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01/04/2002 - 09h34

Novo sistema de pagamentos aumentará crédito, afirma Figueiredo

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ÉRICA FRAGA
ISABEL CAMPOS
da Folha de S.Paulo

Entra em vigor no próximo dia 22 o novo Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB). A partir dessa data, qualquer operação de transferência de recursos poderá ser feita automaticamente, em tempo real. Quem optar por usar o sistema não precisará, por exemplo, esperar um dia para ter um cheque compensado na sua conta bancária.

Segundo Luiz Fernando Figueiredo, diretor de política monetária do Banco Central, o SPB vai facilitar a vida de todo mundo -de bancos e empresas a pessoas físicas-, reduzir os custos das operações e aumentar a quantidade de crédito disponível.

No entanto, a desinformação da população brasileira sobre as mudanças que vêm por aí ainda é grande. Por isso, o BC está investindo R$ 1 milhão em uma campanha de esclarecimento da população, que será veiculada durante três dias antes de o novo sistema funcionar.

Além disso, o BC já admite prorrogar os prazos para que as empresas que movimentam mais de R$ 5.000 por operação financeira se adequem às mudanças. A princípio, elas teriam até agosto para se adaptar, e depois dessa data as transações de pagamento acima de R$ 5.000 que não fossem feitas pelo novo sistema eletrônico passariam a custar mais caro. Mas o BC poderá rever isso em meados do ano.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista de Figueiredo sobre o SPB concedida à Folha:

Folha - Quem vai se beneficiar do novo sistema de pagamentos?

Luiz Fernando Figueiredo - A lógica do novo sistema de pagamentos é a seguinte: quanto menos crédito você tem, mais você é beneficiado por ele. Eu costumo dizer que, com o SPB, você é mais dono do seu dinheiro.

Isso vale tanto para os bancos pequenos como para pessoas físicas. Por exemplo, quando uma pessoa recebe um cheque ou um DOC [documento de transferência de recursos], ela tem de pedir autorização ao gerente para usar aquele dinheiro antes de o depósito ser compensado.

Com o novo sistema de Transferência Eletrônica Direta (TED), o dinheiro é transferido imediatamente e, portanto, fica disponível em tempo real.

Essa história de que o dinheiro sai hoje da conta de uma pessoa e só chega na outra amanhã acabou. O sistema funcionará para qualquer pessoa, até para o banco pequeno.O banco pequeno passa a ter mais vantagens e facilidades para gerir os seus próprios negócios do que tinha antes.

Folha - Dá para mensurar qual será o impacto do SPB nos custos das transações financeiras?

Figueiredo - Daqui para a frente, toda a transação vai ficar mais barata. É uma mudança definitiva. Haverá um risco menor de não-pagamento em todo sistema.

No mercado de câmbio interbancário, por exemplo, o risco de crédito (de o pagamento não ser feito), que atualmente é de R$ 5 bilhões a R$ 6 bilhões por dia, vai a zero. Hoje, se eu comprei dólares de você, pago em real e fico esperando para receber meus dólares. Você corre o risco de eu não pagar. A partir do dia 22, os bancos só vão me entregar os dólares se eu antes tiver pago pela moeda estrangeira com reais e vice-versa.

Folha - Haverá redução de custos para as pessoas?

Figueiredo - Para uma pessoa física, por exemplo, os custos vão cair muito. Hoje, uma pessoa que vai comprar um carro, por exemplo, tem de ir ao banco, comprar um cheque administrativo, que custa caro, e depois ir à loja e fechar o negócio. Com o SPB, a operação é feita de forma automática. A pessoa transfere o dinheiro para a conta da loja e pronto.

Folha - Os spreads (diferença dos juros cobrados pelos bancos e aqueles pagos para os investidores da instituição) devem cair?

Figueiredo - Sim. A velocidade da circulação da moeda vai crescer. Hoje, se eu recebo um cheque e não tenho crédito com o banco, não posso usá-lo imediatamente. O SPB vai acabar com esse problema. Uma parcela da sociedade que não podia utilizar seu dinheiro com tanta rapidez agora vai poder fazer isso. Isso vai aumentar a liquidez e deve ter um efeito grande sobre os spreads.

Folha - Os altos custos de implantação do SPB não levarão a uma aceleração do processo de concentração do sistema bancário?

Figueiredo - O sistema financeiro tem hoje aproximadamente 154 bancos. Um volume grande desses bancos teve origem em corretoras, que passaram a ser bancos múltiplos com a intenção de alavancar seus negócios bancários. Muitos desses pequenos não conseguiram isso. Na prática, continuam atuando como corretora. Para eles, não tem sentido continuar. A tendência é que voltem a ser corretoras.

Folha - Teme-se que as empresas não consigam se adequar ao novo sistema. Elas terão de pagar mais para continuar operando pelos velhos sistemas de compensação?

Figueiredo - Uma pesquisa que a Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo] fez mostra que entre as empresas grandes, que serão as mais afetadas pelo SPB, 84% já estão adiantadas no processo de adaptação. As empresas que não se adaptarem vão sofrer um impacto, sim. Mas elas vão ter um tempo para se adequar até agosto.

Folha - O BC já começou a informar as empresas sobre as mudanças que virão com o SPB?

Figueiredo - Esse processo começou há cerca de um mês. Estamos preparando uma grande campanha de divulgação nos meios de comunicação, que está sendo feita pelo sistema financeiro e pelo BC, que deverá ir ao ar alguns dias antes de o sistema entrar em vigor.

Folha - Qual o cronograma de implementação do SPB?

Figueiredo - Num primeiro momento, não muda nada. Simplesmente haverá um novo instrumento disponível, que é a transferência eletrônica. A partir de agosto, o sistema começa a valer para as transações acima de R$ 5.000, os custos de cheques e DOCs começam a ser maiores e subirão aos poucos.

Folha - O prazo para as empresas se adaptarem ao novo sistema poderá ser prorrogado?

Figueiredo - Nós consideramos que esse tempo é suficiente. As empresas vão conseguir se adaptar e vão ter custos menores. Mas existe a possibilidade, sim, que as empresas não estejam adaptadas.

Se isso acontecer -e nós só vamos conseguir saber isso lá para junho ou julho-, nós estaremos dispostos a prorrogar o prazo de adaptação ao sistema.

 

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