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21/03/2002 - 08h25

Juro real de longo prazo deve recuar mais

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ISABEL CAMPOS
da Folha de S.Paulo

O principal efeito do corte de 0,25 ponto da Selic, realizado ontem pelo BC, é que ele ratifica os cortes que vêm sendo feitos na taxa de juro real de longo prazo e estimula novas reduções.

Para a economia brasileira, isso é vital. Com a massa salarial achatada, o crédito restrito e a política fiscal apertada, hoje o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto, o total de riquezas produzidas pelo país) depende essencialmente da taxa real de longo de prazo. As afirmações são de Hugo Penteado, economista-chefe da ABN Amro Asset Management.

Segundo Penteado, o que faz as empresas tomarem a decisão de investir na própria atividade não é a taxa Selic, em si, mas a taxa real de longo prazo.

A taxa real de longo prazo é o juro, depois de descontada a variação da inflação, embutido nas taxas nominais dos títulos do governo federal, nos papéis de renda fixa e em contratos do mercado futuro de juros com prazos de um ano ou mais.

Os juros de longo prazo são formados pelos participantes do mercado de renda fixa com base na taxa Selic vigente, nas taxas de curto prazo (apuradas no mercado de CDI -Certificado de Depósito Interbancário), na política monetária seguida pelo Banco Central, nas previsões para o desempenho da economia e na capacidade do governo federal de pagar a sua dívida.

As taxas de juros de longo prazo podem ou não andar próximas às taxas de curto prazo ou à Selic. Essa proximidade depende do otimismo ou pessimismo que ronda os seus componentes.

O gráfico nesta página, preparado pela ABN Amro, mostra a variação dos juros reais de curto prazo e os de longo prazo.

Os de curto prazo foram baseados na variação diária do CDI, acumulada nos últimos 12 meses, descontada a inflação. Vale lembrar que o CDI costuma ter comportamento bem semelhante ao da taxa Selic.

Para chegar à taxa real de longo prazo, foram utilizados como referência os juros praticados no mercado de "swap" de renda fixa contra DI.

Em janeiro de 2001, quando ainda havia a expectativa de que a economia poderia se sair bem no ano, o juro real de curto prazo era de 10,56% ao ano, e o de longo prazo, de 11,29% ao ano.

À medida que a desaceleração da economia mundial foi tomando corpo, afetando a entrada de recursos estrangeiros no país, e outros fatores negativos foram surgindo, como a falta de energia elétrica no Brasil e o acirramento da crise na Argentina, a taxa de longo prazo foi se distanciando da de curto prazo.

Em julho, diz Penteado, a taxa real de longo prazo chegou a 18,22% ao ano, enquanto a de curto prazo estava em 8,55%. O pior momento de estresse em 2001, lembra Penteado, foi em 11 de julho, quando a taxa bateu em 20,5% ao ano.

A "sorte" do país, diz Penteado, é que os agentes econômicos não viram a crise como permanente.

Com juros reais de longo prazo na faixa de 18%, 20% ao ano, são poucos os empresários que tomam uma decisão de investimento. Se eles continuassem nessa faixa, certamente o Brasil teria entrado em recessão.

De julho para cá, conforme foram melhorando as previsões para as economias brasileira e mundial, a taxa real de longo prazo foi cedendo.

De outubro para novembro, caiu de 17,50% para 13,60% ao ano. Em janeiro, já estava em 12,09%. Agora, está em 10,56%, pouco maior que a de curto prazo (9,69%). É o menor valor desde novembro de 2000.

Caso se confirmem as previsões de mercado de que, até junho, o Banco Central promoverá outros cortes na Selic e que não haverá nenhum contratempo no cenário internacional, explica Penteado, as taxas reais de longo prazo continuarão caindo, podendo fechar o ano na faixa de 8%, 9% ao ano. De 99 para cá, só foram observados percentuais tão baixos em agosto e setembro de 2000.

Será um alento para a economia. "Como a massa real de salários não está subindo, as exportações devem crescer apenas 1,5% a 2% e o crédito anda restrito, o PIB de 2002 vai depender dos investimentos que as empresas fizerem, principalmente as do setor industrial," diz Penteado.

 

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