Publicidade
Publicidade
17/12/2001
-
08h26
SANDRA BALBI
da Folha de S.Paulo
A evolução da rentabilidade real das aplicações financeiras mostra, claramente, dois patamares distintos desde o início do Real . O primeiro, de ganhos mais altos entre 1995 e 1999. De lá para cá, houve um brutal encolhimento dos rendimentos reais, sempre abaixo dos 10% em todas as categorias de fundos, poupança e Bolsa -esta amargando rentabilidade negativa desde o ano passado.
Esses dois degraus são consequência da mudança na condução da política econômica pelo governo. "Na primeira fase, para manter a inflação sob controle, o governo amordaçou o câmbio e pagou juros reais de quase 23% ao ano", diz o consultor Mauro Halfeld, professor de economia da Universidade Federal do Paraná.
Pagar juros exorbitantes foi condição, naqueles anos, para manter o fluxo de investimentos estrangeiros que sustentavam o déficit em conta corrente -diferença entre o que entra e o que sai de dinheiro no país.
"Quando ocorria uma crise externa, como a da Ásia e a da Rússia (1997 e 1998), o impacto ia todo para o juro, que era puxado para a lua para evitar a saída dos investidores externos e a perda de reservas", diz Marcio Verri, estrategista-chefe do BankBoston.
Na segunda fase, após a desvalorização cambial em janeiro de 1999, "houve uma total inversão da política econômica", segundo Halfeld. Agora, com o câmbio flutuante, o impacto dos choques externos é absorvido na cotação da moeda, como se viu este ano.
"Com o câmbio flutuante, e a disciplina fiscal restaurada (acerto das contas públicas), a política monetária não precisa mais ficar apoiada apenas nos juros, e eles puderam ficar mais baixos", diz Jorge Simino, diretor da UAM (Unibanco Asset Management). "Por isso a rentabilidade real dos investidores caiu", acrescenta.
Mas comparado ao mercado internacional, o juro real brasileiro ainda é alto, assim como o ganho dos investidores. A taxa média ao ano do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), o juro praticado entre os bancos e referencial das aplicações de renda fixa, está em 16,16%. Descontada a inflação projetada em 7,5% pelo mercado, o juro real no CDI é de 8,5%.
Nos EUA, por exemplo, com o juro em 1,75% ao ano, depois dos sucessivos cortes feitos pelo Fed, o banco central americano, os ganhos médios das aplicações em fundos de renda fixa tributáveis devem chegar a 5,8% este ano, segundo levantamento da Lipper, empresa que analisa fundos de investimento. Descontada a inflação, os investidores americanos teriam um rendimento real em torno dos 2% neste ano.
Orientação
Analistas e consultores aplaudem o recuo dos ganhos financeiros. "Do ponto de vista macroeconômico, a perda de rentabilidade, provocada pela queda dos juros reais, é muito positiva", saúda Nelson Sussumu, gestor de renda fixa da Safra Asset Management. "Nenhum país aguenta pagar juros elevados por muito tempo."
Num misto de projeção, torcida e fé, os analistas arriscam dizer - depois de um ano em que todos os cenários desenhados por eles foram torpedeados pela realidade- que a tendência, daqui para a frente, é de queda das taxas.
Mas, ressalvam, 2002 ainda será um ano de juro real alto, pois embora a inflação esperada seja menor (5,20% nas últimas projeções do mercado), o juro básico, a Selic, deverá recuar pouco. A taxa cairia em doses homeopáticas até o patamar de 17% ao ano.
"A política monetária ainda será conservadora, o BC só deverá mexer no juro depois do primeiro trimestre", diz Alexandre Póvoa, diretor de investimentos da ABN Amro Asset Management.
Por isso, diz ele, para quem vai iniciar uma aplicação neste final de ano, os fundos DI ainda são a melhor opção. Quem já está nesses fundos deve manter a aplicação nos próximos três meses.
O investidor, porém, deve ficar atento às decisões do Copom (Comitê de Política Monetária), pois quando começar o recuo da taxa básica de juro será hora de rever as aplicações. "Quem quiser obter ganhos maiores terá de buscar ativos de mais risco," diz Carlos Eduardo Rocha, diretor de estratégia e pesquisa econômica do Credit Lyonnais Brasil.
Na sua opinião, a partir do segundo trimestre o cenário ficará favorável aos investimentos em ações. "A economia americana deverá começar a reagir no segundo semestre, o que ativará a economia local", diz Rocha. "E a Bolsa deverá antecipar uma tendência."
Nesse momento, o investidor deverá começar a entrar em Bolsa ou fundo de ações, pois esse mercado responde rapidamente ao crescimento econômico. "Mas vá comprando aos poucos", sugere.
Afinal, cautela não faz mal a ninguém, especialmente em um ano que a Bolsa vai exigir do investidor a destreza de um profissional para obter ganhos, segundo Luiz Antonio Vaz das Neves, diretor da corretora Planner. "Será preciso um giro rápido da carteira, pois o ano será de volatilidade alta", diz ele.
Juro real deverá cair pouco em 2002
Publicidade
da Folha de S.Paulo
A evolução da rentabilidade real das aplicações financeiras mostra, claramente, dois patamares distintos desde o início do Real . O primeiro, de ganhos mais altos entre 1995 e 1999. De lá para cá, houve um brutal encolhimento dos rendimentos reais, sempre abaixo dos 10% em todas as categorias de fundos, poupança e Bolsa -esta amargando rentabilidade negativa desde o ano passado.
