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21/03/2002
-
08h52
CLÓVIS ROSSI
Enviado especial da Folha de S.Paulo a Monterrey
O governo brasileiro aproveitou ontem a conferência internacional a que comparecerão, no total, 53 chefes de Estado/governo para cobrar que a ajuda externa à Argentina seja dada "agora", no dia em que o peso disparava.
A cobrança constou do discurso na sessão plenária da Conferência Internacional sobre Financiamento ao Desenvolvimento feito pelo embaixador Clodoaldo Hugueney, que está assumindo um cargo que, na prática, é o de negociador-chefe do Brasil para assuntos comerciais.
Hugueney começou por pedir "coerência" entre os aspectos monetários e financeiros, de um lado, e o comercial, do outro. Em relação aos primeiros, repetiu a tese em que o presidente Fernando Henrique Cardoso insiste desde a primeira posse: a necessidade de estabilidade nos fluxos de capitais para os países em desenvolvimento e de mecanismos para prevenir crises ou manejá-las adequadamente quando ocorrem.
É o caso da Argentina, o que permitiu a introdução do apelo por ajuda imediata. "O governo argentino tomou medidas e merece apoio", diz o embaixador.
Quanto ao comércio, Hugueney atacou o protecionismo dos países ricos, que, segundo ele, não só afeta os países em desenvolvimento como "dilui o apoio a medidas de liberalização comercial".
O embaixador rendeu, por fim, homenagem ao economista norte-americano James Tobin, Prêmio Nobel de Economia, morto recentemente. Tobin idealizou um imposto, batizado com seu nome, que seria cobrado em todas as transações com moedas que cruzem fronteiras (hoje, cerca de US$ 1,4 trilhão por dia).
A arrecadação serviria para financiar programas de combate à pobreza, mas a taxação seria uma maneira de inibir o movimento de capitais e sua volatilidade.
Ao criticar o protecionismo dos ricos, Hugueney está tocando no ponto que mais interessa ao Brasil na conferência. O comércio é, afinal, a principal fonte de financiamento externo para países de renda média, como o Brasil, que não recebem a ODA (Assistência Oficial ao Desenvolvimento, doações dos países desenvolvidos).
Um estudo do Banco Mundial, aliás, mostra que os países em desenvolvimento ganhariam US$ 130 bilhões, só com o incremento de suas exportações, se os países ricos eliminarem o protecionismo em áreas que afetam as nações em desenvolvimento.
Por isso mesmo, o economista norte-americano Jeffrey Sachs, recém-nomeado como assessor especial do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, diz que é preciso pôr o comércio na "tela do radar para que a agenda de Doha seja realmente a agenda do desenvolvimento". É uma alusão ao lançamento em Doha (Qatar), em novembro, de uma nova rodada de negociações comerciais.
Mike Moore, diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), responsável pela rodada, mostrou-se ontem otimista. "Estamos viajando muito bem", diz Moore, sobre os passos dados nos quatro meses após Doha.
Moore até exagera: diz que o Consenso de Monterrey, o documento final da conferência, "tem palavras muito fortes sobre comércio". Não é verdade. O texto apenas endossa as decisões de Doha e lista as barreiras comerciais dos países desenvolvidos.
"Quatro meses após Doha, não esperaria por nenhum novo avanço", conforma-se Moore.
Que o comércio é a alavanca mais poderosa para os países pobres ou de renda média, fica claro nas comparações de Moore: "Se a nova rodada for concluída satisfatoriamente, os ganhos para os países em desenvolvimento serão cinco vezes maiores que a ODA e oito vezes maiores que o alívio de suas dívidas externas".
O otimismo do diretor-geral da OMC é contrabalançado por Jeffrey Sachs, para quem o pacote de proteção ao aço editado pelo governo norte-americano "vai na direção errada".
Sachs fulmina também os subsídios, em especial à agricultura, que tanto os EUA como a União Européia dão a seus produtores rurais: "É uma vergonha, um incrível desperdício de dinheiro".
Outro especialista com dúvidas sobre a liberalização comercial nos países ricos é Mark Malloch Brown, administrador do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento): "A liberalização comercial é crítica [para o desenvolvimento], mas politicamente difícil", diz.
