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14/04/2002 - 21h25

Volta de Chávez na Venezuela pode provocar alta do petróleo

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CARLOS BRAZIL
Editor-assistente de Dinheiro da Folha Online

A volta de Hugo Chávez à Presidência da Venezuela, após dois dias afastado do poder em razão de um golpe militar que acabou fracassando, deve provocar uma retomada da alta dos preços internacionais do petróleo, justamente o contrário do que ocorreu na última sexta-feira, quando o valores do produto despencaram em razão do afastamento do presidente.

Chávez é apontado como uma importante liderança dos interesses da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), o cartel que controla cerca de dois terços do óleo negociado no mundo.

Em dezembro passado, a atuação de Chávez foi decisiva para que a Opep fechasse um acordo entre seus países-membros que levou à redução das vendas do bloco em 1,5 milhão de barris por dia pelo período de seis meses.

O rebaixamento da produção foi usado, com sucesso, para pressionar a alta dos preços do produto no mercado internacional.

Na última sexta-feira, após a deposição de Chávez por militares que colocaram na Presidência interina do país o líder empresarial Pedro Carmona, operadores do mercado de petróleo entenderam que a Venezuela poderia abandonar o cumprimento das cotas estabelecidas pela Opep, o que levaria a uma oferta maior de óleo e um retrocesso nos preços, por conseguinte.

Essa avaliação existiu apesar de afirmações do então governo interino de Carmona de que cumpriria os acertos fechados com cartel. A Venezuela é o quarto maior exportador de petróleo do mundo e produz 2,43 milhões de barris por dia.

Queda e ascensão
O petróleo fechou na sexta-feira na menor cotação desde o início de março. Em Nova York, o produto teve queda de 6,34%, cotado a US$ 23,50 o barril, o menor valor em seis semanas. Em Londres, o barril do tipo Brent caiu 2,55%, para US$ 24,40 o barril. Na semana anterior, havia batido no patamar dos US$ 28 o barril devido à crise no Oriente Médio.

Assim, com o retorno de Chávez e a provável reafirmação dos compromissos da Venezuela com a redução das vendas de petróleo, os preços do produto no mercado internacional devem avançar, caso não surjam novos fatores que desestabilizem o setor.

Neste domingo mesmo, informações não-oficiais davam conta de que a exportação de petróleo da Venezuela estava normalizada na maioria dos portos do país.

Os embarques venezuelanos haviam sido profundamente afetados em razão de uma paralisação de oito dias (até a última sexta-feira) de funcionários da estatal petroleira PDVSA, em protesto contra a nomeação por Chávez de parte da diretoria da empresa, considerada pelos empregados uma atitude política, e não técnica do presidente.

As manifestações foram um dos estopins do processo que levou à destituição de Chávez na semana passada, fazendo com que ele ficasse dois dias longe do poder. Novas manifestações no sábado, agora de apoio ao presidente eleito em 1999, fizeram que ele voltasse ao poder na madrugada deste domingo.

Chávez disse hoje que antes de sofrer o golpe que levou a seu afastamento do governo já havia aceitado a renúncia da diretoria da PDVSA, justamente os componentes que provocaram a instabilidade na empresa.

O presidente venezuelano disse que aceitou a renúncia para poder dar início à recomposição dos quadros gerenciais da empresa.

Outro fator que não deve dar folga aos preços do petróleo é a situação no Oriente Médio, que permanece indefinida, mesmo após os encontros individuais deste fim de semana do secretário de Estado dos EUA, Collin Powell, com o primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, e com o presidente da Autoridade Palestina, Iasser Arafat.

Não houve avanços significativos nas negociações. Por um lado, Sharon ainda não indica quando irá retirar suas tropas dos territórios palestinos, enquanto que Arafat afirma que a violência só terá fim após a saída dos militares israelenses dessas áreas.

Reflexos no Brasil
Apesar de, politicamente, o retorno de Chávez ter sido recebido com satisfação pelo governo brasileiro, sua volta pode representar um problema para a economia do país.

Caso o preço do petróleo volte a avançar, podem haver reflexos sobre o valor cobrado pelo litro da gasolina no Brasil, um dos principais 'combustíveis' da inflação no país. Na sexta-feira, com o recuo do petróleo, falava-se na possibilidade de a Petrobras baixar a gasolina. Agora, fica a expectativa sobre a nova tendência da commodity.

Os três aumentos da gasolina adotados pelas refinarias da Petrobras desde o início do mês passado (que totalizam 23,08%) pressionaram a inflação, levando o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, principal indicador adotado pelo governo como referência para as metas de inflação acertadas com o FMI) a fechar em 0,6% em março, nível acima das expectativas.

A pressão inflacionária pode levar o Banco Central (que define a política de juros com base no comportamento dos preços ao consumidor) a interromper a série de reduções da Selic (taxa básica de juros do país), atualmente em 18,5%, depois de duas reduções consecutivas, em fevereiro e março, de 0,25 ponto percentual cada.

Juros mantidos altos representam crédito restrito aos setores produtivos, o que gera limitações ao crescimento econômico.

O Copom (Comitê de Política Monetária), órgão que define a taxa básica dos juros, se reúne por dois dias, a partir desta terça-feira (16) para definir a nova tendência.

com agências internacionais

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