Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
31/12/2001 - 09h41

Com a nova moeda única, cultura deixará de circular na Eurolândia

Publicidade

JOÃO BATISTA NATALI
da Folha de S.Paulo

Os 12 países europeus que adotaram o euro acordarão culturalmente mais pobres amanhã.

A Bélgica deixa de evocar nos bilhetes de 100 francos o pintor surrealista René Magritte (1898-1967). A Espanha abandona com a nota de 5.000 pesetas a efígie do navegador Cristóvão Colombo (1451-1506). A Irlanda, por sua vez, perde com a cédula de 10 libras a imagem do escritor James Joyce (1822-1941), que revolucionou o idioma inglês e o romance como gênero ao publicar em 1922 o seu "Ulysses".

São alguns dos exemplos de personagens que evocam, na memória coletiva, valores debaixo dos quais esses países fabricaram o sentimento de nacionalidade.

Entre as moedas que desaparecem, uma única não sofrerá esse prejuízo. É o florim holandês. Em 1989 uma reforma gráfica suprimiu das notas os retratos, como o do pintor barroco Frans Hals (1582-1666), que circulou nas cédulas dos anos 70. A Holanda adotou então para seu dinheiro um design de figuras abstratas.

O euro, divisa que passa a substituir todas as outras, é de um referencial histórico bem frio para poder contentar a todos. Traz impressos em seus bilhetes exemplos de estilos arquitetônicos -clássico, gótico ou barroco- que são um dos poucos pontos de contato cultural entre os 12 países que o adotaram como moeda.

A Grécia é o país que deixa ao relento os personagens mais antigos de sua tradição. A nota de 100 dracmas trazia a deusa Atenas, a de 1.000 trazia Zeus e a partir de 1987 quem a ocupava era Apolo, um deus menos poderoso mas hoje bem mais conhecido.

A França é talvez a que abandone personagens de existência mais recente. A cédula de 50 francos tinha o rosto de Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944), aviador e mais conhecido como o autor de "O Pequeno Príncipe".

A de 100 francos trazia o pintor impressionista Paul Cézanne (1839-1906), a de 200 o engenheiro Gustave Eiffel (1832-1923), autor do projeto da torre metálica parisiense que leva o seu nome. A de 500, o físico Pierre Curie (1859-1906) e sua mulher, a também cientista Marie Curie.

Freud e Mozart
O xelim austríaco trazia em geral personagens menos conhecidos fora da história local. Mas as duas celebridades estampadas são de imenso peso na cultura mundial: Sigmund Freud (1856-1939), o fundador da psicanálise, na nota de 50, e o compositor Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), na nota de 5.000.

O marco alemão tinha um mérito. Das seis cédulas de circulação corrente, a metade (três) trazia efígies de mulheres. São elas a escritora Bettina von Amim (1785-1859), na nota de 5, a poeta Annette Droste-Hülshoff, na nota de 20, e poeta e naturalista Maria Sibylla Merian (1647-1717), na de 500.

A nota de 1.000 marcos que está saindo de circulação traz os irmãos Wilhelm (1786-1859) e Jacob Grimm (1785-1863), os irmãos Grimm, compiladores de contos populares e de histórias infantis. O marco alemão não trazia nenhum herói nacional com tradição na vida militar.

O escudo português teve lá seus pendores literários. Na nota de 100 o personagem estampado era o poeta Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805), e na de 5.000, o também poeta Antero de Quental (1842-1891).

Na Espanha, as pesetas que deixam de circular não traziam estampado o rosto de Miguel de Cervantes. Mas tinham, na nota de 500, a imagem da escritora Rosalía de Castro (1837-1885), criadora do romance moderno em idioma galego.

Por fim, uma curiosidade. A cédula de 200 francos belgas trazia a imagem de Adolphe Sax (1814-1894), um fabricante de instrumentos de sopro que passou para a história da música como o inventor do saxofone.

Saiba tudo sobre o euro

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página