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01/01/2002 - 09h28

Internet ganha mais com menos empresas

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MARCELO BILLI
da Folha de S. Paulo

O número de empresas virtuais no Brasil encolheu, mas a "nova economia" brasileira está mais saudável. Hoje, um número menor de concorrentes disputa um mercado que cresceu de forma sustentada em 2001: o volume de vendas online quase triplicou. Os investimentos de capital de risco, que somaram US$ 1,4 bilhão em 2000, caíram, mas chegaram a US$ 800 milhões.

Apenas parte do dinheiro foi investida em empresas de tecnologia. Os investidores, assustados com as perdas no mercado norte-americano, onde mais de 500 empresas virtuais faliram no ano passado, ficaram mais seletivos e cautelosos.

"Se antes os fundos analisavam dez projetos para escolher um, hoje a regra é analisar cem e, muitas vezes, não investir", diz Mário Fleck, presidente da Accenture Brasil.

A estimativa de investimentos de capital de risco em 2001 é de Robert Binder, da ABCR (Associação Brasileira de Capital de Risco). Ele avalia que os investimentos ficaram em US$ 800 milhões no ano passado. É dinheiro investido em vários setores.

Mas a preferência dos investidores é sempre por negócios com perspectivas de crescimento rápido e boa lucratividade. Ou seja, empresas ligadas a novas tecnologias como aplicativos para internet, biotecnologia, etc.

Sem especulação
"De maneira geral, não houve grande especulação no Brasil. Principalmente porque tivemos a oportunidade de observar o que acontecia no mercado norte-americano", diz Binder.

Ele lembra, no entanto, que muitos investidores perderam dinheiro por aqui. Desapareceram provedores, como o Super11.net, varejistas, como o Fera.com e o Superofertas e sites especializados, como o Guialocal.

"O estouro não apareceu muito porque algumas empresas foram absorvidas, outras desapareceram silenciosamente", afirma André Castellini, consultor da Bain & Company.

O estouro da pequena bolha especulativa no Brasil, a exemplo do que acontece nos EUA, não significa o fim dos negócios de internet. "É óbvio que existiu uma bolha. Mas por trás dessa bolha havia uma onda de inovações. O que acabou foi a bolha especulativa, mas a onda continua", diz Fleck.

Para quem sobreviveu, o resultado do ajuste é positivo. Primeiro porque com um número menor de empresas, cada uma pode ficar com um pedaço maior do mercado.

Segundo, porque o mercado de internet continua crescendo a taxas estratosféricas. Terceiro porque, com o fim da especulação, acaba o dinheiro fácil, e as empresas que tendem a surgir são mais viáveis e sólidas.

"As empresas gastaram menos e cresceram mais em 2001, o que é um sinal de amadurecimento", diz Paula Fonseca, que dirige a Invent, uma incubadora que cria e desenvolve novos negócios.

Ela lembra que, em época de dinheiro fácil, muitas empresas gastaram excessivamente com publicidade. "Eram gastos irracionais. Isso não existe mais."

Em 2001, o varejo online no Brasil movimentou US$ 906 milhões, quase o triplo dos US$ 335 milhões do ano anterior. A estimativa é do Boston Consulting Group e da Visa, que em novembro do ano passado divulgaram estudo sobre as tendências do comércio eletrônico na América Latina.

O mesmo estudo avalia que, mesmo que as economias da região não cresçam em 2002, as empresas virtuais podem se expandir. Motivo: o varejo virtual representa apenas 1% do varejo total e há, portanto, espaço para aumentar essa participação.

Seleção natural
Murillo Tavares, presidente do Submarino, chama o saneamento pelo qual passou o mercado de "darwinismo quase cruel". Mas, diz o executivo, depois da seleção natural pela qual passaram as empresas, "acabaram as distorções".

A empresa dirigida por Tavares foi uma das sobreviventes. Fecha o ano vendendo o triplo do que vendia em 2000. O site faturou R$ 76 milhões, vendendo de livros e CDs a perfumes e ferramentas.

Apesar de ter visto seus principais concorrentes virtuais irem à bancarrota, o Submarino continua enfrentando competidores. Agora, os oponentes são os varejistas tradicionais, como a livraria Saraiva, Lojas Americanas e Ponto Frio, que também abriram suas lojas virtuais.

Concentração
O saneamento do mercado de internet acabou por revelar também que a nova economia não é tão diferente do mundo que seus entusiastas chamavam de "velha economia": de maneira similar ao que ocorre em muitos setores tradicionais, no mundo online, um número pequeno de empresas domina o mercado.

No Brasil, os três maiores sites de varejo online de cada setor abocanham cerca de 70% do mercado, revela a pesquisa do Boston Consulting e da Visa.

Ou seja, com algumas exceções, mais nos EUA do que no Brasil, quem acabará ganhando muito dinheiro com as novas tecnologias são as grandes empresas e fundos já estabelecidos.

O relatório do Boston Consulting mostra que a concorrência tende a se acirrar. O motivo: mesmo as empresas tradicionais que já estão na rede ainda não "aprenderam" qual a melhor maneira de usá-la em seus negócios. O razoável é que invistam cada vez mais para tirar proveito da internet.

 

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