo, enviado especial a Sergipe
Os produtores irrigantes do sertão nordestino só tem uma certeza com relação à safra deste ano: grandes prejuízos.
Eles sofrem os reflexos da crise energética e da lamentável situação em que se encontra o rio São Francisco, principal fonte de água para a maior parte dos projetos de irrigação no Nordeste.
Essa realidade afeta todos. Agricultores familiares vêem a produtividade de sua lavoura desabar. E os grandes pólos agroindustriais temem pela perda de qualidade dos produtos e prevêem queda nas exportações.
Próximos à hidrelétrica de Xingó, em Canindé do São Francisco (SE), os irrigantes do projeto Califórnia enfrentam dificuldades até para captar água do rio, que está bem abaixo de seu nível normal.
Para cumprir as metas do racionamento, os administradores do projeto já haviam desligado uma das três bombas que retiram água do São Francisco.
Mesmo assim, os 1.200 m3/s liberados pelo reservatório de Xingó não têm sido suficientes para manter o equipamento funcionando. No ano passado, a vazão média do rio naquele ponto era de 2.500 m3/s.
"Muitas vezes, as bombas ficam acima do nível da água, e nós somos obrigados a desligá-las para não danificar as máquinas", diz Antônio Anselmo Rezende, coordenador do Califórnia.
Ali, cerca de 250 pequenos agricultores produzem cerca de 13 mil toneladas de alimentos por meio de irrigação. O quiabo, voltado sobretudo para o mercado de Salvador, é a principal cultura.
O quiabo tem baixo custo de produção e grande procura, principalmente nos festejos juninos. ''Dá uma boa renda", diz o agricultor Adilson Alencar Fontes.
Adilson, que sustenta a mulher e quatro filhos, diminuiu este ano sua área plantada de 3 hectares para 2 hectares. Com a área reduzida e menos água disponível, a produção cairá pela metade.
A mulher, Nelma, que controla as contas da casa, diz que teve de cortar alguns gastos.
"Não deixei de fazer a feira, mas calçados e roupas para as crianças nem pensar. E a pintura da casa ficou para o ano que vem", diz ela.
Outra agricultora, Maria José Alves da Silva, 49, também planta quiabo em uma pequena propriedade no Califórnia.
"Antes o pivô funcionava o dia inteiro. Agora fica a maior parte do tempo desligado", diz.
A menos de 5 km da usina de Xingó, ela mora com oito filhos e três netos em uma casa que não tem luz elétrica.
Em Neópolis (SE), também às margens do São Francisco, são os empresários que sofrem com o racionamento. Ainda em fase inicial, o projeto visa a produção de frutas para exportação.
A área plantada subiu este ano de 2.800 hectares para 4.800 hectares. Mas o racionamento frustrou os investimentos, e a produção deve repetir a do ano passado.
Segundo Marcos Henrique Porto Fonseca, da Ascondi, que administra os projetos irrigados em Neópolis, há também ali problemas para puxar a água do rio.
Por conta da fraca vazão do São Francisco, e devido à proximidade com a sua foz, distante 40 km, as marés passam a ser importantes para os agricultores.
"Quando a maré está alta, o nível do rio se eleva, e nós temos a garantia de que as bombas podem ser ligadas", diz.
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