Esses dois degraus são consequência da mudança na condução da política econômica pelo governo. "Na primeira fase, para manter a inflação sob controle, o governo amordaçou o câmbio e pagou juros reais de quase 23% ao ano", diz o consultor Mauro Halfeld, professor de economia da Universidade Federal do Paraná.
Pagar juros exorbitantes foi condição, naqueles anos, para manter o fluxo de investimentos estrangeiros que sustentavam o déficit em conta corrente -diferença entre o que entra e o que sai de dinheiro no país.
"Quando ocorria uma crise externa, como a da Ásia e a da Rússia (1997 e 1998), o impacto ia todo para o juro, que era puxado para a lua para evitar a saída dos investidores externos e a perda de reservas", diz Marcio Verri, estrategista-chefe do BankBoston.
Na segunda fase, após a desvalorização cambial em janeiro de 1999, "houve uma total inversão da política econômica", segundo Halfeld. Agora, com o câmbio flutuante, o impacto dos choques externos é absorvido na cotação da moeda, como se viu este ano.
"Com o câmbio flutuante, e a disciplina fiscal restaurada (acerto das contas públicas), a política monetária não precisa mais ficar apoiada apenas nos juros, e eles puderam ficar mais baixos", diz Jorge Simino, diretor da UAM (Unibanco Asset Management). "Por isso a rentabilidade real dos investidores caiu", acrescenta.
Mas comparado ao mercado internacional, o juro real brasileiro ainda é alto, assim como o ganho dos investidores. A taxa média ao ano do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), o juro praticado entre os bancos e referencial das aplicações de renda fixa, está em 16,16%. Descontada a inflação projetada em 7,5% pelo mercado, o juro real no CDI é de 8,5%.
Nos EUA, por exemplo, com o juro em 1,75% ao ano, depois dos sucessivos cortes feitos pelo Fed, o banco central americano, os ganhos médios das aplicações em fundos de renda fixa tributáveis devem chegar a 5,8% este ano, segundo levantamento da Lipper, empresa que analisa fundos de investimento. Descontada a inflação, os investidores americanos teriam um rendimento real em torno dos 2% neste ano.
Orientação
Analistas e consultores aplaudem o recuo dos ganhos financeiros. "Do ponto de vista macroeconômico, a perda de rentabilidade, provocada pela queda dos juros reais, é muito positiva", saúda Nelson Sussumu, gestor de renda fixa da Safra Asset Management. "Nenhum país aguenta pagar juros elevados por muito tempo."
Num misto de projeção, torcida e fé, os analistas arriscam dizer - depois de um ano em que todos os cenários desenhados por eles foram torpedeados pela realidade- que a tendência, daqui para a frente, é de queda das taxas.
Mas, ressalvam, 2002 ainda será um ano de juro real alto, pois embora a inflação esperada seja menor (5,20% nas últimas projeções do mercado), o juro básico, a Selic, deverá recuar pouco. A taxa cairia em doses homeopáticas até o patamar de 17% ao ano.
"A política monetária ainda será conservadora, o BC só deverá mexer no juro depois do primeiro trimestre", diz Alexandre Póvoa, diretor de investimentos da ABN Amro Asset Management.
Por isso, diz ele, para quem vai iniciar uma aplicação neste final de ano, os fundos DI ainda são a melhor opção. Quem já está nesses fundos deve manter a aplicação nos próximos três meses.
O investidor, porém, deve ficar atento às decisões do Copom (Comitê de Política Monetária), pois quando começar o recuo da taxa básica de juro será hora de rever as aplicações. "Quem quiser obter ganhos maiores terá de buscar ativos de mais risco," diz Carlos Eduardo Rocha, diretor de estratégia e pesquisa econômica do Credit Lyonnais Brasil.
Na sua opinião, a partir do segundo trimestre o cenário ficará favorável aos investimentos em ações. "A economia americana deverá começar a reagir no segundo semestre, o que ativará a economia local", diz Rocha. "E a Bolsa deverá antecipar uma tendência."
Nesse momento, o investidor deverá começar a entrar em Bolsa ou fundo de ações, pois esse mercado responde rapidamente ao crescimento econômico. "Mas vá comprando aos poucos", sugere.
Afinal, cautela não faz mal a ninguém, especialmente em um ano que a Bolsa vai exigir do investidor a destreza de um profissional para obter ganhos, segundo Luiz Antonio Vaz das Neves, diretor da corretora Planner. "Será preciso um giro rápido da carteira, pois o ano será de volatilidade alta", diz ele.
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Ministério Público pede bloqueio de R$ 3,8 bi de dono de frigorífico JBS
- Por que empresa proíbe caminhões de virar à esquerda - e economiza milhões
- Megarricos buscam refúgio na Nova Zelândia contra colapso capitalista
- Com 12 suítes e 5 bares, casa mais cara à venda nos EUA custa US$ 250 mi
- Produção industrial só cresceu no Pará em 2016, diz IBGE
+ Comentadas
- Programa vai reduzir tempo gasto para pagar impostos, diz Meirelles
- Ministério Público pede bloqueio de R$ 3,8 bi de dono de frigorífico JBS
+ EnviadasÍndice