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04/03/2002 - 08h17

Corte no juro não infla ganhos da renda fixa

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SANDRA BALBI
da Folha de S.Paulo

O impacto da recente queda da Selic, a taxa básica de juros da economia, na rentabilidade dos fundos de renda fixa foi ínfimo.

Nos cinco dias posteriores à queda dos juros eles tiveram um retorno médio anualizado 0,27 ponto percentual superior à média dos cinco dias anteriores à decisão do Copom de reduzir a Selic para 18,75% ao ano, segundo estudo do Labfin (Laboratório de Finanças) da Faculdade de Economia Administração e Contabilidade da USP.

Em cenários de juros declinantes, alguns gestores de recursos e consultores costumam orientar o investidor a buscar aplicações prefixadas, como os fundos de renda fixa, que têm em carteira títulos públicos e privados cujas taxas de juro foram definidas no momento em que o gestor comprou os papéis. No entanto, o ganho adicional desses fundos, com a queda da Selic, mostrou-se irrisório.

Os gestores de fundos também dizem que, no atual cenário, os fundos de renda fixa seriam mais vantajosos que os conservadores DI. Mas, segundo os resultados do estudo feito pelo Labfin, não faz muita diferença estar em um ou outro produto neste momento. No acumulado do ano, o rendimento da renda fixa é 0,73 ponto percentual superior ao do DI.

"O recuo dos juros não resultará, necessariamente, em ganhos maiores para quem tem dinheiro em aplicações prefixadas, como fundos de renda fixa, CDBs ou títulos prefixados do Tesouro Direto", diz Henrique Garcia, diretor da Thomson Financial Brasil.

Isso porque, segundo ele, "os papéis de renda fixa já embutem, em sua maioria, uma projeção de queda dos juros". Só terá um ganho adicional quem aplicou em papéis cujo prazo de vencimento é de pelo menos um ano e que, quando foram emitidos, o mercado não previa um recuo das taxas.

Por isso, segundo Garcia, não se recomenda a quem está em uma aplicação pós-fixada, como um fundo DI, migrar para um fundo de renda fixa, cujos papéis são prefixados.

O consultor financeiro William Eid Júnior é ainda mais enfático. "Para o pequeno e médio investidor, mudanças de posição nessas horas só trazem prejuízo", diz. Migrar de um fundo para outro tem um custo alto, o da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira).

Além disso, ao sair de um DI para um fundo de renda fixa, o investidor estará correndo mais risco. "Se o cenário virar, com um novo atentado nos EUA ou agravamento da guerra na Colômbia, por exemplo, os juros podem voltar a subir", diz Eid. Nesse caso, os renda fixa perderiam rentabilidade.

Cenário
Para quem vai iniciar uma aplicação, os analistas também questionam a escolha de um fundo de renda fixa pelo pequeno e médio investidor. "Só vale a pena entrar agora se for para deixar o dinheiro por dois ou três anos", diz Eid. "O processo de queda dos juros será longo, não correrá em dois ou três meses", acrescenta.

Para Garcia, mesmo assim o investidor deve certificar-se de que o fundo de renda fixa onde vai aplicar seu dinheiro carrega papéis de vencimento longo ou seja, mais de um ano. "Esses papéis têm taxas mais atraentes do que os de curto prazo", diz.

Quem pensa em obter um ganho adicional imediato com a queda dos juros pode esquecer. Num cenário muito otimista -recuperação da economia americana, fim do conflito no Oriente Médio e economia Argentina entrando nos eixos- a taxa Selic cairia 1,5 ponto percentual este ano, segundo Eid. Ou seja, chegaria a 17,25% ao ano.

"Isso teria um efeito muito reduzido sobre o rendimento dos pequenos investidores que estiverem em aplicações prefixadas", afirma.

Para ter uma idéia do efeito do recuo dos juros para o pequeno investidor, Eid calculou que, quem tem hoje R$ 50 mil em um fundo de renda fixa, teria um ganho de menos de R$ 350 no ano se houver uma queda de um ponto percentual na taxa de juro.

Viés de baixa
Até o próximo mês, a Selic deverá cair um ponto percentual, segundo projeção da consultoria LCA. O corte no último dia 20 seria o pontapé inicial.

"Até abril há um cenário favorável para o governo baixar o juro. É um período em que, sazonalmente, a inflação está baixa", diz Luis Suzigan, economista da LCA. "Além disso o câmbio não estará pressionado, pois o volume de vencimentos da dívida externa é baixo e há poucos títulos cambiais vencendo no mercado interno."

Mas, segundo o economista, entre abril e setembro haverá pressão inflacionária dos alimentos, dos vestuários e das tarifas administradas pelo governo.

 

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