Leia mais no especial sobre Argentina
Brasil cobra ajuda imediata à Argentina
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Enviado especial da Folha de S.Paulo a Monterrey
O governo brasileiro aproveitou ontem a conferência internacional a que comparecerão, no total, 53 chefes de Estado/governo para cobrar que a ajuda externa à Argentina seja dada "agora", no dia em que o peso disparava.
A cobrança constou do discurso na sessão plenária da Conferência Internacional sobre Financiamento ao Desenvolvimento feito pelo embaixador Clodoaldo Hugueney, que está assumindo um cargo que, na prática, é o de negociador-chefe do Brasil para assuntos comerciais.
Hugueney começou por pedir "coerência" entre os aspectos monetários e financeiros, de um lado, e o comercial, do outro. Em relação aos primeiros, repetiu a tese em que o presidente Fernando Henrique Cardoso insiste desde a primeira posse: a necessidade de estabilidade nos fluxos de capitais para os países em desenvolvimento e de mecanismos para prevenir crises ou manejá-las adequadamente quando ocorrem.
É o caso da Argentina, o que permitiu a introdução do apelo por ajuda imediata. "O governo argentino tomou medidas e merece apoio", diz o embaixador.
Quanto ao comércio, Hugueney atacou o protecionismo dos países ricos, que, segundo ele, não só afeta os países em desenvolvimento como "dilui o apoio a medidas de liberalização comercial".
O embaixador rendeu, por fim, homenagem ao economista norte-americano James Tobin, Prêmio Nobel de Economia, morto recentemente. Tobin idealizou um imposto, batizado com seu nome, que seria cobrado em todas as transações com moedas que cruzem fronteiras (hoje, cerca de US$ 1,4 trilhão por dia).
A arrecadação serviria para financiar programas de combate à pobreza, mas a taxação seria uma maneira de inibir o movimento de capitais e sua volatilidade.
Ao criticar o protecionismo dos ricos, Hugueney está tocando no ponto que mais interessa ao Brasil na conferência. O comércio é, afinal, a principal fonte de financiamento externo para países de renda média, como o Brasil, que não recebem a ODA (Assistência Oficial ao Desenvolvimento, doações dos países desenvolvidos).
Um estudo do Banco Mundial, aliás, mostra que os países em desenvolvimento ganhariam US$ 130 bilhões, só com o incremento de suas exportações, se os países ricos eliminarem o protecionismo em áreas que afetam as nações em desenvolvimento.
Por isso mesmo, o economista norte-americano Jeffrey Sachs, recém-nomeado como assessor especial do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, diz que é preciso pôr o comércio na "tela do radar para que a agenda de Doha seja realmente a agenda do desenvolvimento". É uma alusão ao lançamento em Doha (Qatar), em novembro, de uma nova rodada de negociações comerciais.
Mike Moore, diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), responsável pela rodada, mostrou-se ontem otimista. "Estamos viajando muito bem", diz Moore, sobre os passos dados nos quatro meses após Doha.
Moore até exagera: diz que o Consenso de Monterrey, o documento final da conferência, "tem palavras muito fortes sobre comércio". Não é verdade. O texto apenas endossa as decisões de Doha e lista as barreiras comerciais dos países desenvolvidos.
"Quatro meses após Doha, não esperaria por nenhum novo avanço", conforma-se Moore.
Que o comércio é a alavanca mais poderosa para os países pobres ou de renda média, fica claro nas comparações de Moore: "Se a nova rodada for concluída satisfatoriamente, os ganhos para os países em desenvolvimento serão cinco vezes maiores que a ODA e oito vezes maiores que o alívio de suas dívidas externas".
O otimismo do diretor-geral da OMC é contrabalançado por Jeffrey Sachs, para quem o pacote de proteção ao aço editado pelo governo norte-americano "vai na direção errada".
Sachs fulmina também os subsídios, em especial à agricultura, que tanto os EUA como a União Européia dão a seus produtores rurais: "É uma vergonha, um incrível desperdício de dinheiro".
Outro especialista com dúvidas sobre a liberalização comercial nos países ricos é Mark Malloch Brown, administrador do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento): "A liberalização comercial é crítica [para o desenvolvimento], mas politicamente difícil", diz.
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