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29/04/2002 - 15h11

América do Sul ainda corre atrás no comércio mundial, mostra Unctad

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LUCIANA COELHO
da Folha Online

A falta de integração dos países sul-americanos à atual dinâmica do comércio global e o protecionismo foram os principais pontos levantados durante a apresentação hoje do Relatório da Unctad (Conferência da Organização das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento).

Segundo o secretário-geral do Unctad, o brasileiro Rubens Ricupero, os países da América do Sul têm em sua principal pauta de exportações apenas dois dos 20 produtos mais dinâmicos no comércio mundial: bebidas não-alcoólicas e tecidos de malha, ficando para trás no que diz respeito a produtos de tecnologia.

O relatório mostra que os países em desenvolvimento têm uma participação de 46% na comercialização de transistores e semicondutores -segundo o estudo, o mais dinâmico produto do comércio mundial- devido à maciça produção de países asiáticos, como Japão, Cingapura, Coréia do Sul e Malásia.

Já em produtos farmacêuticos, por exemplo, os países em desenvolvimento contribuem com apenas 8% dos negócios mundiais.

Ricupero alegou que a localização de países como o Brasil não privilegia os negócios com as maiores potências comerciais -como ocorre com o México, por exemplo, vizinho dos Estados Unidos.

Além disso, problemas com a infra-estrutura e o custo mais elevado de mão-de-obra especializada em comparação com outros países em desenvolvimento também seriam um empecilho à integração à "nova cadeia mundial de comércio''.

O secretário frisou a importância da pesquisa tecnológica para a consolidação da posição comercial brasileira, destacando ainda que o aumento da participação dos produtos industrializados e tecnológicos na pauta de exportações do país deve ser acompanhado de um crescimento do valor agregado de tais exportações.

Em um quadro preparado pelo Unctad, referente ao ano de 1998, mostrando os cinco maiores exportadores de cada um dos 20 produtos considerados mais dinâmicos no mercado, o Brasil não é citado uma única vez.
O país só aparece como maior exportador de preparados de fruta, com 11% do mercado internacional, no quadro referente às commodities mais comercializadas.

Protecionismo como solução

Para o professor Luciano Coutinho, da LCA Consultores, que participou da apresentação, o problema do comércio exterior brasileiro não é o volume de exportações em si, mas o valor desses produtos vendidos ao exterior.

Diante do atual cenário econômico mundial, onde a economia norte-americana, a maior do mundo, ainda se encontra fragilizada e, por conseqüência, interfere em toda a cadeia comercial, a saída para o Brasil seria também trabalhar com medidas protecionistas, como as que foram impostas pelos EUA em março sobre as importações de aço, que passaram a ser taxadas em até 30%.

Os economistas reunidos na apresentação ressaltaram também que o saldo positivo da balança comercial, que até o dia 28 de abril somava US$1,475 bilhão, não deve ser comemorado ainda.

"A melhora das contas externas brasileiras tem um componente estrutural, que é o câmbio favorável, mas ocorreu muito mais por fatores conjunturais, como o baixo crescimento econômico e a queda da demanda interna, que derrubaram as exportações'', afirmou o professor Antônio Corrêa de Lacerda, presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira das Empresas Transnacionais).

Para o professor da Fundação Getulio Vargas e assessor econômico do Partido dos Trabalhadores Guido Mantega, a balança comercial 'só cresceu pelo lado negativo''.

"O superávit comercial em 2002 só acontecerá porque o crescimento do Produto Interno Bruto será pífio", disse, acrescentando que o país deve buscar melhorar suas condições em acordos comerciais e recorrer com mais freqüência à mediação da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Lacerda, por sua vez, destacou que o déficit que o país possui nos setores de ponta é quase equivalente ao superávit acumulado pelo setor agrícola.

O presidente da Sobeet também alertou para a vulnerabilidade desta posição, já que os preços dos produtos básicos que o país produz são muito voláteis, enquanto a procura pelos produtos de ponta, nos quais o Brasil é deficitário, cresce ininterruptamente.

O contraponto ao estudo ficou a cargo do professor Juarez Rizzieri, da Fipe e da Ordem dos Economistas, que lamentou a concentração do relatório da Unctad em torno do comércio agrícola e industrial, excluindo os serviços. "Este tem sido o ponto das últimas rodadas comerciais, a área de serviços."

Segundo Rizzieri, o relatório também peca ao deixar de analisar o poder de negociação dos blocos comerciais e a situação dos países em desenvolvimento dentro deste contexto.

"O Brasil, por exemplo, fez uma parceria errada e está pagando um alto preço", afirmou o economista referindo-se ao Mercosul. "Isso pode se agravar ainda mais com a formação da Alca", completou, referindo-se à Área de Livre Comércio das Américas, cuja entrada em vigor está prevista para 2005.
 

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