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27/12/2001
-
08h20
do "El País"
Qual é o problema mais importante que a Argentina tem no momento? Voltar a ser um país normal, com uma democracia estabilizada e uma classe política que recupere a credibilidade, posta em questão por anos de corrupção e extrema ineficiência.
Qual é o problema mais urgente? Sair da espantosa recessão que já dura quatro anos e empobreceu um país possuidor de todo tipo de matéria-prima e de uma classe média com nível de educação muito superior à média da região.
Para resolver o problema mais importante é preciso solucionar o mais urgente. A Argentina já empossou um presidente provisório, o peronista Adolfo Rodríguez Saá, que administrará o país pelos próximos meses, até a realização das eleições presidenciais antecipadas.
Saá já demonstrou sua ambição de continuar na Casa Rosada depois do período de transição. Cumpre-se assim a primeira premissa: ter interlocutores que substituam à dupla De la Rúa-Cavallo, para que o FMI retome suas negociações com a Argentina e ofereça dinheiro novo ao país.
Saá anunciou programa de choque para reduzir os efeitos nocivos da recessão: suspensão do pagamento da dívida externa, um plano social para criar 1 milhão de postos de trabalho, distribuição de ajuda urgente para restaurar a cadeia alimentícia dos cidadãos e manutenção do sistema de conversibilidade da moeda argentina.
Além disso, ele comunicou a criação de uma terceira moeda com o objetivo de injetar liquidez no consumo e pagar, pelo menos nominalmente, todos os funcionários. A idéia central do novo presidente é sacrificar a curto prazo os interesses dos credores internacionais em benefício dos cidadãos argentinos. Mas é duvidoso que o consiga.
Em primeiro lugar, para negociar a moratória mais importante da história, falta-lhe a legitimidade e a força dos votos.
A ausência de credibilidade dos dirigentes não se manifesta só diante de seus cidadãos mas também perante a comunidade financeira, que deixou de emprestar dinheiro ao país.
E, sobretudo, para manter o sistema de conversibilidade da moeda (um peso equivale a um dólar), que no momento é o centro das dificuldades econômicas do país, devido à sua artificialidade. Domingo Cavallo, em 1991, tomou a decisão de fixar o valor do peso em relação ao dólar através de uma taxa fixa de câmbio e conseguiu acabar com a hiperinflação.
Mas, em um momento em que a inflação já não constitui uma realidade (bem o contrário: a Argentina está sofrendo deflação), os países concorrentes mais próximos desvalorizaram suas moedas, o preço das matérias-primas caiu e o dólar subiu de valor refletindo a potência da economia norte-americana, o tipo de câmbio se transformou em problema letal que levou o país à recessão e ao caos.
Essa conjuntura se mantém, e a decisão do novo presidente de não mudá-la parece impossível de cumprir.
Os peronistas voltaram ao poder através do controle do Legislativo, não através das urnas, e dispõem de pouco tempo para atuar e amenizar as consequências dramáticas da recessão.
Por isso ativaram esse pacote de medidas populistas com as quais tentam convencer os cidadãos a curto prazo e perpetuar-se na Casa Rosada. Mas o populismo, como a história demonstra, é pão hoje e fome amanhã, uma máxima extremamente pertinente em uma economia globalizada à qual a Argentina, por bem ou por mal, pertence.
Tradução de Paulo Migliacci
Leia mais no especial sobre Argentina
Análise: O populismo peronista de volta ao poder na Argentina
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Qual é o problema mais importante que a Argentina tem no momento? Voltar a ser um país normal, com uma democracia estabilizada e uma classe política que recupere a credibilidade, posta em questão por anos de corrupção e extrema ineficiência.
Qual é o problema mais urgente? Sair da espantosa recessão que já dura quatro anos e empobreceu um país possuidor de todo tipo de matéria-prima e de uma classe média com nível de educação muito superior à média da região.
Para resolver o problema mais importante é preciso solucionar o mais urgente. A Argentina já empossou um presidente provisório, o peronista Adolfo Rodríguez Saá, que administrará o país pelos próximos meses, até a realização das eleições presidenciais antecipadas.
Saá já demonstrou sua ambição de continuar na Casa Rosada depois do período de transição. Cumpre-se assim a primeira premissa: ter interlocutores que substituam à dupla De la Rúa-Cavallo, para que o FMI retome suas negociações com a Argentina e ofereça dinheiro novo ao país.
Saá anunciou programa de choque para reduzir os efeitos nocivos da recessão: suspensão do pagamento da dívida externa, um plano social para criar 1 milhão de postos de trabalho, distribuição de ajuda urgente para restaurar a cadeia alimentícia dos cidadãos e manutenção do sistema de conversibilidade da moeda argentina.
Além disso, ele comunicou a criação de uma terceira moeda com o objetivo de injetar liquidez no consumo e pagar, pelo menos nominalmente, todos os funcionários. A idéia central do novo presidente é sacrificar a curto prazo os interesses dos credores internacionais em benefício dos cidadãos argentinos. Mas é duvidoso que o consiga.
Em primeiro lugar, para negociar a moratória mais importante da história, falta-lhe a legitimidade e a força dos votos.
A ausência de credibilidade dos dirigentes não se manifesta só diante de seus cidadãos mas também perante a comunidade financeira, que deixou de emprestar dinheiro ao país.
E, sobretudo, para manter o sistema de conversibilidade da moeda (um peso equivale a um dólar), que no momento é o centro das dificuldades econômicas do país, devido à sua artificialidade. Domingo Cavallo, em 1991, tomou a decisão de fixar o valor do peso em relação ao dólar através de uma taxa fixa de câmbio e conseguiu acabar com a hiperinflação.
Mas, em um momento em que a inflação já não constitui uma realidade (bem o contrário: a Argentina está sofrendo deflação), os países concorrentes mais próximos desvalorizaram suas moedas, o preço das matérias-primas caiu e o dólar subiu de valor refletindo a potência da economia norte-americana, o tipo de câmbio se transformou em problema letal que levou o país à recessão e ao caos.
Essa conjuntura se mantém, e a decisão do novo presidente de não mudá-la parece impossível de cumprir.
Os peronistas voltaram ao poder através do controle do Legislativo, não através das urnas, e dispõem de pouco tempo para atuar e amenizar as consequências dramáticas da recessão.
Por isso ativaram esse pacote de medidas populistas com as quais tentam convencer os cidadãos a curto prazo e perpetuar-se na Casa Rosada. Mas o populismo, como a história demonstra, é pão hoje e fome amanhã, uma máxima extremamente pertinente em uma economia globalizada à qual a Argentina, por bem ou por mal, pertence.
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