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13/02/2002 - 08h00

Duhalde comemora dólar a 2 pesos no 2º dia de câmbio livre

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FABRICIO VIEIRA
da Folha de S.Paulo, em Buenos Aires

A estréia comportada do câmbio livre encheu de otimismo o discurso do governo argentino, como se a batalha contra a disparada do dólar estivesse ganha. O presidente Eduardo Duhalde já projeta que o preço do dólar vai ficar entre 1,40 e 1,70 peso.

O comportamento do mercado ontem deu mais força às expectativas de Duhalde. No segundo dia de câmbio flutuante, o dólar recuou 4,8%. Quem comprou dólares na última hora de negociações pagou dois pesos por dólar.

''Essa é uma prova da maturidade dos argentinos. Estamos superando um momento de incertezas e acredito que o dólar vai cair mais, para oscilar entre 1,40 e 1,70 peso'', afirmou o presidente em seu programa de rádio.

Mas economistas e analistas de mercado advertem que ainda é cedo para acreditar que o dólar vá se estabilizar. O mercado ainda opera com pouca liquidez, com os negócios concentrados nas pequenas operações realizadas por particulares. Os argentinos mais uma vez fizeram longas filas para, em sua maioria, vender dólares que tinham guardado em casa para pagar contas.

O Banco Central não fez intervenções diretas com a venda de dólares nos últimos dois dias. No entanto não se pode dizer que o governo tenha deixado o dólar flutuar livremente. As precauções tomadas pelo governo para controlar a alta da moeda foram grandes.

Em primeiro lugar, manteve o curralzinho (como é conhecido o bloqueio das contas bancárias). A medida limita a quantidade disponível de pesos no bolso dos argentinos que poderiam ser utilizados na compra de dólares. As empresas ainda são obrigadas a pedir autorização para o BC quando querem liquidar compromissos no exterior, o que restringe drasticamente a demanda pela moeda norte-americana.

Por enquanto, o BC ainda não autorizou nenhuma empresa ou banco a pagar os vencimentos de dívidas no exterior. Neste mês, vencem US$ 800 milhões em débitos. Se o BC permitir que todos os endividados comprem dólares para honrar seus compromissos, isso poderia causar um forte impacto no valor da moeda norte-americana, pois o mercado de câmbio na Argentina ainda é muito estreito, com movimento diário inferior a US$ 10 milhões.

Os importadores quase não têm realizado negócios de compra de dólares, na expectativa de que a moeda recue um pouco mais.

Duhalde afirmou que as dúvidas quanto às oscilações futuras do dólar fizeram muita gente remarcar seus preços. A disparada da inflação, como reflexo da desvalorização do peso, é um dos maiores temores do governo argentino.

Em janeiro, a inflação foi de 2,3%, a maior variação mensal registrada em uma década.

O vice-ministro da Economia, Jorge Todesca, afirmou que o governo estuda a redução de tarifas para a importação e a retenção de produtos exportáveis -especialmente carne e trigo- se as remarcações continuarem.

Com o fim da conversibilidade, o governo está revendo a política de exportação. Os incentivos fiscais dados aos exportadores serão reduzidos em 50%.

O recuo do dólar afetou o pregão da Bolsa de Valores de Buenos Aires. Muitos investidores apostaram na alta da moeda norte-americana e venderam os papéis. Os negócios do dia fizeram o Merval despencar 8,37%.

O porta-voz da Presidência, Eduardo Amadeo, que acompanha o ministro da Economia, Jorge Remes Lenicov, em sua viagem a Washington, se mostrou mais cauteloso ao comentar a reação do câmbio após o início do mercado livre e afirmou que ainda é cedo para dizer se o dólar se manterá em dois pesos.

Duhalde aproveitou seu programa de rádio para anunciar que vai percorrer o país em caravana para ver de perto os problemas da nação. 'Não há nada melhor do que estar perto do povo'', declarou.

O papa João Paulo 2º disse ontem que o populismo e o egoísmo jogaram a Argentina na atual crise econômica e social.

Para o papa, as instituições democráticas argentinas estão passando por um teste, e o povo deve aproveitar o momento e examinar sua conduta.

Leia mais no especial sobre Argentina
 

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