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14/02/2002 - 18h04

Executiva acusa Enron de "manipulações abertas" na contabilidade

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MICHEL BLANCO
da Folha Online

A executiva da Enron Sherron Watkins disse hoje a parlamentares norte-americanos que a empresa usou contratos firmados com outras companhias para "manipulações abertas" em sua contabilidade. Segundo ela, dois dos principais executivos da corporação enganaram o ex-presidente da Enron, Keneth Lay.

Watkins, 42, é a primeira executiva da Enron a acusar publicamente a distribuidora de energia de iludir intencionalmente seus investidores. Ela é vice-presidente de Desenvolvimento Corporativo da empresa.

Em sua versão da história, a executiva diz ter ficado "altamente alarmada" com as informações que havia recebido sobre a contabilidade da companhia.

Ela disse ao subcomitê de Comércio da Câmara que investiga a quebra da Enron que se reuniu três vezes com o então presidente da companhia, Keneth Lay, para tratar do assunto.

Em agosto, Watkins teria alertado por carta o então presidente da Enron, Keneth Lay de que a empresa poderia "implodir em uma onda de escândalos de contabilidade". Segundo ela, uma das entidades envolvidas com as parcerias da Enron, conhecida como "Raptor", devia à empresa mais de US$ 700 milhões. A executiva teria pedido a Lay "descobrir quem perdeu aquele dinheiro".

Após a reunião ela afirmou que Lay "me garantiu que checaria minhas dúvidas". No entanto, Lay apenas pediu que a companhia jurídica da Enron, a Vinson & Elkins, investigasse o assunto, disse a executiva.

Meses após a primeira reunião, quando a situação na Enron já era insustentável, ela voltou a alertar o presidente da empresa. Durante reunião em 30 de outubro, a Watkins teria dito que a companhia precisava "jogar limpo" e revelar as grandes perdas financeiras com as parcerias em questão, segundo anotações de sua pauta para o encontro.

"Pessoas erradas"
Na reunião, Watkins aconselhou Lay a "admitir [aos investidores] que ele havia confiado em pessoas erradas", botando a culpa no então chefe-executivo da Enron, Jeffrey Skilling, no ex-vice-presidente financeiro, Andrew Fastow, e no diretor de contabilidade, Rick Causey. Lay acabou se demitindo em 23 de janeiro.

Pouco mais de uma semana após esta reunião a Enron foi obrigada a divulgar seus prejuízos, que acabaram levando a empresa a pedir concordata em 2 de dezembro, no maior caso de falência da história dos EUA.

Demissões
Enquanto Watkins prestava depoimento ao Congresso, a Enron demitiu nesta tarde Causey e Richard Buy, vice-presidente de Operações de Risco.

Os executivos, juntamente com Fastow e Michael Kopper, um ex-funcionário da Enron que gerenciava uma das parcerias, negaram-se a depor no Congresso ao invocar a Quinta Emenda da Constituição dos EUA. O mesmo fez Keneth Lay. Pela Quinta Emenda, testemunhas e réus têm o direito de não falar, para evitar a auto-incriminação.

Apenas Jeffrey Skilling, que chefiou a companhia antes do pedido de concordata, em dezembro passado, depôs à Câmara.

Até o momento ele é o único executivo do primeiro escalão da Enron que aceitou falar sobre o colapso da companhia. Em seu depoimento, ele disse que não tinha conhecimento de operações de contabilidade fraudulenta.

Para os congressistas, Skilling foi pouco convincente e corre o risco de ser processado por falso testemunho.

Contabilidade suspeita
Por mais de quatro anos, a distribuidora de energia inflou artificialmente seu lucro em mais de US$ 586 milhões.

A descoberta de erros na contabilidade da Enron em novembro levou a empresa a pedir concordata no mês seguinte. Além da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC, na sigla em inglês), o Departamento de Justiça e mais de dez comitês do Congresso estão investigando os motivos que levaram à quebra da Enron.

O pedido de concordata da Enron trouxe à tona uma série de suspeitas sobre as práticas de contabilidade de outras empresas. Outra companhia que está na mira da Justiça devido a um processo semelhante é a Global Crossing.

O governo dos EUA ampliou a investigação sobre a contabilidade da empresa de telecomunicações. A medida visa apurar supostas irregularidades em um tipo de transação financeira conduzida pela empresa e que também foi utilizada pela Enron.

O governo quer saber se os contratos de compartilhamento das redes de fibra ótica da Global Crossing com outras empresas para cobrir os buracos em suas áreas de cobertura não foram utilizados para inflar artificialmente seus resultados.

Esse tipo de contrato foi bastante comercializado durante o boom da internet, à medida em que empresas de telecomunicações tentavam antecipar sua capacidade para atender o suposto aumento na demanda por transmissão de dados.

Aperto
Embora as declarações de Watkins tentem aliviar a situação de Keneth Lay, o ex-presidente da Enron se vê em uma posição bastante delicada. Tanto, que já prevendo as despesas que terá em sua defesa, o ex-presidente da empresa vendeu um de seus "chalés" em Aspen, Colorado (EUA).

A casa foi vendida por US$ 10 milhões -a mais alta cotação por metro quadrado já realizada no badalado paraíso de inverno dos ricos, segundo corretores. Quando comprou a casa, de 279 metros quadrados , em 1991, Lay havia pago por ela US$ 1,9 milhões.

Segundo a família, a venda da casa deve-se a sua má situação financeira após o colapso da Enron. Lay tem outras três propriedades em Aspen a venda. O negócio foi fechado na semana passada, mas só foi noticiado ontem pela imprensa.

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