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05/02/2002 - 10h17

Ministro rebate nos EUA crítica sobre corrupção no Brasil

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CLÓVIS ROSSI
Enviado especial
da Folha de S.Paulo, em Nova York

Sergio Amaral, o ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, rebateu ontem em público, embora sem mencioná-lo, as críticas do secretário norte-americano do Tesouro, Paul O'Neill, para quem os juros altos no Brasil se devem à corrupção e à falta de respeito às regras legais.

"Corrupção não é privilégio de nenhum país", ironizou o ministro, durante debate sobre o "Panorama Latino-Americano", como parte do encontro anual do Fórum Econômico Mundial.

Para sustentar o argumento, Amaral desviou o foco para os Estados Unidos, ao dizer: "Mais e mais se fala de corrupção nas companhias, como no caso Enron". É uma alusão ao colapso da empresa de energia Enron, que está ganhando crescentes ares de escândalo e ameaça respingar no próprio presidente George W. Bush -amigo de Kenneth Lay, criador e presidente da Enron, que financiou generosamente campanhas eleitorais (do próprio Bush e de outros, inclusive do Partido Democrata).

Em Brasília, o presidente Fernando Henrique Cardoso não comentou as declarações de O'Neil. Segundo o porta-voz da Presidência da República, Alexandre Parola, FHC lembrou que o ministro Celso Lafer (Relações Exteriores) já havia exposto a posição do governo, "ao declarar quão descabida foi a afirmativa do funcionário norte-americano".

Sergio Amaral, em Nova York, admitiu o óbvio ("não quero dizer que o Brasil foi completamente bem-sucedido" no combate à corrupção), mas fez questão de lembrar exemplos: citou o impeachment do presidente Collor; o afastamento de alguns lideranças do Senado; e até a prisão de banqueiros (ex-dirigentes do Banco Nacional, já liberados).

Para o ministro, "o problema não é corrupção, mas 'accountability' (trata-se de palavra que não tem tradução exata em português nem em espanhol e que significa prestação de contas)".

Amaral acha que, lentamente, "está se criando um sentido de "accountability" no Brasil".

Pode ser, mas o fato é que a percepção externa de que a corrupção é um problema sério não apenas no Brasil mas no conjunto da América Latina permeou o debate de ontem sobre a região.

O presidente do Peru, Alejandro Toledo, até disse que "a corrupção tinha penetrado nas fibras mais sensíveis da sociedade peruana", em alusão ao governo de seu antecessor e inimigo Alberto Fujimori. Toledo, previsivelmente, diz estar combatendo o mal.

Receitas postas à mesa: o economista chileno Felipe Larraín, professor da Universidade Católica do Chile, mencionou a fórmula liberal. "Quanto mais aberta uma economia, quanto mais claras as regras e quanto menor for o poder discricionário dos burocratas, menos corrupção haverá", acha o economista.

Tem lógica, mas a Argentina abriu razoavelmente a sua economia, reduziu o poder dos burocratas e nem por isso a corrupção cedeu. Tanto que "há um clamor para o combate à corrupção", como afirma Miguel Kiguel, presidente do Banco Hipotecário e ex-chefe do Conselho de Assessores Econômicos do Ministério da Economia argentino.

Já Sergio Amaral preferiu chamar a atenção para o clientelismo, que batizou de "distorção do sistema político". Combatê-lo seria também uma forma de reduzir a corrupção e, diz o ministro, "o Brasil está tratando de fazer isso".

Deu como exemplo a descentralização das verbas para escolas, que, em vez de serem intermediadas por políticos, vão diretamente para os beneficiários, com supervisão da comunidade local.
 

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