Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
03/12/2001 - 09h38

Fundos DI "turbinados" embutem risco maior

Publicidade

SANDRA BALBI
da Folha de S.Paulo

Os fundos DI, por terem uma remuneração referenciada no CDI (Certificado de Depósito Interbancário), a taxa de juro praticada entre os bancos, são muito parecidos entre si, independentemente da instituição que os administra. Neste ano, porém, os DI não estão tão semelhantes assim.

Em geral esses fundos rendem em torno de 85%, 88% da variação do CDI, já descontada a taxa de administração. De janeiro até a última quarta-feira, pelo menos 44 deles tiveram uma rentabilidade superior a 99% do CDI, segundo levantamento do Laboratório de Finanças da FIA FEA/USP (Fundação Instituto de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP).

A explicação para os ganhos excepcionais está na política de investimentos adotada por seus gestores. Os DI, em geral, aplicam a maior parte dos recursos em LFTs (Letras Financeiras do Tesouro), que pagam uma taxa de juro estabelecida nos leilões do Banco Central.

Os fundos que tiveram ganhos turbinados neste ano, em sua maioria, investiram também em papéis do setor privado, como CDBs (Certificados de Depósitos Bancários), debêntures e, principalmente, em títulos cambiais com "swap" (troca) para CDI. Todos têm mais risco que as LFTs.

"Títulos cambiais 'swapados' são vantajosas porque, como têm menos liquidez que as LFTs, dão um retorno um pouco maior", explica Norival Wedekin, administrador de carteiras sênior do Deutsche Bank. Segundo ele, um título cambial com "swap", com vencimento em 2004, é negociado no mercado secundário com uma taxa que corresponde a 107% do CDI. Já uma LFT com o mesmo prazo paga 101,5% do CDI.

O fundo Deutsche Corporate DI, que tem 50% da carteira em títulos cambiais com "swap" para CDI, está rendendo 15,55% no ano, o equivalente a 100,26% do CDI. Ele também obteve ganhos com títulos do setor privado, como CDBs e debêntures, que correspondem a 13% de sua carteira.

Devido à política de gestão mais ativa adotada por alguns bancos, antes de aplicar em um fundo DI, vale a pena conferir qual é a composição da sua carteira. A máxima de que os DI são aplicações de baixo risco, pois são lastreados, basicamente, em títulos públicos federais, não vale para todos.

"Os fundos em que o gestor compra LFTs e senta em cima têm risco inferior ao dos que têm uma gestão ativa", diz Mailson Hykavei, gestor de fundos da ABN Amro Asset Management.

Por isso ele recomenda que o investidor leia o prospecto do fundo antes de aplicar para ver qual o risco que está correndo.

Os fundos DI da ABN Amro Real também têm títulos cambiais "swapados", que giram em torno de 40% da carteira. Segundo Hykavei, por meio da operação de "swap" elimina-se o risco da variação cambial do título e ele passa a render como uma LFT. "O risco para o investidor do fundo é se a carteira contiver muitos desses papéis 'swapados'", diz. Segundo ele, a ABN Amro convencionou limitar essas operações a até 50% da carteira dos DI.

Metodologia
Há duas formas de o gestor de um fundo DI alavancar ganhos com operações de "swap" de papéis cambiais para CDI. Uma delas é comprar NBCEs (Notas do Banco Central - Série Especial), o principal papel cambial emitido pelo governo nos leilões do BC.

Depois, negociar esses títulos com tesourarias de bancos que recebem a variação cambial do título e a repassam a empresas e clientes que precisam fazer hedge (proteção) em dólar.

Bolivar Godinho Filho, diretor-adjunto de asset management do BMC, diz que o fundo DI do banco deve sua rentabilidade de 15,57% acumulada até o dia 28/11 a esse tipo de operação. O fundo beneficiou-se também da compra de CDBs com rendimento entre 103% e 104% do CDI. O fundo exige aplicação mínima de R$ 1.000 e destina-se ao varejo.

Outra forma de operar com títulos cambiais com "swap" para CDI é comprá-los no mercado secundário já "swapados". "Com isso, elimina-se o risco do leilão dos papéis cambiais, onde os preços oscilam o tempo todo", observa Renato Ramos, diretor de renda fixa do HSBC Brain.

Além disso, segundo ele, como os títulos cambiais têm pagamentos periódicos de juros (um título com vencimento em um ano paga juros a cada seis meses), é preciso montar uma operação de "swap" para cada um desses fluxos. "Tem de ser tudo casado, por isso preferimos comprar os papéis já 'swapados' no mercado secundário", diz ele. Se o casamento não for perfeito, cresce o risco do fundo.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página